Disclaimer: este não é mais um texto sobre violência.
Hello stranger, como vai você?
Eu estive cansada. Todas as mulheres em mim estão cansadas.
Comecei a escrever a newsletter da semana no domingo, inspirada pela conversa que tive com a minha mãe enquanto tomávamos café da manhã. A gente estava, claro, falando sobre o caso do estupro coletivo no Rio de Janeiro e sua repercussão no Facebook, e eu estava, claro, cuspindo meus marimbondos de estimação. Isso porque ela perguntou se eu acreditava mesmo que a garota tinha sido estuprada por 33 caras, e bastou isso pra que eu começasse a falar em 33 rotações diferentes sobre a importância de se acreditar nas mulheres, sobre culpa da vítima, sobre relativizar um crime, sobre Totalmente Demais e Laços de Família, sobre, enfim, a cultura do estupro. E uma das coisas que mais me faz amar minha mãe é que ela me ouve. Ela realmente me ouve, pensa, traz suas ideias pra discutir comigo depois e leva nossas conversas para o trabalho, com suas amigas. Por causa disso, ela disse que tudo que eu estava falando era muito interessante, mas que era algo claro só pra mim, porque eu vivo nesse meio problematizador, estudo essas coisas, etc. "Filha, as pessoas não estão pensando no discurso subjetivo da cena quando assistem a novela, elas reparam se a atriz está bem, querem saber o que vai acontecer depois, mas acaba por aí", ela disse.
Então eu resolvi escrever sobre isso, sobre a forma como eu observava a cultura do estupro se manifestar nas pequenas coisas, sobre como ela se inseria na minha vida às vezes de forma tão orgânica que parecia até natural quando, na verdade, é tudo menos que isso. Mas aí quando terminei fiquei pensando em qual era o propósito de enviar o texto aqui, pra você, como edição da newsletter. Digo isso primeiro porque mais de 90% das pessoas que assinam a newsletter é mulher, e acho que as mulheres não precisam ser lembradas dessas coisas novamente. Além disso, mulheres ou não, sei que muitas das pessoas que me leem fazem parte dessa bolha - porque sim, é uma bolha - de gente que discute e problematiza o cotidiano, a cultura, as novelas, e se não discute pelo menos pensa sobre isso e acompanha essas conversas. Vocês podem não concordar com tudo que eu escrevo, mas se não estamos sempre na mesma página (que bom!), estamos pelo menos lendo o mesmo livro. Ou visitando a mesma seção na biblioteca. Daí, de novo, qual o propósito? Meu feed está há mais de uma semana tomado por textões, problematizações, depoimentos e links sobre a cultura do estupro; cerca de 80% dos meus amigos mudou a fotinha de perfil para o símbolo da luta, e enquanto isso no perfil da minha mãe eu fui a única a falar sobre isso, e uma das duas pessoas com foto diferente.
Por isso resolvi postar meu texto no Medium - logo eu, que sempre impliquei com o Medium por achar que tudo lá soa mais pretensioso, coisa que continuo achando -, para que minha mãe pudesse ler e mandar pros seus amigos, criando uma conversa sobre o tema em outros ambientes. Acho que não é hora de falar para convertidos, e pode até parecer vaidade, mas é minha forma de contribuir. Meu feminismo é pra esse tipo de coisa. O textão está lá (Do que eu falo quando eu falo em cultura do estupro, que depois foi publicado na Revista Trendr) caso você queira ler e compartilhar, mas agora chega. Faz muito tempo que tenho sido consumida por esses assuntos, não só os casos recentes de violência, mas a Conjuntura Política Atual™ e toda a desesperança e fragilidade que dela deriva. Escrever esse texto drenou todo o resto de energia que tinha para pensar nisso, de modo que a partir de agora vou falar de coisas boas. Preciso seguir adiante.
Antes, vou deixar aqui algumas das melhores leituras que passaram pela minha timeline sobre o tema, caso você ainda não tenha conseguido abandonar esse vórtice de indignação:
"Escolhendo a verdade das mulheres", por Teresa Soter: esse texto é a resposta definitiva para todas as pessoas que insistem em questionar e relativizar o depoimento da garota vítima do estupro ou de qualquer mulher que denuncia algum tipo de violência - e a melhor (ou pior) parte é que ele foi escrito mais de um mês antes do ocorrido, o que só prova que esse tipo de reação não é isolada, mas sim a forma como a sociedade trata esses casos;
"A universidade tem responsabilidade pela cultura do estupro", por Taís Bravo: não faz muito tempo que não sou mais estudante universitária e ainda me lembro bem de como o machismo opera, em maior ou menor grau, nesses ambientes; trabalhando na assessoria de uma universidade bem na época que dois casos de estupro vieram a público, também pude observar como casos do tipo são tratados internamente, e não é bonito (fica aqui o lembrete pra mim e pra você de assistir The Hunting Ground, sobre o abuso sexual nas universidades americanas);
"Carta do EXTRA aos leitores que não viram um estupro no estupro", do Jornal EXTRA: um sinal bem desesperador do estado periclitante da imprensa tradicional é ver que um veículo que sempre foi considerado sensacionalista ter uma das coberturas mais lúcidas a respeito do caso e ser um dos poucos (o único?) a se dirigir ao público que insiste em relativizar o crime com base em machismo e outros preconceitos de classe (a mão de escrever um projeto de mestrado chega a tremer!!!!!);
"Como silenciamos o estupro", por Karin Hueck, Nana Queiroz, Laura Folgueira e Priscila Bellini: é do ano passado, mas vale a pena reler essa reportagem enorme que foi capa da Superinteressante falando sobre o estupro de forma bem completa, contemplando vários pontos importantes, como o silenciamento do crime, a ineficiência do sistema penal para tratar dele, as relações de poder que envolvem o estupro, a forma como ele se manifesta na história, Mad Men, etc, etc, etc;
"A cultura do estupro e o 'machistério' de Temer", por Renata Gonçalves: análise muito bacana que relaciona a cultura do estupro que vivemos no Brasil com a falta de representatividade do nosso novo governo do presidente em exorcismo;
"Johnny Depp's bros weigh in", por Rachel Handler: uma análise sobre a repercussão da denúncia da Amber Heard em Hollywood, focada principalmente em como membros da indústria reagiram a ela e, novamente, a importância de se acreditar nas mulheres;
"My father, Woody Allen, and the danger of questions unasked", por Ronan Farrow: porque no fundo tudo faz parte de uma mesma história, de uma mesma cultura, e nesse texto o Ronan Farrow fala coisas importantes (e tristes) sobre, de novo, como a indústria trata relatos de abuso quando o acusado é um homem famoso e de prestígio;
"33 motivos para lutar", por Bárbara Gondar: porque não estamos sozinhas, e eu preciso terminar essa linkagem numa nota mais otimista;
Escrevi essa newsletter inteira ontem, quarta, no computador da firma, e salvei nos rascunhos. Só faltavam as imagens, que deixei pra subir em casa. Quando abri o site, LÓGICO, o texto desapareceu. Chorei? Quase. Usei isso como desculpa pra pedir uma pizza, abrir uma garrafa de vinho e encerrar a noite? Óbvio. A parte boa disso é que posso incluir aqui a repercussão das manifestações de mulheres que aconteceram ontem pelo Brasil. Foi tão lindo que acho que a última vez que quis tanto estar em algum lugar foi quando o Justin Timberlake apareceu no show da Taylor Swift.
"Cinco mil protestam contra o machismo e o estupro na Paulista", por Fabiana Cambricoli e Fábio Grellet: péssimo título porém ótima cobertura do Estadão sobre o ato em São Paulo, alfinetando inclusive a PM e os comentários machistas dos homens que ficaram olhando ao redor (olha um mestrado aí gente!!!!!!!!!!!!!!);
"5000 women take to the streets to demand an end to Brazil's 'culture of rape'", por Julian Robinson: a manifestação saiu no Daily Mail com lindas fotos!
She's Beautiful When She's Angry
Como falei, ler, pensar e escrever sobre esse caso me esgotou completamente. Eu estava triste, sem esperanças, me sentindo vulnerável de um jeito ruim, e com raiva. Muita raiva. Para mudar um pouco a frequência, comecei a assistir Broad City, seguindo recomendações de várias amigas e da internet inteira e já estou na segunda temporada, completamente obcecada por Abbi e Ilana, minhas novas melhores amigas. Na segunda resolvi assistir She's Beautiful When She's Angry, que entrou na Netflix há pouco tempo, e foi exatamente a dose de inspiração e força que eu precisava para começar a semana renovada.
O documentário, produzido e dirigido pela Mary Dore, conta a história da explosão do feminismo nos anos 60 e 70 nos Estados Unidos, desencadeando aquilo que a gente chama de segunda onda do movimento. O filme intercala vídeos de manifestações, congressos e reuniões feministas da época com depoimentos atuais das mulheres que estavam lá, dando nome e história para aquelas fotos maravilhosas em preto e branco que a gente vê dos protestos antigos. É incrível vê-las hoje, com a cabeça branquinha, contando como foram capazes de fazer aquilo e como hoje a vida das suas filhas é tão melhor e diferente graças ao que elas construíram e lutaram. Tudo começou quando elas começaram a conversar entre si sobre suas questões, quando Betty Friedan publicou A Mística Feminina falando abertamente sobre o vazio em que viviam as mulheres belas, recatadas e do lar da classe média, mulheres que resolveram se unir para lutar pra que a vida fosse um pouco mais. É muito lindo mesmo. Eu chorei horrores.
Apesar de ter só uma hora e meia, o documentário consegue passar por todos os pontos-chave que marcaram o movimento (e que infelizmente a gente discute até hoje) e é realmente ótimo se você chegou agora nesse rolê e quer ter uma visão básica das coisas: mercado de trabalho, liberação sexual, aborto, creches, estupro, padrões de beleza, mulheres negras, mulheres lésbicas e a importância da interseccionalidade. No final ele ainda fala um pouco sobre o retrocesso de direitos e costumes que o país viveu nos anos 80 (para mais sobre isso, leiam Backlash!) e chega rapidinho nos dias atuais, com a Marcha das Vadias e o ativismo virtual. Chorei de novo.
Três coisas que vi, amei, e fiquei pensando enquanto assistia She's Beautiful When She's Angry:
1) A história do protesto que aconteceu no Miss America, com feministas infiltradas na plateia do concurso, responsáveis por desenrolar uma bandeira do Women's Liberation, exibindo o movimento pela primeira vez em rede nacional na televisão americana. Parece pouco, mas nos anos 60 isso era muito, isso era tudo.
Eu acho que é muito importante ter uma perspectiva sobre os fatos. Eu não nasci num mundo perfeito, mas nasci tendo garantidos os direitos de votar, trabalhar fora, escolher ou não casar e ter filhos. Rola uma discriminação velada sempre que alguma mulher decide fugir, muito ou pouco, da norma? Sim, mas a gente continua tendo esses direitos e meu pai não vai me mandar para um internato na Suíça se eu decidir não me casar. Já aquelas mulheres simplesmente não tinham escolha a não ser casar e ter filhos, o destino era ser mulher-mãe-dona-de-casa. A não ser que elas fossem pobres, porque aí além de mulher-mãe-dona-de-casa elas seriam também funcionárias num emprego de miséria, já que às mulheres só sobravam os serviços precarizados com os piores salários e as piores condições. Então assim: ainda tá ruim, a guerra não está ganha, mas me deixa feliz poder olhar pra trás e ver o quanto avançamos.
Ninguém precisou se infiltrar no VMA para ouvirmos a palavra do feminismo. A Beyoncé, principal vencedora da noite, colocou o movimento no telão pra todo mundo ver - e ainda deu espaço para uma escritora negra explicar pra todo mundo a definição básica do que é ser feminista. Eu nunca vou superar o VMA de 2014 e seus infinitos simbolismos.
2) Se eu não me engano, é da Simone de Beauvoir a frase "as mulheres não dizem nós", fazendo uma referência à dificuldade que as mulheres têm de se unir como classe, e que isso também é uma consequência do machismo que vivemos, que se não nos rivaliza sempre, não faz nada pra nos unir. E aí uma coisa bonita demais é ver como a sementinha de todas as insurgências femininas é quando mulheres conseguem romper esse ciclo e agir em conjunto, e quase tudo começa com conversas. Foi assim nos EUA, no Brasil, está sendo assim na internet, com blogs e grupos de discussão no Facebook, e eu percebo diariamente na minha vida como a oportunidade de compartilhar minha vida com grupos de mulheres me faz crescer e fortalecer como mulher e feminista.
O documentário mostra várias dessas uniões e uma que me marcou muito foi a do grupo responsável pelo livro Our Bodies, Ourselves, uma publicação que surgiu de uma conversa em que um grupo de mulheres percebeu que não sabia nada sobre o próprio corpo e como ele funcionava - numa época em que todos os médicos eram homens e só contribuíam para engrossar o ciclo de desinformação. Então elas começaram a falar sobre suas dúvidas e compartilhar aquilo que sabiam, ter aulas e aprender sobre tudo mesmo, da anatomia da própria vagina até aborto e métodos de contracepção. Elas então se dividiram nas áreas que sabiam mais para escrever uma cartilha, produzida inicialmente de forma rudimentar, e que hoje, mais de 40 anos depois, é um livro que já foi publicado em mais de 30 línguas e adaptado para diferentes realidades e culturas.
Isso me lembrou um papo sobre sexo que tive há alguns meses com minhas amigas, uma daquelas conversas que deixam a gente com vontade de emoldurar as falas na parede, de tão maravilhosa, sincera, divertida e INFORMATIVA que foi, provocando mudanças bem reais e palpáveis na vida de todas nós. Me senti muito privilegiada de ter essa oportunidade de poder ser honesta com relação aos meus medos e meu corpo, sem vergonha ou medo algum de ser julgada. Depois nos perguntamos: "por que a gente nunca teve essa conversa antes?".
Tudo que você precisa pra começar uma revolução feminista é de uma amiga. Tenham migas e conversem com elas.
muito maravilhosas!!!
3) Quando o filme vai se aproximando do fim e começa a falar de questões atuais, o tom não é muito otimista. Na verdade, várias mulheres se dizem desanimadas. Desanimadas, gente, aquelas mulheres que viveram num mundo em que mulher direita não trabalhava fora, sabe? No entanto, ao mesmo tempo, uma delas diz que a raiva é um bom sinal. Ela fala que enquanto sentirmos raiva das coisas ruins que estamos vivendo, teremos motivação pra tomar uma atitude e mudar as coisas. Isso me consola e fortalece, porque eu tenho muito medo da minha raiva um dia se transformar num ressentimento paralisante. Daí eu lembrei de Modern Girl, do Sleater-Kinney, uma das minhas músicas favoritas no mundo, em que a Carrie Brownstein diz que a raiva faz dela uma garota moderna (i'm so sick of this brave new world), mas a fome também faz. Espero que minha raiva seja sempre catalisadora de uma fome por fazer mudanças.
Aí outra ativista (devia ter anotado o nome delas) diz que nunca duvida quando ouve alguém dizer que quer mudar o mundo, porque ela viu o mundo mudar e fez parte dessa mudança. <3 Aí eu comecei a chorar MAIS UMA VEZ.
my baby loves me, I’m so hungry
hunger makes me a modern girl
took my money and bought a donut
the hole’s the size of the entire world
salt.
Esse é um poema da Nayyirah Waheed, e eu queria poder dizer um pouco mais sobre quem ela é, mas não consegui encontrar coisa alguma sobre ela na internet (!). Já tinha visto alguns dos seus poemas curtinhos e fortes como citações soltas no Tumblr e no Instagram, mas graças à indicação da Isadora (também conhecida como noiva do ano), baixei seus dois livros, salt. e nejma, de graça pro Kindle, no site da Amazon mesmo. Queria ter conseguido escrever a newsletter a tempo de dar essa dica pra você, mas você ainda consegue eles por R$3,59 e é melhor que um cafezinho.
Já disse aqui que não sou muito de ler poesia (muito mais por culpa da minha falta de empenho do que dos poemas), mas os versos dela foram diferentes de qualquer outra coisa que já li na vida. São poemas curtos, simples, às vezes de uma frase só, tudo escrito em minúscula com títulos ótimos e poderosos. Li os dois livros durante essa semana, várias vezes, e nenhuma delas foi igual a anterior. Nunca vi alguém conseguir colocar tanto sentimento e força em tão poucas palavras. Seus poemas são versos de resistência e coragem, e ela fala como mulher negra num mundo que não foi feito pra ela, mas onde ela se recusa a pedir desculpas por existir e ocupar espaço. O sal, que aparece no título de um dos livros e em vários dos poemas, está ali porque desde sempre usamos o sal para conservar a carne em condições adversas, e sinto que as coisas que a Nayyirah escreve cumprem a mesma função, tanto na sua vida como pra quem lê. Ela fala bastante da diáspora africana e como cada pedaço seu sente o vazio da terra que abandonou, como se ela sentisse concentrado em si todo o sofrimento de todas as pessoas que já sofreram por causa da cor da pele, e o sal a preserva inteira.
Sal, mel, mar, lua, flores e estrelas são elementos que aparecem em quase todos os textos, e acho que são essas palavras bonitas (e seus símbolos) que fazem com que coisas tão fortes sejam ao mesmo tempo tão delicadas. Aliás, foi isso que realmente mexeu comigo no trabalho dela: a delicadeza. Porque eu tenho muito medo de ficar tão cheia das merdas desse mudo que endureça por dentro, mas felizmente encontrei Nayyirah Waheed no meio do caminho pra me derreter inteira.
flower work
is
not easy.
remaining
soft in fire
takes
time.
Eu grifei praticamente os dois livros inteiros e sou incapaz de escolher só um dos textos pra ilustrar isso aqui. Agora eu tenho um poema da Nayyirah Waheed pra cada momento da minha vida, então espere bastante dela por aqui daqui pra frente. E, por favor, conheça o trabalho dessa mulher. A Warsan Shire, cujos versos aparecem no Lemonade, e a Yrsa Daley-Ward, autora de bone (que também está baratinho na Amazon e eu já comprei), seguem essa mesma linha de poemas minimalistas e fortes e acho que temos muito que conhecê-las de perto. Avisei.
Disco da Semana
Everything You've Come To Expect, do The Last Shadow Puppets. Já faz alguns meses que venho falando umas migalhas sobre esse disco, esses clipes e esses meninos, mas finalmente peguei o álbum pra ouvir com seriedade, porque eu sou uma pessoa muito séria, e a crítica séria acaba aqui. Não tenho como dar uma opinião séria e embasada sobre o disco (sugiro a da Pitchfork, que também está divertida) porque estou por demais envolvida em toda a vibe dele. O jeito como cada disco bate na gente vai muito do momento e eu estou muito nesse momento Last Shadow Puppets, Alex Turner, ouvindo Arctic Monkeys como nunca e amando esse groove meio James Bond, meio máfia italiana, meio Morricone misterioso e sensual que o Alex e o Miles têm adotado. A gente está na mesma frequência, então eu amei o disco.
Desde o lançamento de Miracle Aligner gasto uma porção razoável do meu dia assistindo vídeos de apresentações desses dois ao vivo, uma mais sem vergonha e melhor que a outra. Acho que atingimos peak Alex Turner nos palcos, porque ele nunca dançou tanto, ele nunca se jogou tanto no chão, ele nunca rebolou com tanta vontade e também nunca cantou tão bem. Dá orgulho de ver. Eu preciso ver esse menino ao vivo de novo, agora com Miles e bem mais de perto, porque eu e Gabriela Couth passamos tempo demais sonhando com as lascívias que queremos gritar pra eles.
Acho que Alex e Miles são a única cura para minha heterofobia cada dia mais atacada. Eles são os héteros mais héteros e menos héteros que eu já vi em ação. Poderia escrever um doutorado sobre a masculinidade flutuante deles, tem sido glorioso acompanhar. Não parem nunca.
Músicas favoritas (com link pras melhores apresentações ao vivo): Everything You've Come To Expect (+ clipe maravilhoso), Miracle Aligner, Sweet Dreams, TN (ESSA MÚSICA, ESSE VÍDEO), The Dream Synopsis (contém Alex Turner deitado no palco, meu tipo favorito de Alex Turner, que inclusive já presenciei ao vivo, glória a Deus).
++ bônus tracks: I Want You (She's So Heavy) e Meeting Place (níveis insuportáveis de romance).
A caixa de comentários dos vídeos do Last Shadow Puppets é a internet em que eu quero viver.
Links, links, links
Hoje faz um mês que lançamos o Valkirias, aquele site lindo e legal, pra falar um pouco mais de cultura pop na internet. E cara, eu até assustei quando me liguei que faz só um mês que o site está no ar, porque parece que ele sempre esteve ali, num trabalho que já faz tão parte do meu dia que eu não lembro mais como era antes dele. A resposta do ~público~ também foi extraordinária e eu juro, mesmo, que jamais imaginava chegar onde estamos num único mês. Então se você já conhece o site e faz parte dessa pequena história, obrigada. Mesmo, mesmo.
Para comemorar, vou compartilhar aqui meus textos favoritos nesse mês que passou, aí se você ainda não conhece nossa menina te indico boas diretrizes de por onde começar: Mad (Wo)man; Por que amamos Nirvana e odiamos Hole?; Full House, Fuller House e o que é engraçado e porque não deveria ser; O amor é livre (e o choro também); Por que Lemonade é um álbum tão importante?, Mesa redonda sobre Guerra Civil, A força de Game of Thrones está nas mulheres; Brooklyn: para além do triângulo amoroso e Kardashians, uma história.
Já saíram três textos meus por lá (e mais adiante!): sobre Raven Cycle (duuhhh), sobre Livre e a importância de mulheres diretoras, e o de hoje, sobre Clarice Falcão e a problemática das cantoras fofas.
Nós estamos abrindo uma seleção para colaboradoras fixas do site, então se você tiver interesse em participar dessa aventura, clica aqui e manda um texto pra gente! E mesmo se você não tiver disponibilidade/vontade de colaborar todo mês, mas quer enviar um texto ou sugestão de pauta, nossa página de colaborações tá sempre aberta. Pronto! Editora mode: off
Ufa, agora acabou!
Sabe, é uma experiência muito louca escrever sobre a própria vida na internet, dividir com todo tipo de estranho (e eu falo estranho aqui de um jeito carinhoso e de um jeito estranho também) coisas do meu cotidiano, conquistas e derrotas, sentimentos meus. Não dá pra saber como isso vai chegar do outro lado, e sendo eu uma pessoa introvertida e naturalmente reservada (eu sei, não parece), sempre que falo demais de mim fico com medo, acho que exagerei. Mas aí acontece o que aconteceu na última semana, que é tanto amor e acolhimento chegando na minha caixa de entrada através de vocês que toda loucura é justificada e eu lembro por que eu faço isso. Recebi muitas mensagens de alegria e empolgação, e também muitas (MUITAS!) ofertas de companhia, amor e sofá em São Paulo, a maioria de gente que só me conhece através da newsletter.
Se eu nunca tivesse lido Amanda Palmer na vida diria que vocês são todos uns loucos. Isso é inagradecível, não existem animais de sapato o suficiente pra retribuir - mas eu procurei essa ovelha negra com muito carinho pra tentar mesmo assim.
Obrigada.
Stay beautiful!
Yours truly,
Anna Vitória