Hello stranger, como vai você?
É sábado à noite e acabei de chegar em casa depois de comer um hambúrguer e falar bobagens com meus amigos Victor e Matheus. Tenho a impressão que toda semana surge uma nova hamburgueria em Uberlândia e nós temos esse dever moral e cívico de experimentar todos eles. O de hoje foi um dos melhores em muito tempo e fizemos tanta bagunça na hora de comer que acabamos com os guardanapos na mesa. Acho que a bagunça é sempre um indicativo de comida boa. Resolvi escrever pra você agora porque amanhã acho que não vou ter tempo e segunda-feira definitivamente não terei tempo. Querido leitor, estou indo para a Bahia!
Sei o que você deve estar pensando: O Segredo é real!!!! É MESMO! Vou tirar uma semana de mini-férias com minha família, uma viagem que vem sendo planejada e adiada desde dezembro do ano passado, e mesmo agora correu tantos riscos de não acontecer que acho que só vou acreditar que estamos indo quando o avião decolar. Mas as horas no trabalho já foram cumpridas, os textos foram entregues (ok, eu tenho que terminar um amanhã) e até um biquíni novo (e LINDO!) eu comprei. As malas ainda não estão fechadas porque isso seria muito out of character pra mim, mas se as coisas continuarem correndo bem e o país não implodir amanhã, segunda-feira às 4h07 da manhã vou estar correndo pela casa atrás de alguma coisa essencial que esqueci de guardar ou tentando secar um sapato no desespero usando o secador de cabelos (been there done that), pronta pra pegar o voo das cinco da manhã.
Caso você ainda não saiba, moro em Uberlândia, no interior de Minas Gerais, uma cidade grande com alma pequena, ou pequena com alma grande, ainda não consegui definir. O aeroporto daqui é bem pequeno, de tamanho e de alma, com voos diretos apenas pra São Paulo e Belo Horizonte. Se você vai pra qualquer outro lugar do país e não quer passar o dia inteiro viajando, pulando de aeroporto em aeroporto, você precisa pegar o voo das cinco da manhã - assim você só passa a manhã inteira viajando (se der sorte). É uma tragédia, mas ainda é melhor do que demorar oito horas pra chegar no Rio de Janeiro (been there done that).
A última vez que peguei o voo da cinco foi em janeiro e eu estava indo pra Curitiba - ou seja, indo pra São Paulo pra depois ir pra Curitiba. Janeiro de 2016 vai ser conhecido pra sempre por aqui como aquele janeiro em que choveu por 12 dias inteiros, quase sem parar. Foi a nossa Macondo particular. Minha viagem caiu em um desses 12 dias e lembro bem de que quando fui dormir na noite anterior estava chovendo MUITO, mas eu tinha esperanças que a chuva sossegasse até a hora do voo. Às 3h30, quando acordei, continuava chovendo. Quando cheguei no aeroporto, às 4h30, estava chovendo um pouco mais. Então arranjei um canto na sala de embarque, abri meu livro e fiz a única coisa que era possível fazer naquele momento: esperar.
O aeroporto daqui só tem uma sala de embarque, com quatro ou cinco portões distantes um do outro apenas por um ou dois passos. Todas as companhias oferecem o voo das cinco da manhã, e não havendo a menor condição de decolagem por causa das chuva você imagine só o CAOS que estava aquela sala de embarque, lotada de pessoas, todas elas precisando estar em algum lugar e logo, já que um atraso pra maioria delas (eu inclusa) poderia muito facilmente se transformar numa perda de conexão, e aí estava armado o desastre. Então, como você também deve imaginar, as pessoas estavam fazendo um ESCÂNDALO.
Lá fora, os raios e trovões não davam a mínima.
Essa foi minha primeira epifania do dia. Ali perto de mim uma mulher praticamente puxou uma das atendentes da Gol pelo braço e exigiu uma satisfação.
"Senhora, todos os voos estão atrasados por causa da chuva"
"Mas você tem alguma ideia de quando sai o voo pra São Paulo? Eu tenho uma reunião em Brasília às 14h!!!"
"Senhora, não é possível prever o horário de saída dos voos já que a cidade está sem teto pra decolagem por causa da chuva"
"Mas eu precis-"
"Senhora, está chovendo."
¯\_(ツ)_/¯
Sabe, longe de mim defender o atendimento da Gol (ou o de qualquer companhia aérea, pra ser bem sincera #amarga), mas nesse dia eu estava do lado da comissária. Estava chovendo. Chovendo horrores. A gente não conseguia enxergar os aviões estacionados no pátio logo ali na frente e aquela mulher realmente queria voar com aquele tempo. Isso me fez pensar (ou melhor, me fez lembrar) que a gente é quase nada.
Dominamos a natureza, controlamos o fogo, construímos prédios, iPhones, armas nucleares, descobrimos a penicilina, as vacinas e fomos longe o bastante pra botar um avião no céu, VOANDO, cheio de pessoas dentro (alguns aviões voam cheios de aviões, você já parou pra pensar nisso?), mas mesmo assim, às vezes, quando chove, não há nada que a gente possa fazer.
Precisamos ir e vir, estar em outros lugares, comparecer a reuniões muito importantes e abraçar a melhor amiga, mas às vezes está chovendo. É água caindo do céu e ninguém pensou numa solução pra isso (ainda bem). Está chovendo e agora só resta sentar e esperar. De vez em quando fico muito aliviada quando penso que não há solução para algumas coisas. Me serve um café que o mundo acabou, sabe assim?
¯\_(ツ)_/¯ ¯\_(ツ)_/¯ ¯\_(ツ)_/¯ ¯\_(ツ)_/¯ ¯\_(ツ)_/¯
Essa viagem ainda me rendeu outra epifania, não lembro agora se foi na ida ou na volta. Aeroportos sempre me deixam pensativa e é um lugar que nunca sei direito se amo ou se odeio, é meio que uma mistura dos dois. Fascínio e fadiga, encanto e pavor, conforto e hostilidade. Gosto das pessoas e seus pequenos rituais de viagem, das revistarias, da solidão compartilhada e da sensação de estar em lugar nenhum. Odeio o ar condicionado, os portões que sempre mudam de lugar, pagar trinta reais por um pão de queijo com café com leite, a solidão compartilhada, a sensação de estar em lugar nenhum e, sobretudo, as pessoas. Nunca as revistarias.
O negócio é que quanto mais você se acostuma a viajar, menos atenção você presta nas coisas boas. Elas simplesmente são engolidas pelas ruins. Pelo menos comigo é assim. Penso em voar e sinto um misto de preguiça, cansaço e medo, sentimentos que vem piorando tanto que ano passado optei por viajar 600 km de ônibus quando o preço do avião era dez reais mais barato. Pelo menos no ônibus eu consigo dormir.
Então nessa viagem lembro de estar sentindo meu habitual enfado aeronáutico: cansada, com fome, irritada com as crianças chorando, irritada com a falta de espaço pras minhas pernas e desesperada pra chegar logo em casa. Do meu lado, o casal pediu pra trocar meu lugar na janela pelo corredor, já que era a primeira viagem da moça. Aceitei, porque não sou um monstro, mas já estava arrependida porque a aeromoça conseguiu bater com o carrinho de lanche no meu ombro duas vezes. Alguns dias simplesmente não são o nosso dia.
Aí o avião decolou e a moça da janela teve um momento Augustus Waters:
Adoro viajar perto de pessoas que nunca voaram antes porque elas me dão alguma perspectiva, e às vezes isso é tudo que eu preciso. A moça da janela estava completamente FASCINADA, como tinha mesmo que estar. Como qualquer um ali tinha que estar. A gente estava voando, sabe? Realmente VOANDO. Eu passei todas as minhas aulas de aerodinâmica no ensino médio lendo gibis velhos da Turma da Mônica, de modo que sequer consigo começar a imaginar o equilíbrio de forças e cálculos que tornam possível um avião sair do chão, ganhar o céu e ir para LUGARES. Pra mim sempre vai ser bruxaria e talvez por isso eu continue me sentindo mais segura em ônibus, ainda que todo mundo saiba que as estradas são terrivelmente mais perigosas do que o céu.
Nós podemos ser insignificantes diante da imensidão do universo, poeira das estrelas, uns bostinhas de nada diante do infinito, do desconhecido, de Deus e de todas as tempestades que não podemos controlar, mas mesmo assim pessoas comuns conseguiram se unir e raciocinar pra fazer um tubo gigante de metal lotado de turbinas, mais metal, pessoas, malas e até mesmo outros tubos gigantes de metal cheio de turbinas ir parar NO CÉU. Na porra do céu. Voando e indo pra lugares, pro lugar que a gente quiser, indo e vindo, cruzando o país e oceanos, nos levando para reuniões importantes e abraços de melhores amigas distantes. Se dermos sorte, podemos ir até parar na Bahia (sorria!). Nunca vou me acostumar com isso. Espero nunca me acostumar com isso. Não posso me acostumar com isso.
Às vezes, a gente só precisa de perspectiva. Ladies and gentlemen, we're floating in space.
Disco da Semana
Red, da Taylor Swift. Sim, de novo. Porque quarta-feira foi um dia difícil e eu estava cansada, preocupada e ainda por cima peguei o ônibus no sentido errado na hora de ir pra aula de francês. Mas em vez de descer no próximo ponto, resolvi percorrer a linha inteira ali mesmo, ainda que isso significasse chegar uns dez minutos atrasada. O ônibus estava vazio, coloquei o Red pra tocar e sabe quando você escuta exatamente aquilo que você quer ou precisa escutar? Pois é. E à medida que eu ia ouvindo aquelas músicas, ia ficando feliz, feliz, feliz, uma felicidade quase de graça, contemplativa, e não confirmo nem nego que quando estava sozinha no banco de trás dei uma performada porque, sei lá, era o que a Taylor Swift faria.
Descendo de ônibus encontrei um golden retriever na calçada, todo pimpão com seu dono, que me deixou fazer carinho na cabeça dele, e mais perto do curso encontrei um husky (amo huskies!!!) TÃO FOFO e mansinho que até me deixou dar um abracinho nele quando agachei pra conversamos. Acho que nunca fui tão feliz num trajeto cotidiano. Nessa hora tocava Holy Ground.
Agora que a donzela liberou o clipe pro Youtube, podemos comentar: New Romantics, o clipe. Amamos? Odiamos? Esperei bastante por ele, então não pude evitar a decepção imediata ao ver que era um clipe da tour 1989, oferecendo pouca novidade pra quem já assistiu o show (três vezes, and counting). Queria uma historinha, queria migas, queria o 22 da era 1989, mas ao mesmo tempo gosto da ideia de ser um vídeo dedicado aos fãs. Ele melhora bastante quando a gente pensa que é quase uma licença poética para pensarmos no nosso clipe particular de New Romantics, uma música que pelo menos pra mim é MUITO especial e cheia de significados (eu ando numa boa vontade sem tamanho com a Taylor Swift). O meu New Romantics envolve Rio de Janeiro, festa na piscina, churrasco, leite ninho, pinga e um dos melhores fins de semana de todos. E o seu?
Nessa semana auspiciosamente swiftica, nossa melhor amiga famosa saiu na capa da Vogue de cabelo platinado, fazendo a roqueira futurista modela internacional. Ela tá BEM diferente, e eu sou tão bestinha que antes de pensar se está bonita ou não e qual é a do platinado ou a desse corte de modo geral só consigo ficar encantada com a capacidade da Taylor Swift de MUDAR, se reinventar e não ter vergonha de ir pela primeira vez em locais nunca explorados. Dá pra ler online a matéria de capa, um perfil feito nos dias que ela voltou para sua cidade natal na Pennsylvania pra ser madrinha de casamento de sua melhor amiga de infância. O conteúdo é bem textbook Taylor Swift: planos para a era pós-1989 (não ter planos, aprender primeiros-socorros e fazer bons drinks), memórias mágicas de infância (ela morava numa fazenda de árvores de Natal!), namoro e Kanye West, mas gostei especialmente da parte que diz que Taylor Swift, assim como Don Draper, bebe Old Fashioned. Taí uma coisa que não esperava dela.
A era 1989 está oficialmente encerrada. Tanto que já temos um novo paradigma de estilo (e todo mundo sabe que qualquer era na vida da Taylor Swift começa no closet): Taylor Swift GÓTICA. Isso me dá uma felicidade besta e especial porque se um dia eu estava imitando a Taylor Swift, agora posso oficialmente dizer que ela está ME imitando. Simplesmente não consigo parar de olhar suas últimas fotos no Instagram (sério, so fucking cool). Miga, por favor, devolve minhas botas!!!
Leituras
- Terminei hoje de ler Carry On da Rainbow Rowell, e talvez eu esteja me precipitando aqui mas não consigo pensar em outra palavra pra defini-lo que não PERFEITO. O livro é uma espécie de spin-off de Fangirl, com os personagens da saga fantástica pela qual a personagem principal era obcecada (e sobre a qual escrevia fanfics). No início pensei que Carry On seria uma metafanfic (e fanfic da fanfic da Cath?) ou simplesmente uma fanfiction de Harry Potter disfarçada, e é meio que isso, mas também algo completamente diferente. No final, a Rainbow explica que quis escrever não apenas a sua versão da história do Simon Snow, mas também a sua versão da história desse tipo de personagem *escolhido*, quase messiânico que existe aos montes na literatura. Isso é MUITO legal e torna a história completamente independente de Fangirl. O livro é 0% sério, realmente zoeiro (os feitiços têm nomes de músicas, tipo U Can't Touch It ou bordões como Have a Break Have a Kit Kat), debochado e MUITO engraçado, mas os personagens são incríveis, apaixonantes e a mitologia, embora não muito original, é bem legal também. E os feels. MEU DEUS OS FEELS. Acho que li o capítulo 61 (e os que vieram depois) pelo menos umas cinco vezes e em todas meu estômago deu cambalhotinhas de sentimentos. O melhor de tudo é que na minha cabeça Simon e Baz são o Harry e o Zayn (sim) e a descrição realmente bate, o que deixa a leitura infinitamente mais interessante (na minha cabeça escuto a Penelope com a voz da Mindy Kaling, mas não consegui pensar em um rosto definido pra ela).
Pra completar, a edição é REALMENTE linda. Foi só por causa dela que comprei o livro, porque confesso que em Fangirl eu cheguei a pular várias partes do Simon Snow. Comprar livro pela capa funciona, viu?
- Ainda não sei qual livro vou levar pra ler na praia e realmente levo a sério a escolha de um livro pra viagem. Tem que ter a vibe certa, sabe? Você tem alguma coisa pra me recomendar? Estou atrás de um livro envolvente, de preferência grande, não necessariamente leve, mas que combine com o clima praia-preguiça-rede-caipirinhas e que seja de fácil ace$$o pelo Kindle.
- Outra coisa que li essa semana foram os recaps de Raven Cycle escritos pela própria Maggie Stiefvater lá no Recaptains, site que descobri graças à recomendação de uma das nossas coleguinhas de recreio (obrigada!). Aliás, fucei bastante os arquivos do Tumblr da Maggie também e o que alguns podem chamar de obsessão pessoal eu prefiro entender como ANSIEDADE. Ela está participando da contagem regressiva pra The Raven King que é tipo um longo meme em que cada post ela fala sobre seus personagens favoritos, melhor momento de romance, melhor momento de mágica. Enfim. Maggie. Corvinhos. Maravilhosidades. Obsessões pessoais.
- O Guardian fez um rastreamento em todos os comentários postados no site de 2006 até hoje e a conclusão foi que, dentre os comentários bloqueados por conta de conteúdo abusivo, 8 em cada 10 foram postados em textos assinados por mulheres. A matéria completa é realmente boa, assustadora e deprimente, mas os gráficos são lindões.
'Imagine going to work every day and walking through a gauntlet of 100 people saying "You're stupid", "You're terrible", "You suck", "I can't believe you get paid for this". It's a terrible way to go to work'
- Graças à Conjuntura Política Atual™ o trenzinho Carreta Furacão voltou a estourar na internet e na vida, e só essa semana li a reportagem incrível que o Risca Faca fez sobre eles ano passado.
- Essa semana teve Dia do Beijo e eu comemorei revendo o beijo da Rachel McAdams no Ryan Gosling no VMA de 2005 (!!!) e depois, de novo, em Diário de Uma Paixão. Isso me fez pensar nos meus beijos favoritos no cinema e me deixou com vontade de fazer uma PESQUISA. Querido leitor, faça um favor à DataLetter e responda: qual seu beijo de cinema favorito? O resultado sairá em uma edição do futuro.
- Nesse fim de semana está acontecendo o Coachella, festival de música e gente moderna, porém QUEM SE IMPORTA com Coachella quando temos o Corgchella???? O festival reuniu mais de 600 corgis (repito: SEISCENTOS CORGIS) numa praia da California. Alguns foram fantasiados, outros de biquíni para o concurso corgikini. I can't even--
Ufa, agora acabou!
Semana que vem não teremos cartinha, já que estarei viajando e nem sei como funcionará o acesso a internet por lá. Sempre que possível estarei dando gritos no vácuo lá no Twitter e exibindo minha forma flácida e branquela no Instagram. Então boa semana e bom feriados pra todo mundo, e se o mundo (ou o Brasil) acabar peço que me deixem na Bahia pra sempre. Em algum momento enquanto estiver boiando no mar ou tomando um negocinho deitada na rede prometo que pensarei em vocês.
Stay beautiful!
Yours truly,
Anna Vitória