Hello stranger, como vai você?
Eu sobrevivi à minha primeira semana em São Paulo.
puta vista
Passo todos os dias pelo cruzamento entre a Ipiranga e a Avenida São João e todos os dias penso que o Caetano realmente deveria gostar muito daqui pra todas aquelas coisas acontecerem no seu coração justo naquele lugar. Não estou falando mal do centro - nem ouso, já que eu mesma estou cada dia mais apegada - é só que é um lugar normal. Lembro da primeira vez que vi o encontro de plaquinhas, há alguns anos, e pensei, decepcionada: então é isso? É, é isso.
O Copan está logo ali e dá pra ver o Banespão lá na frente. Eu escreveria uma música sobre eles. Quanto ao cruzamento da Ipiranga com a Avenida São João, identifico o lugar porque é ali que viro a direita pra voltar pra casa. ~Casa~.
Minha casa agora é um quarto de hotel, o que pode parecer estranho para alguns, mas é meio que a realização da minha fantasia de criança que assistiu Eloise no Plaza muitas e muitas vezes. Não estou mais no hotel chique do Itam-Bibi e ainda que sinta saudades todos os dias daquela cama e do café da manhã continental, acho muito mais legal estar aqui perto de tudo e de todos podendo ir e voltar do trainee a pé. O hotel que estou agora é antigo e um pouco decadente, meu espaço se resume a um quarto e um banheiro, mas ainda é uma cama de hotel, com lençóis branquinhos de hotel, com chuveiro de hotel, banheira e café da manhã. Não é o quarto rosa da Eloise, aqui sequer tem um pug (ou um poodle) pra ser meu sidekick, mas acho que semana que vem já vou me sentir a vontade o bastante pra comprar um poster do One Direction e pendurar perto da minha cama. Eu ia fazer isso logo na primeira semana, mas fui intimidada pela presença invisível de Tatiana, a camareira responsável pelo meu quarto - uma pessoa que nunca vi, mas com quem me comunico por bilhetinhos e tenho certeza que é maravilhosa.
Minha mãe estava viajando na minha última semana em Uberlândia, então fiquei sozinha com Francisco. Na sexta, antes dela chegar, fui fazer aquela faxina completa na casa, como se eu tivesse mesmo varrido e limpado tudo todos os dias. Enquanto fazia isso, só pensava que ia passar cinco semanas sem lavar louça, cinco semanas sem limpar xixi e cocô de cachorro, cinco semanas sem passar pano, cinco semanas inteirinhas sem torcer um pano molhado cheio de produto de limpeza. Acho que essa é a melhor parte de morar num hotel. A pior é que eu realmente sinto falta de ter uma cozinha e acho meio chato não poder tomar café de pijama, principalmente com esse frio.
Gente, o frio. Sempre acreditei que fosse uma pessoa que gosta de frio, e eu até gosto, mas é do frio de Uberlândia, em que o inverno dura umas duas semanas e a temperatura nunca é menor que 15ºC. Tem também o meu processo de carioquização, que definitivamente mudou minha relação com o clima e me transformou numa pessoa que fica mais feliz quando tem um solzinho. Não estou falando necessariamente de calor, mas daquele solzinho que te permite andar na rua sem que seu rosto inteiro comece a doer por causa do frio e do vento. De qualquer forma, acho que ninguém ia gostar do frio que faz quando a temperatura bate os 6ºC às 9 da noite e você está voltando a pé pra casa depois de passar quase 12 horas a serviço da empresa Folha da Manhã.
Não estou reclamando, só queria ter lembrado de trazer o meu gorro e meu lindo casaco vermelho de neve, que comprei quando fui pra Curitiba no inverno e pensei que nunca mais fosse usá-lo de novo, a não ser que voltasse para Curitiba no inverno ou fosse, sei lá, pra neve. Nesse fim de semana vai fazer 2ºC no outono de São Paulo e estou rindo bastante, porém morta por dentro. Nem é como se eu fosse trabalhar no sábado, sabe? HA.
Hoje cruzei a Ipiranga com a Avenida São João soltando ar pela boca pra ver a fumacinha branca saindo. Dias bons.
And if you like causing trouble up in hotel rooms
Outras considerações sobre morar num hotel que não soube como encaixar no texto:
Não tem nada a ver com hotel, mas é que não aguento mais lembrar de todas as roupas que esqueci de trazer e sentir vontade de usá-las. Cada dia é uma peça diferente e uma dor real. Com os livros, a mesma coisa. Faz quase três anos que tenho os livros da Virginia Woolf e nem sequer cogitei tirar algum da estante, mas é claro que queria ler algum deles agora;
A internet daqui é horrível, realmente horrível, nível internet discada, mas está frio demais pra cogitar ir pra um café aqui perto ou até mesmo a recepção, onde o sinal é um pouco melhor. Sinto mais falta do wi-fi do que do fogão, da máquina de lavar e aquele meu vestido jeans que até agora eu não acredito que deixei pra trás;
Eu amo meus pais, mas no ranking de saudades Francisco, o poodle, e vovó estão disparados na frente. Ontem ficamos uns 50 minutos no telefone e quase chorei quando ouvi sua voz - de vovó, não de Francisco, ainda que minha mãe tenha me colocado no viva-voz pra falar com ele (que cagou baldes, pois rancorosérrimo);
Hoje tomei um banho de banheira que durou uma hora e meia; uma hora e meia sublimando na água quente enquanto ouvia música, a melhor hora e meia da minha semana (e foi uma boa semana) #living #the #dream;
Aqui na rua todos os cachorros usam roupinha #living #the #dream
Recomendações que meu pai me fez no dia em que eu saí de casa:
Não ficar trancada o dia inteiro no quarto de hotel;
Não viver demais la vida loca (ué);
Ter cuidado com meus documentos, minha bolsa, e meu copo de bebida (esqueci a carteira em casa um dia desses e foi engraçado);
Evitar DSTs e gravidez na adolescência (essa ele só falou por telefone) (umas três vezes);
Não me vestir feito adolescente (????????????????????????????????????);
Aí no domingo, dia em que cheguei aqui, tirei essa foto e mandei pra ele. A ideia (do Pedro, não minha) é toda semana enviar uma foto dessas, que vai piorando gradativamente. Se na primeira apareço tomando um choppinho, na última estarei dividindo um copo de catuaba com um usuário de crack, usando meia arrastão, cinto de rebite e camiseta de banda, enquanto minha bolsa aparece jogada no fundo, na calçada, e um cachorro mastiga meu RG e meu cartão de crédito. Prometo compartilhar os resultados.
Folhetim
Estar na Folha é muito legal. Mesmo. Muito muito legal. Quanto não tô morrendo de medo ou sentindo que sou a pessoa mais burra do mundo, fico fascinada, principalmente porque agora tenho crachá, acesso liberado a internet e descobri qual é o lugar mais legal pra comprar café e um lanchinho da tarde (eu precisava falar sobre o bolo de pote de morango com chocolate branco que comi hoje pois ele é minha nova razão de existir). Outra coisa ótima é poder pegar o jornal de graça todos os dias.
Uma das coisas mais legais que fizemos foi participar das reuniões de pauta, porque eles falam umas coisas engraçadas tipo "ai, qual vai ser o Neymar do Dia?". É bem loko ouvir tipo "temos que falar com a assessoria do Temer" e ver a discussão da cobertura das eleições americanas porque uau, jornalismo muito muito sério. A melhor parte foi pegar o jornal do dia seguinte e ver como tudo aquilo que foi debatido e negociado na reunião se transformou em notícia impressa. Curiosamente, nesse mesmo dia tivemos uma aula que a tarefa era selecionar textos bons e ruins naquela edição, e é bem diferente fazer isso quando você sabe um pouco sobre o processo que fez parte da produção da matéria.
O que mais? Estamos em contato direto com a Sabine Righetti, uma jornalista que é intensamente maravilhosa e que já decidi que quero ser igual quando crescer. Além de ter feito umas coisas bem fodas, ela conta as melhores histórias. Leiam tudo que ela publicar. A Sylvia Colombo está viajando, e a mesa dela é lotada de livros maravilhosos e enormes. O Antonio Prata não frequenta a redação (acho que já passei dessa fase, mas achei importante registrar).
O prédio da Folha na verdade são dois prédios, e um se conecta com o outro através de umas escadas misteriosas e confusas que parecem as escadarias de Hogwarts. Se eu já fiquei perdida lá? Duas vezes. No mesmo dia. Logo depois de me explicarem o caminho certo. Aí subi e desci uns quatro lances de escada, achei que fosse morrer, e tive que voltar pro lugar do começo e pedir pra mesma pessoa me explicar de novo o caminho, o que fez com que as pessoas ao redor rissem bastante. #eu
Por último, Luisa e Lucas, meus colegas de turma. Quando digo que acredito muito em encontros, é disso que eu tô falando. Conheço a Luisa da internet desde 2008, pouco antes de eu entrar no ensino médio (!!!). Como ela passou a maior parte desse tempo entre São Luís, Floripa e o Chile, foi só ano passado que nos encontramos pessoalmente, aqui em São Paulo mesmo. E agora, olha só que coisa, somos coleguinhas de sala - e todo mundo acha curiosíssimo a gente se conhecer há tanto tempo com base em posts no blog e muitas e muitas horas mantendo em movimento a locomotiva do site do Twitter. Já o Lucas foi meu veterano na faculdade, mas se formou no ano que entrei. A gente foi começar a conversar mesmo pela internet (de novo o Twitter) e ele disse uma vez que se fôssemos da mesma sala íamos conversar a aula inteira, que só não é o que tá acontecendo agora porque somos muito sérios e Whatsapp tá aí pra isso. E não, nada disso foi combinado.
Encontros, gente. A vida é muito doida.
Músicas da Semana
Estou sem tempo até pra ouvir música, então vou deixar aqui duas músicas que não saíram da minha cabeça nos últimos dias: A primeira, You Don't Have To Say You Love Me, toca no final do primeiro episódio da quinta temporada de Mad Men, que assisti esses dias, numa versão linda de morrer da Dusty Springfield. A música original é italiana, mas a gravação mais famosa é na voz do Elvis. Eu fico com a Dusty, ainda que esteja numa fase Elvis Presley (!).
É dele a segunda música, Are You Lonesome Tonight?, que é linda por si só, mas aqui ela aparece na melhor gravação do mundo. O Elvis era muito bem humorado e às vezes mudava a letra das suas músicas. Numa apresentação em Vegas, em vez de cantar "do you gaze at your doorstep and picture me there?" ele disse "do you gaze at your bald hair and wished you had hair?". Só esse trocadilho bestíssimo já seria maravilhoso, mas aí um homem na plateia de repente tirou a peruca e exibiu sua careca, fazendo o Elvis cair na risada, e a gargalhada dele é a melhor do mundo. Ele não consegue mais cantar de tanto rir, e enquanto isso sua backing vocal, ninguém menos que a mãe da Whitney Houston, segura a música lindamente acompanhando a melodia com a voz.
A Norah Jones fez uma versão linda dessa música, mas não tem pra ninguém diante do Elvis e sua risada deliciosa.
Links, links, links
Então, eu realmente não estou passando muito tempo na internet e tem sido difícil ler a timeline do Twitter. Eu não faço a menor ideia do que as pessoas estão conversando por lá, quiçá o que as pessoas estão conversando na internet. MAS:
- Essa semana saiu texto meu no Valkirias: uma defesa apaixonada das comédias românticas, cujo título é meio autoexplicativo e mesmo assim preciso dizer o quanto eu adorei escrevê-lo. Sem querer ser editora chata e babona porém sendo, essa semana promovemos a Semana do Amor no site, com diferentes angulações sobre o mesmo tema. Os textos estão incríveis e vocês deveriam ler todos, hihi.
- Outro texto que saiu essa semana lá na Pólen (hoje!) e eu simplesmente amei escrever foi esse relato de como tem sido reassistir Laços de Família 16 anos depois da primeira exibição. O tema do mês na Pólen é família e eu tenho certeza também que os textos estão incríveis só de ler o título, mas o único que consegui ler mesmo foi o da Sofia, sobre pais ausentes e disfuncionais dos personagens de TV: Onde estão os pais?
- Recebi a surpresa gostosa de ver essa newslettinha indicada na lista de recomendações da Juju Gomes, a quem agradeço e retribuo a recomendação com toda a sinceridade. Obrigada, Juju <3 E aos que chegaram aqui através dela: olá olá, e desculpa qualquer coisa.
- Pra encerrar, estou meio que lendo o livro da Jout Jout (já disse que não estou lendo nada além de jornal, um milhão de páginas de jornal?) e desde que comecei esse trecho não sai da minha cabeça:
A gente tem essa impressão às vezes de que tem uma hora que a gente vai crescer. Tipo um dia, com hora marcada na agenda. Sexta que vem eu cresço. Quando na verdade a gente já cresceu faz tempo, mas é tão insuportável crescer, que a gente fica jogando lá para a frente.
E é com essa que me retiro, uma carta curtinha cheia de observações irrelevantes só pra dizer como estou. Poochi, a cabra, a cabra das cabras, deseja a você um fim de semana gelado porém quentinho (?):
Stay beautiful!
Yours truly,
Anna Vitória