Hello stranger, como vai você?
É um pouco estranho usar o singular habitual para me referir a você aí do outro lado. Passei a semana inteira sendo lembrada através de notificações na minha caixa de entrada que, na real, somos muitos. Nunca pensei que tanta gente fosse querer sentar na minha mesa do recreio depois dos 20 -- até porque mesmo antes deles minha quebrada não era exatamente disputada. Foi graças à maravilhosa Aline Valek, que colocou essa newslettinha na sua Central de Newsletters - e, consequentemente, no mapa nacional da newsletter -, que um monte de gente nova apareceu. Espero não decepcionar vocês.
(Meu Deus!!! Socorro!!! OI GENTE!!!!!)
Para quem caiu aqui de paraquedas e não me conhece, eu sou a Anna (@loveology_x lá no Twitter, não me perguntem), grande entusiasta de animais de roupinha e profundas análises sociológicas de coisas aparentemente banais - como as tatuagens do Harry Styles e a vida amorosa da Taylor Swift. Sou jornalista, tenho um blog platônico, sou uma das Valkirias, e atualmente faço um treinamento na área de ciência e saúde em um jornalão paulistano. Moro num quarto de hotel, me perco sempre que saio sozinha, não recuso um café com bolo (ou uma taça de vinho) e já não sei mais como é não sentir frio nas mãos. Acho que é basicamente isso que vocês precisam saber.
A newsletter não possui linha editorial definida, então espere de tudo: fragmentos desinteressantes do meu cotidiano, análises sociológicas mais ou menos sérias, feminismos, jornalismos, e um pequeno apanhado de coisas que estou lendo, ouvindo, assistindo e achando legal nessa internet velha sem porteira. Peço desculpas antecipadas pela bagunça.
Quero aproveitar esse momento pra confessar que, apesar do que está escrito na página inicial, eu não bebo Coca-Cola há um tempo (se a gente não contar o domingo passado, mas é que tinha pizza, me ofereceram e foi tão sonoro o barulho da latinha abrindo que não pude resistir).
Festa do interior
(na capital)
Depois da terceira semana consecutiva que o sábado terminou em vinho quente e show de forró na cidade de São Paulo, decidi que era hora de falar sobre a quermesse.
Eu sempre adorei festa junina. Mesmo. Sempre. É minha época comemorativa preferida do ano depois da Páscoa, simplesmente festa junina e tudo que há de milho. Apesar disso, nunca fui uma pessoa de quermesses.
Em Uberlândia tem essa quermesse super tradicional que eu tento ir todo ano desde os longínquos tempos do ensino fundamental. Eu e Matheus passamos as semanas que antecedem a festa junina pensando nela. Porque vai ser ótimo. Porque a gente vai comer muito. Porque vai ter maçã do amor, caldo, vinho quente e até macarrão. Pipoca. Boate Azul tocando ao fundo e as mesmas pessoas de sempre, todos os núcleos da nossa vida naquela praça pra gente relembrar antigas histórias e ver como está e por onde anda aquele povo que era da nossa sala e a gente não acredita que continue amigo, embora com a gente seja exatamente a mesma coisa. A gente combina. A gente estabelece ESTRATÉGIAS. A gente jura que vai ser perfeito.
Então a gente vai e é horrível.
Matheus Fernandes e eu na quermesse somos Paris e Rory descobrindo que o spring break foi uma péssima ideia
Isso porque, independente das nossas estratégias, quando a gente chega lá já está cheio. Muito cheio. A praça fica num bairro bem residencial e é rodeada de prédios, então antes mesmo das barraquinhas estarem completamente montadas as pessoas já ocuparam todas as mesas e cadeiras. Nunca tem estacionamento e uma fila se mistura com a outra de um jeito que você pode ficar 40 minutos parado em um lugar até descobrir que estava esse tempo todo na fila pro macarrão quando na verdade nem as fichas você comprou. É muita gente e o som é sempre bem mais alto do que nas nossas lembranças do ano anterior. Nunca tem espaço pra dar uma encostadinha e comer em paz, e quando aparece uma ou outra cadeira vazia logo descobre-se que elas estão vazias porque ali é onde as crianças estão correndo, apavorando e soltando bombinhas - e não existe nada pior que a algazarra das crianças correndo, apavorando e soltando bombinhas.
Já aconteceu de soltarem uma bombinha em mim e furarem minha meia-calça. Momentos.
Então depois de meia hora eu e Matheus já estamos bem irritados, porque nesse meio tempo já nos perdemos um do outro umas três vezes e encontramos alguma pessoa insuportável da escola no meio do caminho. A comida é boa, mas ela sempre demora demais e sempre tem uma criança à espreita pra trombar comigo e me fazer derrubar alguma coisa na roupa. É um caos, é tudo uma mentira e the dream is over. Teve um ano que a gente simplesmente saiu da festa junina e foi comer hambúrguer num restaurante ali perto.
A gente sai com raiva jurando que não vai cair no papo da quermesse de novo. A gente jura que vai se respeitar. Ou pelo menos chegar mais cedo. E aí começa tudo de novo.
Quando a Luisa me chamou pra ir na quermesse no meu primeiro domingo aqui em São Paulo, pensei que seria melhor aproveitar a noite pra fazer supermercado e organizar minhas roupas. A paróquia da Consolação é logo aqui do lado, mas eu queria mesmo passar a noite em filas, trombando em pessoas e desviando de crianças atiradoras de bombas? Não queria.
Boa influencer da quermesse que é, a menina Luisa passou a semana inteira fazendo a maior propaganda da festa junina. Na nossa volta pra casa de todas as noites, ela lançava um olhar apaixonado para a torre da igreja e fazia a contagem regressiva da quermesse. Teve um dia que em plena terça-feira ela realmente andou até lá pra ver se eles não tinham mudado as regras e passado a festas pra terça (????), porque vai que. Como resistir a esse tipo de propaganda? Então no fim de semana seguinte tomei meu primeiro vinho quente na Consolação e foi assim que começou minha relação de amor com as festividades da paróquia.
A quermesse da Consolação também é cheia e as filas são enormes, mas a diferença é que elas andam rápido. Muito, muito rápido. Além disso, é tudo por R$5, de modos que você pode comprar quantas fichas quiser e só pensar depois no que vai fazer com elas. São tantas possibilidades. Tem vinho quente, carne louca, sanduíche de pernil, pastel, vinho quente, pavê de paçoca, pipoca, vinho quente, milho com manteiga, caldo de feijão, e o meu favorito, o vinho quente. É tudo muito gostoso. É barato. As tias da igreja que cuidam das barraquinhas são maravilhosas demais. O vinho quente é bom até quando cai na sua mão, dá aquela queimadinha e fica grudando a noite inteira por causa do excesso de açúcar.
Além disso, a quermesse é um lugar muito pitoresco e provavelmente o mais próximo que vou chegar de Stars Hollow. A cada vez que o apresentador interrompia o show pra avisar que os carros parados na rua da igreja estavam sujeitos a guincho e recomendava o estacionamento Vila Brasil ("quando for comprar a ficha é só pedir prar menina darem aquela carimbada por R$7"), eu conseguia enxergar o Taylor enchendo o saco das pessoas, Kirk como atendente do estacionamento carimbando as fichas e Luke provavelmente tendo o carro guinchado e entrando na maior briga com Taylor por causa disso.
Como boa garota Gilmore que sou, no último sábado saí da festa e fui direto pra farmácia tomar um remédio. Excessos foram cometidos. Não me arrependo de nada.
Estou falando disso só agora porque, confesso, desenvolvi um sentimento protecionista com relação à quermesse. Vendo os especiais de festa junina em São Paulo que saíram no guia da Folha e no Catraca Livre, temi pelo futuro da Nossa Senhora da Consolação. Nessas semanas por aqui descobri que os rolês legais acabam quando as pessoas começam a falar bem deles nesses veículos. É por isso que faz mais de um ano que eu tento ir na Z-Deli comer hambúrguer e beber um Old-Fashioned (sim, vai ser realmente um evento) e sou impedida por FILAS NA PORTA. Sinto que as pessoas estão começando a se empolgar o suficiente com a quermesse da Consolação pra que ano que vem ela esteja na capa de algum guia e se torne tão insuportável, cheia e cara como as da Vila Madalena (que eu nem fui, mas tenho curtido criticar à distância).
Por enquanto, a área externa da igreja inda comporta uma fauna curiosa e diversificada, composta pela comunidade da paróquia, os tiozões, os hipsters (aqueles que iremos culpar pela gourmetização da quermesse em junhos futuros) e as pessoas estranhas do centro. É a mesma lógica dos bares ruins do Antonio Prata: ainda estamos na fase dos meio intelectuais, meio de esquerda, das universitárias mais ou menos gostosas e os velhos jogando dominó (no caso da festa junina, dançando forró ao som do Trio Cristalino).
Se você for rápido, ainda dá pra curtir as peculiaridades do local de forma quase imberbe, como a moça que passa servindo balas (você pode pegar quantas quiser e tem de café) (e milho verde) ou o moço que ficou parado perto demais de onde estávamos (desesperado para estabelecer contato visual) bebendo catuaba de uma garrafa escondida em uma sacola plástica e um grosso crucifixo no pescoço. Apesar do meu protecionismo besta, resolvi fazer propaganda porque o próximo fim de semana será o último e vai rolar gravação de DVD do Anjo Loiro do forró, uma verdadeira personalidade do local que flerta com a câmera e com o sanfoneiro como ninguém, é ótima em covers do Gonzagão, e merece todo o prestígio.
Imaginem um cruzamento de Miss Patty e Joelma do Calypso. Bem-vindos à quermesse.
Folhetim
Muitas pessoas perguntaram o que foi feito do projeto fotográfico que consistia em assustar meu pai com imagens minhas me perdendo pela noite paulistana. Eu devia ter lembrado de tirar uma foto minha na sexta, dia que passei singelas treze horas do meu dia a serviço da empresa Folha da Manhã. Impossível ser mais moral e fisicamente decadente do que isso.
Outras coisas que aconteceram essa semana
Assisti às bancas das minhas maravilhosas amigas Lore e Odhara. As duas tiraram dez e me deixaram feliz e emocionada por ser amiga de pessoas tão incríveis;
Conheci a Nicas e fiz figuração nas andanças da Lidy;
Me perdi com Milena em algum lugar entre a Liberdade, a Sé e o viaduto da Brigadeiro (???) e vimos a morte de perto num momento Broad City da vida real;
Conheci o Paulo, tomamos uma cevecinha com ecanos e descobrimos que ele nasceu em 1997 (e que a Milena pode ou não ter dito algo absurdo sobre a beleza do Domingos Montagner associada ao Lula);
Me perdi na USP à noite, embaixo de chuva, e me encontrei sozinha usando um M A P A;
Depois do desastre da semana passada, fui cobrir outro evento e eu e Lucas conseguimos entregar o texto no tempo certo e ainda saímos cedo o suficiente pra almoçar (e nosso nominho saiu no jornal, para delírio geral da minha família inteira);
Conheci um border collie chamado Leleco na porta da padaria e a dona dele chegou quando a gente estava se abraçando;
Passei minha primeira tarde à toa desde que cheguei aqui, trabalhando moderadamente e vendo TV da cama, um jogo da Alemanha, basicamente um sonho;
Conheci a Laura, que não é a Britney Spears (para a minha surpresa) e nós passamos muitas horas falando sobre The Office e piscianismos;
Assisti The Office!!!!!!! (quando voltar pra casa vou ver tantas #SÉRIES que a companhia de internet vai cobrar mais caro);
Sei lá, eu devo ter dormido um bocado, mas nunca o suficiente;
Disco da Semana
Nice as Fuck. Amigas, o Segredo é tão real que assusta. Semana passada falei aqui mesmo, nessa honradíssima newsletter, que a superbanda da Jenny Lewis bem que podia liberar um álbum logo. Não foi o álbum que veio, mas sim um EP, totalmente de surpresa. Não é demais? São músicas rápidas, meio punkzinhas, e recomendo a experiência mesmo que não tenha me apegado muito. Afinal, é a Jenny Lewis.
Uma coisa engraçada é que a bio da banda foi escrita pelo Father John Misty e é bem, hm, Father John Misty, daquele tipo que você não sabe exatamente o que é sátira, o que é viagem e o que é ele sendo idiota de propósito. Recomendo a leitura só porque ele tira sarro de homens que escrevem sobre música (ué???) e não dá pra resistir - só parem, por favor, de dizer que é a coisa mais feminista que vocês já leram, por favor.
I won’t blatantly man-splain their musical DNA, play spot-the-influence, or condescendingly take you by the hand and patiently reduce their sound to a bunch of “if blank hetero-married blank and then blank subjugated her sound to blank’s sound for the sake of maintaining the relationship”’s (classic), and go on to tell you – so you, presumably, never have to actually listen to it for yourself and (God-forbid) draw your own conclusions which would naturally be that NAF sounds like if the Clash made Rumors and King Tubby produced it.
And, I gotta say, it’s high time for a conscious band to come along and talk power dynamics, talk love, talk guns, talk cookie lips, talk fear, talk fantasy, talk reality (enough with the pizza punk about cats). It isn’t even worth bringing up the crisis of imagination in the lamestream – when I look at some these pop stars that serve as “role models” for these little girls, I just think wow, really great, that’s definitely the message these kids need to hear.
Músicas favoritas: Cookie Lips, Doors e Higher.
- Essa semana teve o famigerado Glastonbury na Inglaterra, e embora não tenha prestigiado os shows em sua totalidade, não poderia deixar passar o Last Shadow Puppets, quando Alex Turner cometeu não apenas um cover de Moonage Daydream, mas o fez se sentindo com razão o suficiente pra incorporar (pelo menos em sua cabeça) o próprio Bowie. O resultado é absolutamente ridículo, porém não menos delicioso;
- Essa semana teve também Beyoncé aparecendo de surpresa na apresentação do Kendrick Lamar durante o BET Awards, um prêmio voltado pra comunidade afro-americana nos EUA. Gente. Sério. Sem CONDIÇÃES pra essa mulher. Formation Tour no Brasil vem quando pra eu já saber quantos órgãos vitais vou precisar penhorar?
- Não tem nada a ver com música, mas é que eu adorei essa camiseta do Alex Turner e reparei que já tinha visto a Jenny Lewis com uma igual. Pensei que tivesse algo a ver com o Bernie Sanders e pesquisando a respeito descobri que esse é o slogan de uma iniciativa da Tennesse Thomas, que também é baterista do Nice as Fuck, que criou o The Deep End Club pra reunir artistas e ativistas que querem fazer diferença no mundo (?). Seria só uma curiosidade aleatória não fosse o fato de a garota propaganda da marca (e melhor amiga da Tenesse Thomas) ser simplesmente a Alexa Chung.
¯\_(ツ)_/¯
Links, links, links
- Hi America, British politics went completely mad today: Vi esse link uns dias antes de estourar toda a treta do Brexit e pensei que era muito gozado que pessoas realmente apoiassem a saída da Inglaterra da União Europeia. HA;
- Wicked: o pessoal, o político e o discurso: Simplesmente comprei o ingresso pra ver Wicked depois de ler esse texto da Paloma lá no Valkirias;
- A ausência da família como sendo um espaço de liberdade: Ainda a Paloma, num daqueles vários momentos em que eu tenho certeza de que a gente é a mesma pessoa, texto muito bom sobre como ela sonhava em ser órfã mesmo tendo uma família perfeita;
- Uma entrevista com Patti Smith sobre amor e chorar por qualquer coisa: Exatamente o título que me faz clicar em alguma coisa;
- Fogo: Noelle sendo ótima falando sobre como precisamos parar de fazer joguinho e ser um pouxo mais trouxa no mundo - se isso significa ser feliz e verdadeiro com aquilo que sentimos.
Todos querem ser verdadeiros, mas é preciso coragem. Dói abrir mão do orgulho, dói abrir mão do poder. Mas do que adianta estar por cima, sair por cima, se o que você realmente quer é a outra pessoa ao seu lado? Pega esse poder todo e enfia ralo abaixo. Não serve de nada. Esse poder não vai me dar beijinho, não vai me abraçar quando eu estiver com frio ou me fazer rir quando eu só quiser chorar. De nada adianta esse poder calcado num jogo de quem demonstra menos. “Ganhei“. Grande coisa. Dorme abraçado com essa vitória pra ver se é gostoso.
Vamos levar isso pra essa semana que está começando, shall we?
A única opinião que vou esboçar sobre Hiddleswift se manifesta nesse texto do The Toast, dessa série perfeita que vai arruinar minha visa amorosa:
If Tom Hiddleston were your boyfriend, your life would be full of moments where you’d just be standing in your yoga pants with your hair sticking up, waiting for the kettle to boil, when suddenly he’d pop up next to you and exclaim, “Dance break!” and you’d find yourself jitterbugging or tangoing or doing some other dance that you didn’t actually know you knew how to do, while the kettle whistled. This would also come to be your second favorite way of resolving a fight.
Lembra alguma coisa?
Sim, é uma versão melhorada do famoso movimento de dançar na cozinha à luz da geladeira - menos a parte do inevitável sofrimento.
I rest my fucking case.
Ufa, agora acabou!
Me senti um pouco pressionada a escrever essa newsletter cheia de assinantes novos e estou um pouco insegura, morrendo de medo de ter decepcionado todos vocês. O ritmo por aqui está um pouco estranho por causa do treinamento, minha falta de tempo e internet, mas a gente se ajeita. Se quiser, você pode escrever pra mim respondendo a newsletter como um e-mail normal e eu vou adorar saber quem está aí do outro lado.
Não sou a correspondente mais veloz do mundo, mas toda a mensagem de vocês aquece meu coração e tento responder na medida do possível.
Obrigada por me aguentar até aqui e, nessa semana que começa, faça o possível para estar tão de parabéns quanto Orlof, que fez 6 anos e comemorou com os amigos:
Stay beautiful!
Yours truly,
Anna Vitória