Hello stranger, como vai você?
O mais próximo que cheguei das Olimpíadas foi esse grafite medonho pintado recentemente na fachada de um boteco uberlandense, oportunamente chamado de Carioca e inaugurado a tempo para os jogos (claro).
A foto foi tirada sábado à noite, mais ou menos 24 horas depois de eu vender minha alma pro COI e ter passado a acreditar que o esporte é a coisa mais bonita do mundo e a única capaz de nos redimir enquanto nação em frangalhos e também como humanidade, outro setor em que temos vacilado nos últimos anos.
À esquerda, Flahana Pfeifer, a gêmea boa
Meu sonho olímpico acabou no dia que uma garota caiu com tudo de joelhos em cima do meu pé durante um jogo de vôlei, arrancando fora a unha do meu dedão.
O vôlei foi a última tentativa dos meus pais de me fazer vingar em algum esporte. Natação, karatê (!), tênis, handebol... Os professores viam essa criança esguia e de pernas muito compridas que eu era e imediatamente enxergavam ali um possível projeto olímpico. O negócio é que junto do corpinho esguio e das pernas compridas tinha eu ali no meio do caminho, fresca e preguiçosa, incapaz de entender o afã existencial de dominar e transcender o meu corpo. Desde criança eu meio que sabia que cuidar da minha cabeça já me daria trabalho o suficiente.
Fiz natação dos 6 meses aos 10 anos e passei todo esse tempo desviando como pude das tentativas desesperadas da minha professora (tia Fabiana, nunca vou esquecer) de me colocar para competir. Lembro que simulava toda a sorte de doenças e impossibilidades pra faltar de aula. Um dia tomei quase um litro de iogurte e depois enfiei o dedo na garganta pra vomitar e convencer minha mãe de que eu realmente não estava em condições de participar daquele ranking.
Sempre adorei nadar, mas odiava a natação. Meu negócio era plantar bananeira na água, nadar igual sereia e brincar de achar coisas no fundo da piscina. Além disso, tinha vertigem sempre que subia na raia e isso fez com que eu nunca aprendesse a pular de ponta como uma atleta de verdade. Era bem ridículo. Não via a hora de fazer 10 anos porque aí teria uma idade com dígito duplo (?), poderia andar no banco da frente e estaria livre da natação. Foi o que minha mãe me prometeu e acho que nunca fui tão feliz como naquele primeiro ano sem natação, que foi também o meu primeiro ano de aulas de sapateado. Pelo menos aprendi a nadar no mar.
Na escola, esporte realmente era uma thing. O nível de popularidade das pessoas era medido de acordo com suas habilidades no esporte. Foi isso que me fez ir parar no CEU, uma escolinha de esportes que todo mundo que era alguém fazia parte. As aulas aconteciam no clube e tinha essa turminha do CEU que depois dos treinos passava a tarde por lá paquerando e fazendo sei lá o que as pessoas populares fazem. A gente tinha uns 10 anos. Eu queria ser dessa turma, então fiz meus pais me matricularem no CEU. O esquema funcionava como um rodízio de modalidades e me dei bem porque a primeira era o tênis e eu achava tênis um charme. Pensei: agora vai. Só que dois meses depois foi o futebol e não tinha a menor condição de eu participar daquilo.
Pedi pra sair e as meninas populares nunca me convidaram pra comer pastel.
Então veio o vôlei. Com 12 anos, já tinha abraçado minha identidade outsider e gostava de me sentir too cool for school. Por isso, me matriculei na escola de vôlei do SESC, onde era garantido que não teria ninguém da escola além da Anaisa, minha melhor amiga, que também era a garantia de que eu sempre teria uma dupla na hora dos exercícios. Não era exatamente ótimo, mas também não era exatamente péssimo. A gente se divertia, só que não pelos motivos corretos. Fazer vôlei juntas era sinônimo de irmos depois uma pra casa da outra fazer dever de casa, ou seja, passar a tarde conversando, passeando nas papelarias do centro ou vendo televisão. Quando ela faltava, eu ia pra biblioteca escondida e passava a tarde lendo Stephen King e aí dava uma bagunçada no cabelo que era pra minha mãe não desconfiar.
Foram dois anos nesse esquema até que Anaisa resolveu sair do vôlei. Não tive a mesma sorte em casa, então continuei e aquilo rapidamente se tornou um pesadelo, coroado no dia que minha unha caiu. A culpada, Priscila (também nunca vou esquecer o nome) era a estrelinha da turma, o que naturalmente a transformava no meu alvo de ódio principal. Ela era realmente muito boa, mas adorava aparecer defendendo as bolas dramaticamente, gritava UUUH sempre que sacava e amava se jogar no chão. Foi numa dessas que ela aterrissou de joelhos em cima do meu pé.
Doeu de verdade, mas a primeira coisa que pensei foi que eu perderia minha unha. Saí da quadra chorando e fazendo a maior cena, deixei as pessoas desesperadas. Minha mãe, que conhece a filha que tem, quando chegou pra me buscar perguntou se eu estava chorando daquele jeito porque estava doendo ou porque eu ia perder a unha. Acho que nem precisei responder, porque era tão óbvio. Depois desse dia, nunca mais voltei no vôlei.
A unha caiu alguns meses depois. Passei esse tempo todo com um band-aid no dedão (era a época das sapatilhas peep-toe) pra segurar aquela unha esquisita no lugar até o momento que ela resolvesse que era hora de partir. Aconteceu quando estava passeando em São Paulo, ela se soltou inteira e ficou levantada, formando um ângulo de 90º pro dedo. Foi o Pedro que viu e gritou, MEU DEUS A SUA UNHA, e eu fui obrigada a parar no meio da rua para casualmente recolher minha unha e jogá-la na lata de lixo mais próxima.
Ali jazia a unha do meu dedão do pé e junto com ela toda e qualquer parte de mim capaz de domesticar e lapidar meu próprio corpo, forçando-o a limites até então nunca experimentado pelos homens, capaz de me fazer um pouco mais próxima dos deuses - no Olimpo.
*IOOOOOOOOOOO*
Mas eu sou fresca pra caralho e escolhi ter todas as minhas unhas no lugar. Desculpa, Prometeu, sei que não foi por isso que você teve todo o trabalho de roubar o fogo de Zeus.
Mas ei, o mundo ainda tem o Phelps, pode me colocar na conta dele que a Simone Biles ajuda a pagar.
Coisas idiotas que fiz essa semana graças ao Pokémon Go
Flahana Pfeifer e Clefable no bar onde ficamos tempo demais pois pokéstop
- Disse que não ia baixar Pokémon Go e realmente acreditei nisso;
- Baixei Pokémon Go;
- Disse que só queria ver como era e que só jogaria deitada;
- Nesse mesmo dia fiquei meia hora dando voltas no quarteirão em busca do Doduo que apareceu no meu nearby;
- Acabei com meu pacote de dados;
- Me apeguei aos meus Zubats por causa dos nomes que dei pra eles (Zubat Jr., Zubat Neto, Zika Zubat, Jorge Zubat e Morcego Zezé) (Sim, eu sei que a gente precisa trocar os pokémons repetidos com o professor e meus Zubats passam por uma rotatividade constante, mas eu nunca consigo me desfazer desses cinco);
- Passei tempo demais pensando no nome dos meus pokémons (me orgulho especialmente de Golbatchev, o Golbat e PJ Harvey, a Pidgey);
- Batizo meus pokémons com o nome dos meus amigos (Analu é Jigglypuff);
- Volto do trabalho todos os dias fazendo um zigue-zague completamente desnecessário nas ruas porque esses ovos não vão se chocar sozinhos;
- Dei play no primeiro (e no segundo, e no terceiro...) episódio da Liga Indigo na Netflix e chorei assistindo;
- Gritei quando capturei a Ponyta enquanto estava no carro com meu chefe (ele achou fascinante e agora sempre pergunta como está minha contagem de pokémons);
Diálogo real com Analu
- Quero saber quando você vai me pegar
- Amiga, eu quero muito te pegar, mas não sei qual pokémon que você é, eu não via o desenho!
- Você tem que olhar na hora e sentir
- Tá bem, vou olhar e sentir
- Queria ser a Ponyta, mas acho que deveria ser um pokémon aquático por causa do meu mapa astral
No fim das contas, aceitei ser a Ponyta, afinal, quem estou enganando?
Diários de Bujo
Não tenho muito o que dizer depois de quase duas semanas com meu bullet journal porque não é como se estivesse fazendo muita diferença na minha vida. A verdade é que ando trabalhando muito nos últimos dias e tem sobrado pouco tempo para pensar sobre o que tenho que fazer. É mais fácil fazer direto, depois vou lá e anoto no caderninho pra saber que estou exausta por um motivo e sentir menos culpa porque passou mais um dia e não consegui dar atenção para os meus Projetos Pessoais. Outra coisa é que os compromissos de trabalho acabam na agenda Google compartilhada com a ~equipe~ e aí parece meio idiota anotar tudo de novo no bujinho.
Mas eu anoto mesmo assim, porque eu sou idiota.
Agora falando sério: não dividi a semana antecipadamente como muitas pessoas fazem, fui simplesmente preenchendo dia após dia durante a manhã com as coisas que tinha que cumprir. Isso complica na hora de visualizar os compromissos futuros (olar agenda google) e encaixar atividades, então acho que vou tentar adaptar o esquema da agenda pro papel nos próximos dias e conto como foi.
Lendo & Assistindo
Semana passada fui assistir Esquadrão Suicida. Achei uma delícia quando as críticas começaram a sair e todo mundo só dizia que o filme era patético, porque acho muito gostoso ver a séria e toda poderosa DC ser gongada e não aguentava mais as ações promocionais do filme com o Jared Leto e aquela tipografia horrorosa. Só que Matheus Fernandes, meu DC Boy de estimação, pessoa que estava há anos esperando por esse filme, saiu do cinema tão genuinamente chateado que perdi a vontade de chutar cachorro morto. Na real nem é tão ruim assim.
Quer dizer, é bem ruim, mas depois de Batman vs. Superman tudo ganha outra perspectiva. Não é insuportável, acabou até que rápido e tivemos Viola Davis, Margot Robbie e Will Smith ótimos em seus papéis péssimos. Foi bacana assistir esses três. O resto eu já esqueci.
Mentira, eu não esqueci da trilha sonora, que achei bem ruim. Não que as músicas sejam ruins, mas é que ter um apanhado de músicas boas que agradam a galera não é sinônimo de uma trilha sonora boa. Colocar Sympathy For The Devil pra introduzir um vilão ou Seven Nation Army na hora que um time se junta não é uma sacada de trilha sonora, é simplesmente preguiça, falta de sutileza e aposta no óbvio - que é meio que a tônica do filme todo. Piora um pouco quando a gente pensa que ele foi idealizado como uma resposta aos Guardiões da Galáxia da Marvel, com aquela trilha primorosa que de fato quer dizer alguma coisa. O Awesome Mix pode até cair em alguns clichês, mas eles se tornam legítimos quando a gente pensa que a música está diretamente conectada com o arco dramático do Star Lord e é uma de suas âncoras emocionais.
Acontece algo parecido com Stranger Things: algumas músicas são óbvias porque no contexto de 1983 em uma cidade do interior de Indiana, as músicas que tocavam no rádio, populares entre os jovens, eram óbvias. Então faz sentido eles usarem I Melt With You (que aparece em 150% de filmes e séries que se passam nos anos 80) ou Hazy Shade of Winter. Ao mesmo tempo, eles fazem outras escolhas mais sofisticadas de quem leu além da página 6 do livrinho da década de 80, que marca época, mas não grita na cara de quem assiste OI, ESSA SÉRIE SE PASSA NOS ANOS 80.
Esquadrão Suicida grita o tempo inteiro na nossa cara que ESSE É UM FILME SOBRE VILÕES MUITO, MUITO MALVADOS e nem assim a gente acredita neles.
++++ Sobre Esquadrão Suicida
- Suicide Squad is a huge mess: eu parei de ler crítica de cinema há um tempo, mas sempre paro pra ver o que o Devin Faraci tem a dizer, principalmente sobre as grandes franquias. Ele é incisivo sem ser arrogante e nesse texto dá umas boas lambadas no Jared Leto, o que é sempre gostoso de ler.
- How Suicide Squad uses and abuses Harley Quinn: sobre as mulheres de Esquadrão Suicida, a sexualização da Harley Quinn e a forma como relacionamento dela com o Coringa é representado.
- Resenha no Valkirias: fazendo merchã pra firma porque a Sharon é menos rabugenta que eu em se tratando da DC, mas levanta pontos importantes sobre as personagens femininas e sobre o desenvolvimento do filme como um todo.
Com tanto trabalho e Olimpíadas rolando o dia inteiro na televisão, não assisti nada além de esportes diversos, basicamente qualquer coisa que estivesse passando quando eu tinha algum tempo livre. Já entendo horrores de judô e esgrima, estou envolvida emocionalmente com todos os países e acho que todo mundo devia vencer - menos os Estados Unidos, que já cansaram. Deixem só as ginastas, porque elas são perfeitas.
Quanto às leituras, abandonei momentaneamente o Flores, e li Constelações, livro de poemas lindo-lindo da Helena Zelic. Já tem texto sobre ele no Valkirias (com sorteio de exemplar até amanhã, sábado). Também comecei a ler Alucinadamente Feliz, da Jenny Lawson, um livro desses engraçados e absurdos de você rir alto ao mesmo tempo que manda tantas reais sobre ansiedade e depressão que é preciso ficar um tempinho ruminando os parágrafos. Das muitas coisas que marquei até agora, essa é uma das que não saem da minha cabeça (e que eu já reproduzi pra duas pessoas, o que mostra que em breve estarei pregando a palavra de Jenny Lawson por aí tal qual faço com Amanda Palmer):
Às vezes as pessoas dizem: "Como você pode se sentir mal quando há pessoas passando fome na Groenlândia?" E eu respondo "Não sei. Será um talento?" E é impossível sair ganhando, pois perguntam a mesma coisa quando se está bem. "Como você pode rir quando tem pessoas passando fome na Groenlândia?" Mais uma vez, eu não sei. Não pergunto às pessoas que estão passando fome na Groenlândia como elas podem rir quando há pessoas na Suécia com câncer e sem mãos (não sei se estou certa com relação à Suécia ou à Groenlândia, não acompanho geografia). A questão é que às vezes merdas acontecem, e às vezes não. A minha regra é: aproveite o que não está na merda agora, porque há merdas a caminho. E vice-versa. Isso é só o manual básico da vida. Um familiar adoece. O cachorro precisa sair. Você encontra um nódulo. As pessoas lhe dizem para parar de comer glúten. Nunca vai parar de acontecer, então seguimos o fluxo e não nos desculpamos pelas pessoas que estão passando fome. A não ser que você esteja matando as pessoas de fome. Aí com certeza você deve se desculpar.
Disco da Semana
Nada de novo no front: continuo obcecada pelo The Last Shadow Puppets e tudo que Alex Turner coloca a mão. The Age of the Understatement é o primeiro disco de seu projeto paralelo ao lado de Miles Kane e foi lançado em 2008. Na época eu não curti, como até muito recentemente ele não fazia minha cabeça, acho que era o último muro a ser derrubado no nosso relacionamento. Esse primeiro disco é mais diferentão mesmo, com uma sonoridade bem cabaré, um pé ali no faroeste, uma tourada acontecendo, sei lá. Alex ainda não tinha terminado de atravessa a puberdade, então a voz ainda é a esquisitinha dos primeiros CDs do Arctic, mas ei, é um bom álbum sim. Comecei a gostar dele quando comecei a assistir a absolutamente todas as lives da turnê Everything You've Come To Expect e acho meio difícil não se apegar porque, bem
Músicas favoritas: Standing Next To Me, Calm Like You, My Mistakes Were Made For You e The Meeting Place.
+++ Em outras notícias:
- Saiu música (e clipe) nova do Green Day, com anúncio de disco novo e tudo e nóis que é trouxa vai encher de esperança de novo.
- Falta menos de dois meses pro show do Wilco no Brasil e o Popload fez um vídeo lindão que conta a história da banda e te ensina a ser fã do Wilco. Se você já me ouviu falar incessantemente sobre eles, ficou curioso e não sabe por onde começar, esse vídeo é um ótimo início. Vejo vocês dia 8 de outubro!
- Durante um show do Nelly no aniversário da Karlie Kloss, Taylor Swift subiu no palco pra cantar Dilemma (num look totalmente Anna Vitória Modas) <3
Links, links, links
- You've changed: ainda na vibe da última edição, um texto da Emma Gannon sobre mudanças e sobre como mudar é ótimo, embora algumas pessoas insistam em dizer que não.
- This is not fine: aquele cachorrinho tomando café enquanto tudo pega fogo dizendo "this is fine" é uma das representações mais precisas de como eu sou diante da vida. Só que a coisa está tão foda pra todo mundo que KC. Green, criador da tirinha, fez uma versão atualizada em que tudo definitivamente não está bem e aqui ele explica um pouquinho as motivações por trás disso. Confesso que deprimi um pouquinho.
- Estivemos na Cidade de Deus depois do ouro de Rafaela e foi isso que encontramos lá: uma resposta ótima pro Forastieri, que disse que o ouro da Rafaela não significava nada (e fica aquele apelo de sempre: Buzzfeed PELO AMOR DE DEUS me contrate) (repassem até chegar na Manu Barem).
- Estamos todos apaixonados pelas meninas da ginástica artística brasileira: também conhecido como o post que me fez aparecer no Buzzfeed (usando o perfil do Valkirias) (segue a gente que domingo estarei EXALTADA de novo.
- Fotos da competição de ginástica olímpica na Olimpíada de 1908.
- Parem de deixar o Galvão triste, ótimo site esse O Brasil que Deu Certo.
- O que aconteceu de mais importante na Rio 2016 para as mulheres (até agora), pro bem e pro mal, essa Olimpíada é muito nossa.
- Utilidade pública: qual atleta brasileiro gato você deveria namorar de acordo com seu signo?, o meu deu um nadador (peixes, duh), e está 100% correto pois um dos meus objetivos de vida é pegar um.
- The bedazzling of the american gymnast, da série Matérias Que Eu Queria Ter Escrito, essa do NY Times conta a história dos colants das ginastas e por que o uniforme das americanas a cada Olimpíada surge mais cravejado de Swarovskis - os desse ano tem cerca de 5 mil cristais cada.
- Zubat forte o tambor: Pokémon Go e o Brasil, reportagem do Risca Faca (com um título maravilhoso demais) sobre o primeiro fim de semana do jogo no país e alguns relatos dessa distopiazinha gostosa que estamos vivendo.
~*Cantinho da leitora*~
A newsletter não tem caixa de comentários, mas a cada edição enviada sou sempre agraciada com as respostas ótimas que muitos de vocês tem a gentileza de me mandar. Eu adoro todas elas (e faço o que posso e o que não posso pra responder todo mundo rapidamente, mas nem sempre consigo) e às vezes gosto tanto que acho uma pena que só eu tenha a chance de lê-las. Por isso, vou criar a partir de hoje um espaço pra compartilhar trechos das melhores respostas que recebi ao longo da semana (com autorização dos autores, claro!) para inspirar todos vocês.
Estreando a seção temos Clara Browne, com um e-mail que me fez chorar:
(...) Sabe, quando eu estava no último ano de colégio, eu ajudei na concepção, roteiro e montagem de uma peça sobre o tempo, a qual chamamos de Kairós. Nesse processo, eu aprendi muitas pequenas pílulas de sabedoria (vindas em maioria em formatos de poemas), mas a que me lembrei agora enquanto li você falar sobre o que acrescentaria na sua lista de aprendizados é um poeminha chamado "mão única" que fala assim: é proibido/ voltar atrás/ e chorar. Lembrei dele porque você disse que é permitido mudar. E é estranho pensar que eu aprendi que é proibido voltar atrás e chorar antes de aprender que era permitido mudar (coisa que só aprendi aos 20 anos). É estranho e ao mesmo tempo explicar porque eu sofri tanto com as mudanças que passei. Mas, agora, juntando essas duas sabedorias, acho que consigo entender plenamente que todos nós estamos mesmo em uma mão única. E acho que, se eu fosse acrescentar uma coisa que aprendi nesse vigésimo segundo ano de vida, eu diria que aprendi que tudo bem. A vida é uma mão única e tudo bem. (...)
Hoje em dia, depois de ver Parks and Recreation, vendo minha mãe fazer 50 anos e ter e resolver conflitos com amigas, tendo a acreditar que mudar é necessariamente crescer. Porque crescer não tem a ver só com pagar contas, ganhar salário, entender finanças. Crescer é viver uma série constante de transformações. É entrar em contato com novas ideias, gostos, desejos. É deixar de caber em si e se permitir transbordar - mesmo que doa um pouquinho (ou um montão). Crescer é aprender coisas novas, fazer novas conexões, novas sinapses. Acontece que eu aprendi com o tal antigo melhor amigo que toda vez que você vê uma imagem diferente, você cria uma sinapse nova. E ele sabe do que está falando, ele faz biologia. (...)Existem, na mitologia grega, dois deuses que regem o tempo. Chronos rege o tempo dos homens - os anos, meses, semanas, dias, horas, minutos, segundos -, um tempo linear, o tempo que faz a nossa vida ser uma mão única. Mas existe esse outro deus, muitas vezes esquecido e outras vezes mal interpretado, que é Kairós, o deus do tempo eterno, interno, de um tempo linear. Ele é quem rege o tempo dos deuses, mas também esse tempo interno que vivemos, que vai e volta, aqueles momentos que são completamente plenos e que há quem diga que é o momento em que nos sentimos infinitos. Esses dois tempos existem dentro e fora de nós e é muito muito difícil concilia-los. Mas não acho que seja impossível. E acho que a cada momentinho que crescemos, que aprendemos uma coisa nova, que aceitamos as mudanças que nos acontecem, mais perto estamos de estar em completa sincronia entre Chronos e Kairós.
Não sei se nada disso fez sentido, espero que sim. (...)
Faz sim, Clara, óbvio que faz. Obrigada por isso, você é muito incrível ♥
Ufa, agora acabou!
Obrigada pela companhia e por ter chegado até aqui. Até a próxima semana, de preferência com mais medalhas de ouro e um ou outro Pokémon raro, menos pra Kylie Jenner, porque ela é americana e já tem os melhores pokémons da vida real:
Stay beautiful!
Your truly,
Anna Vitória
Sempre que quiser, responda essa newsletter como um e-mail normal e escreva para mim, vamos continuar conversando depois que o sinal bater.
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