Hello stranger, como vai você?
Lembra quando eu disse que maio é o meu mês favorito? Então. Maio é meu mês favorito por causa do outono, do sol, do céu, mas principalmente porque é um mês em que acontecem coisas. Tem sido assim nos últimos três ou quatro anos e nunca sei exatamente quando, onde ou como maio vai me atingir, mas sei que ele vai. Dessa vez começou no dia 04 (lógico).
As coisas, ó pavão misterioso, elas acontecem. Maio é tipo o sétimo episódio dos seriados, aquele em que os roteiristas decidem que é hora de fazer a história andar e tocam o puteiro com os personagens. A midseason da vigésima segunda temporada dessa sitcom dramática que é a minha vida veio para acabar com os boatos de cancelamento prematuro e também para calar a boca dos fãs entediados. Pesquisas com a audiência revelaram que o espectador estava insatisfeito com a trama ("Não tem nada acontecendo", disse Clotilde, 31; "Essa menina só chora, prefiro Game of Thrones", confessou Josias, 17, indignado; "Cadê o romance?", questionou Clarissa, 15; "Você vai sair assim???", disse a minha mãe), de modo que os showrunners resolveram que era hora de agir.
É por isso que ando meio sumida & misteriosa na vida e na internet, mas agora vou tentar recapitular um pouco do que aconteceu em maio:
PREVIOUSLY ON ~A EXCITANTE VIDA DE ANNA VITÓRIA ROCHA~
(música de abertura, como de costume)
A primeira coisa que meu avô quase morreu, mas, por um milagre - e a primeira pessoa a usar a palavra milagre foi o médico, não eu -, ele não morreu. Duas semanas depois meu outro avô sofreu um acidente bem feio de carro onde ele poderia muito facilmente ter morrido, mas também não morreu. Outro milagre e um clima de verdadeiro horror aqui em casa. Sei que isso significa que tenho muitos motivos para estar grata, infinitamente grata, e eu estou, mas mas muitos aspectos da minha vida têm se sustentado à base de milagres nos últimos tempos e isso também é muito cansativo, como uma maratona emocional. Meus cabelos começaram a cair - tanto, tanto, tanto cabelo caindo que achei melhor procurar um médico. Logo eu, que odeio médicos. A saúde vai bem, mas os meus cabelos... continuo sentindo uma necessidade ridícula de varrer todos os lugares por onde passo.
Então comecei a fazer terapia, que é algo que eu queria (e precisava) há bastante tempo, mas precisei quase ficar careca para ir atrás. É difícil ter alguma impressão tão cedo, mas a psicóloga disse que eu carrego muita coisa nos ombros e que viver é um fardo pesado mesmo. Nessa hora eu até dei uma risada. Aliás, passei a sessão inteira rindo-chorando: ri do divã (onde eu não deitei), ri quando ela me entregou discretamente uma caixa de lenços logo que comecei a chorar, o que levou aproximadamente 10 minutos. Eu disse que costumava fazer piada dos meus problemas, mas que isso não fazia as crises de ansiedade menos reais. Passei a mão no cabelo pra tirar alguns fios soltos e nós rimos. Chorei um pouco mais.
Dia 8 me inscrevi pra um processo seletivo, no dia 12 fiz a primeira prova, dia 18 descobri que tinha passado, dia 23 estava em São Paulo, fui aprovada no dia 25, e a partir do próximo dia 6 serei oficialmente trainee da Folha de São Paulo! Em São Paulo! Por cinco semanas! Eu não faço a menor ideia do que estou fazendo!!!!
Peço encarecidamente que você não revire os olhos ou pense em algo como malditos plutocratas!!!!, mas lembre-se que sou uma jovem jornalista do interior que precisa desesperadamente de contatos e exxxperiência. Essa é uma boa notícia e estou muito feliz e nada surtada. São Paulo, YAY! Mantendo meu ritmo, terei anedotas semanais sobre como tomei chuva ou me perdi depois de ter pegar o ônibus errado numa cidade enorme. Se tudo der errado, pelo menos a newsletter vai bombar.
Mas falando sério, eu fiquei bem feliz. Não sei se foi a terapia, minha conversa com a ~coach~ (gente, eu conversei com uma ~coach~), ou se morri e fui substituída por uma Anna Vitória confiante e serena, mas aconteceu. Eu fui essa pessoa assertiva, segura e certa do quer. Agora preciso pedir demissão e espero conseguir sustentar essa fachada de gente bem resolvida até lá. Isso vai ser engraçado.
Outra coisa engraçada foram esses dias em São Paulo. Parece que eu saí de casa no sábado pra entrar em um universo paralelo, do qual só estou saindo lentamente agora, um universo paralelo em que as coisas dão certo, tudo é bom, e feliz and nothing hurts. Culpo mercúrio, que finalmente resolveu girar pro lado certo. Às vezes a astrologinha é uma ciência tão exata que assusta. Observe esse desencadeamento de fatos:
Começou com o hotel.
Gente, o hotel. Vivo de acordo com uma filosofia de torcer pelo melhor, mas sempre me preparar para o pior, então eu estava preparada para ser colocada num buraco qualquer no meio de uma cracolândia, e nas minhas melhores previsões eu ganharia duas diárias no Ibis Budget - e seria lindo, lindo mesmo. Só que numa virada completamente inesperada dos eventos, me instalaram no Itaim Bibi. Num hotel chique. Um hotel chique de verdade. E se você está pensando "nossa que menina deslumbrada", você tá totalmente certo. Eu sou completamente deslumbrada, e deslumbrada fiquei quando o concierge perguntou se eu gostaria que alguém subisse pra desfazer minhas malas.
Recusei polidamente - primeiro porque eu não tinha dinheiro e segundo porque, no fundo, sou jacu e morro de medo de ser roubada - mas achei a ideia fascinante mesmo assim.
O quarto era na verdade um apartamentinho com sala, cozinha, banheiro de mármore e a melhor cama que já dormi na vida. Minha roommate só chegaria no dia seguinte, então pude tomar um banho quente com calma e desfilar com um roupão branco, pesado e fofinho enquanto desfazia eu mesma as minhas malas ao som de Taylor Swift. A vida nunca mesmo tinha sido tão ruim e tão boa ao mesmo tempo.
Aí teve o café da manhã. No folheto de informações não tinha nenhuma informação a respeito do horário em que seria servido o café da manhã, só que o restaurante ficava aberto das 6h30 às 21h. Além disso só tinha um menu com alguns serviços pra pedir no quarto, todos pagos a parte, todos muito caros. Respirei fundo. Desci casualmente até o restaurante para tentar entender como as coisas funcionavam, e uma moça muito fofa logo veio dizer que minha estadia incluía um café continental. Isso quer dizer que em seguida me trouxeram um prato de frutas e um suco de laranja. E depois uma cesta de pães (com croissants, geleias e pão de queijo quente), um monte de frios e um pedaço de bolo. Eu só queria um chá mate, mas pude escolher entre dezenas (mesmo) de sabores e cores de chás importados. Ainda poderia pedir ovos e tapioca, mas faltou espaço. Até agora não sei como isso aconteceu.
O dia no jornal foi surpreendentemente divertido. Eu tinha passado os dias anteriores morrendo de medo daquele momento, mas na hora me senti completamente à vontade. Gostei do espaço, das pessoas e das atividades que tivemos que fazer, e saí de lá satisfeita. Se não desse certo seria como um trabalho de campo fora de época. Acabei passando o dia inteiro complemente incomunicável, e quando pude ligar o celular vi que a Milena tinha me mandado uma mensagem logo cedo desejando não boa sorte ou qualquer coisa do tipo, mas sim que eu me divertisse. Funcionou.
Logo em seguida recebi uma mensagem da moça da Folha, pedindo pra que eu ligasse lá. Eu tinha sido chamada pra uma entrevista no dia seguinte.
Aí eu entrei no Twitter e vi que o Wilco tinha anunciado show no Brasil e os ingressos já estavam à venda.
Tudo isso num intervalo de cinco minutos, literalmente cinco minutos, talvez os cinco minutos com maior concentração de felicidade e surpresa que eu já vivi.
Antes de continuar a história, uma pausa necessária
IS WILCO COMING TO BRASIL? YES.
WILCO ESTÁ VINDO PRO BRASIL!
Eu não sei se você tem noção da dimensão disso, então deixa eu explicar. A única vez que o Wilco veio pro Brasil foi há dez anos, num único show no Rio de Janeiro. Eu não conhecia eles ainda, mas mesmo se conhecesse não estaria lá porque teria doze anos de idade. Desde então a banda já lançou quatro discos, saiu em sei lá quantas turnês, e nada de passar pelo Brasil. A vinda do Wilco ao Brasil está pro mundo do rock de pai assim como a vinda da Taylor Swift ao Brasil está pro mundo do pop, com a diferença que o Wilco é uma banda cara, tem menos público e eu literalmente comecei a juntar dinheiro pra ir vê-los em outro país só porque me parecia mais razoável ir até os Estados Unidos para vê-los tocando do que esperar eles chegarem até aqui.
A coisa mudou um pouco de figura quando, há alguns meses, eles anunciaram um show na Argentina. Além de ser na Argentina, que é logo ali, o show está marcado pra outubro, mesma época do Popload, festival que total tem o perfil do Wilco. Minhas antenas ficaram ligadas e imediatamente fiquei obcecada por essa ideia.
No dia 14 de maio, isso aconteceu:
No domingo, já em São Paulo, contei desse episódio pro Pedro. A gente estava justamente fazendo planos bem reais de ir pra Argentina - bem mais perto que Massachusetts, onde acontece o Solid Sound, convenhamos - e eu disse pra ele esperar mais um pouco pra comprar a passagem porque - e nessa hora eu segurei dramaticamente nos meus peitos, pra ver se ele pegava a referência - eu estava sentindo que tinha uns 40% de chance do Wilco já estar confirmado no Brasil.
Menos de 24 horas depois não apenas o show foi confirmado como eu estava com um ingresso pra pista premium no meu e-mail. Eu também não faço a menor ideia de como isso aconteceu. O Segredo é real.
Demorou aproximadamente quatro minutos entre a hora que eu soube da notícia e a confirmação da compra, e eu passei alguns minutos encarando aquele ingresso tentando entender o que tinha acontecido. Tremendo. Só depois fui ligar pro meu pai pra contar que eu tinha comprado no cartão dele, já que o meu não tinha limite (não sou uma pessoa de verdade) e eu precisava comprar naquele minuto porque é minha banda favorita e ahhh!!!!! Eu até saí no Popload por causa deles!!!
Meu pai disse que todas as bandas são minhas bandas favoritas, o que é um pouco verdade, mas o Wilco é a mais favorita de todas e eu vou vê-los e outubro e eu já chorei ouvindo Pot Kettle Black e outubro está simplesmente longe demais!!!!!!!!!!!!!!!!!
Fim da pausa necessária
A terceira mensagem gloriosa que recebi naquela noite de segunda foi novamente de minha amiga Milena, dessa vez dizendo que estava saindo do trabalho e ia me encontrar no hotel. Nós jantamos juntas num bistrô francês romântico à luz de velas e falamos todas as crises do mundo enquanto a trilha sonora do local acompanhava o teor da conversa. Tocou Someone Like You quando lamentávamos nossas carreiras criativas falidas e We Are The World numa história de superação de homem babaca. Eu comi creme brulée fazendo muita festa pra quebrar a casquinha, dei deliciosas gargalhadas e ainda pude compartilhar com Mimi minhas teorias sobre as músicas novas do Last Shadow Puppets. Eu recitei Sweet Dreams, TN pra ela e depois nós fizemos um jogral com os versos mais doloridos de Love is a Laserquest.
Uma sugestão que dou pra vida é que você aí do outro lado também desista dos homens e invista nas amigas.
Para completar a aleatoriedade maravilhosa do dia, recebi um e-mail confirmando a entrevista pro dia seguinte e dividi uma cerveja com minha colega de quarto, que não tinha sido chamada pra entrevista no dia seguinte. Comemoramos meu sucesso e o fato de ela ter um ótimo emprego e não precisar disso. Rimos bastante e ela me deu uma Scientific American que tinha trazido pra ler na viagem pra me dar boa sorte. Ela também falou que eu deveria abrir o Baby Chandon que estava na geladeira, mas achei melhor não.
No dia seguinte disse adeus ao chuveiro divino, ao roupão fofinho e à cama maravilhosa, tomei o último meu último café da manhã continental, e fui pra entrevista. E foi tudo bem, rápido e indolor. Logo eu estava com o mapinha do metrô na mão para ir encontrar a Lorena pra almoçarmos juntas. Conhecer pessoalmente amigas da internet já foi motivo pra muita euforia e nunca vou esquecer do primeiro encontrão mafioso e de como eu não conseguia parar de olhar as meninas, porque, meu Deus, elas eram reais, estavam ali e era como se eu estivesse vendo as fotos de perfil delas em movimento, falando na minha frente e pulando em mim sem parar (essa era a Analu). Hoje sinto que as dimensões on e offline da minha vida já estão fundidas de tal forma uma na outra que encontrar pessoalmente pela primeira vez alguém com quem eu converso na internet quase todos os dias não é mais tão extraordinário, mas simplesmente natural. Isso não significa que é menos incrível, mas sim que é certo. Tipo, como assim a gente nunca se viu antes?
Como eu só ia embora à noite e já tinha feito check-out no hotel, a Lore me salvou de uma tarde andando sozinha e sem rumo pela Paulista e me levou pra conhecer a USP e a Odhara. Nós passamos a tarde jogadas no chão rindo, compartilhando crises e falando mal dos outros, o que até me deu saudades da minha graduação (que acabou ontem, mas já parece que foi em outra vida), que se resumiu a longas tardes estirada num corredor rindo, chorando e reclamando dos outros. Foi uma tarde feliz, e teve até bolo!
Para completar, como se já não estivesse suficientemente claro que a vida estava dando certo, topei com a Lidy atravessando a rua, no maior estilo Closer porém sem a tragédia. Quais as chances de se encontrar uma amiga às seis e meia da tarde no meio da avenida Paulista? Acontecem coisas.
Tenho um pouco de medo de falar sobre coisas boas e correr o risco de azará-las, mas vou dizer mesmo assim. Estou com uma sensação boa com relação às próximas semanas e acho que São Paulo vai cuidar bem de mim. É engraçado pensar que essa oportunidade surgiu bem quando eu desencanei da cidade, quando eu resolvi que não queria mais trabalhar em redação. Só que eu passei tanto tempo querendo isso - e quando eu digo muito tempo estou falando da época do ensino médio - que só posso acreditar que alguém escutou. Meio tarde, mas escutou. Então devo agradecer: a Deus, ao universo, ao mercúrio, à lua cheia e ao mês de maio, e também ao jornal, pela hospedagem maravilhosa, e ao Gabriel, o concierge bacana que guardou minhas malas até à noite e me deixou usar o banheiro, carregar meu celular e esperar ali até a hora de embora sem em momento nenhum fazer eu me sentir inadequada (ou suja, pobre e cansada, como eu realmente estava).
Agora vamos aguardar os próximos capítulos e torcer pra eu não fazer nada muito idiota que estrague tudo.
Hoje não tem links e nem nada do tipo; como eu disse, estou voltando aos poucos daquele universo paralelo, muito gripada e planejando uma mudança temporária. O texto de hoje foi só para dar um alô e um sinal de vida aos três leitores preocupados com o meu paradeiro, mas espero que semana que vem eu consiga voltar ao ritmo normal.
Como recompensa por chegar até aqui, deixo você com a única imagem que importa: Harry Styles de farda e cabelo curto - porque eu também não via sentido no fetiche de homem fardado até olhar essa imagem.
Um bom resto de feriado, é o que ela quer dizer. O futuro promete, é o que queremos acreditar.
Stay beautiful!
Yours truly,
Anna Vitória
p.s.: eu contei que vou no show do Wilco????