Hello stranger, como vai você?
Todas as músicas do Wilco são minhas músicas favoritas, por isso acho tão difícil dizer de cara o que uma pessoa deve ouvir para se apaixonar pela banda. É uma pergunta que sempre me fazem, provavelmente porque estou sempre falando sobre eles. Eu sou essa pessoa - mas, em minha defesa, acho que quase todo fã de Wilco é. Uma vez saí com um cara e tentei explicar pra ele por que o show do Wilco no Brasil seria um evento tão emblemático, e acabei com a conclusão de que era porque nós, os fãs de Wilco, somos um bocado intensos no que diz respeito à banda. "Dá pra perceber pela forma como você gesticula enquanto fala sobre eles", ele disse.
Aí ele perguntou qual música deveria ouvir para fazer parte do culto e eu, mais uma vez, não soube dar uma resposta objetiva.
A verdade é que minha relação com a música, de modo geral, é intensa. Não é simplesmente sobre gostar de alguma música ou alguma banda, mas sobre sentir aquilo de alguma forma, seja ela profunda e sentimental ou só aquela batida perfeita que parece fazer o resto do mundo sumir quando acontece numa pista de dança ou dentro dos meus fones enquanto ando na rua. Tem que ter uma história, sabe? Tem que tocar no cuore e nas profundezas da alma. Ai meu Deus eu sou muito pedante, hahaha.
Quando li Alta Fidelidade pela primeira vez eu tinha uns 16 anos e achei o livro a coisa mais incrível do mundo. Rob Fleming, taí um cara que me entendia (socorro). Alguns anos depois, inventei de reler e achei a coisa mais deprimente do mundo. Meu objetivo de vida era me distanciar o máximo possível de qualquer coisa que me fizesse parecer com o Rob Fleming. Hoje reconheço que existem vários motivos para considerarmos o personagem patético, mas isso não me torna menos parecida com ele em alguns aspectos.
O Rob entenderia perfeitamente o fato de eu ser incapaz de indicar uma música da minha banda favorita porque ele perdeu a fala quando uma jornalista pediu que ele dissesse quais discos estão no seu top 5 da vida. Ele acharia completamente razoável eu acreditar que para gostar de Wilco toda pessoa deveria dedicar um fim de semana inteiro para passar todas as horas com um fone de ouvido hi-fi ouvindo a discografia completa no escuro, intercalada com exibições de I Am Trying To Break Your Heart, documentário que conta a história do Yankee Hotel Foxtrot. Nesse meu sonho, uma vela seria acesa a cada vez que o YHF fosse tocado.
Substitua Tommy por Yankee Hotel Foxtrot
Se você me pergunta que música precisa ouvir para gostar de Wilco, eu vou querer saber da sua vida e do seu coração para saber qual música você deve ouvir. Vou querer saber se você é mais do rock, do country, do jazz ou do violãozinho pra saber qual disco do Wilco tem a entonação certa pra te fisgar. Tudo isso porque a gente só se apaixona por uma música ou por uma banda quando ela acontece no momento certo, e eu sou intensa o suficiente pra querer que todo mundo entre nesse jogo pra se apaixonar. Me apaixonei por Wilco numa tarde gelada em São Paulo, chovia lá fora e o Sky Blue Sky rodava numa vitrola. Eu tinha 15 anos e pensei que nunca tinha ouvido nada tão bonito e tão diferente, e não tinha mesmo. Parece uma fanfic pessoal, porque todo #momento certo tem mesmo essa solenidade que parece inventada, e eu acho que todo mundo merece algo assim.
Estou falando do Wilco, mas eu faria o mesmo, sei lá, pela Taylor Swift. Se você me perguntar qual música precisa ouvir pra amar a Taylor Swift eu vou dizer primeiramente todas e segundamente vou querer conhecer a sua ALMA pra descobrir se você é uma pessoa Speak Now ou 1989 pra só assim a gente poder seguir em frente (depois a gente passa pra fase da descoberta que na verdade todo mundo é Speak Now & Red & 1989 & Fearless dentro do próprio coração, mas essa é a parte avançada do curso e cada um chega lá no seu próprio tempo). Isso é tão importante.
É uma obsessão quase evangélica. Já ouviu a palavra do Wilco hoje? Teria cinco minutos ou cinco horas pra me ouvir falar sobre eles gesticulando bastante?
Hoje estou falando do Wilco e não da Taylor Swift (excepcionalmente) porque hoje é o dia do lançamento do Schmilco, décimo álbum de estúdio da banda, e ontem a contagem regressiva para o show do Wilco no Brasil chegou nos 30 dias. Isso significa que a partir de hoje falta menos de um mês para o show do Wilco no Brasil e eu entrei oficialmente no modo DOIDA. Tento poupar vocês das minhas obsessões pessoais porque sei que ninguém merece, mas é que eu não consigo pensar em outra coisa. Quando tento, aparece na minha timeline um vídeo do Jon Hamm convidando todo mundo a ouvir o Schmilco. Você diria não pra esse homem?
Para desviar minha atenção da ideia de gastar um dinheiro que não posso & não devo & quase não tenho comprando ingresso pra vê-los também no Rio de Janeiro, dediquei algumas horas livres para fazer uma playlist que busca capturar minha experiência pessoal do que é gostar de Wilco (irei poupá-los de um faixa a faixa, porque até eu tenho limites), numa esperança ridícula de que alguém, em algum lugar, tenha um #momento por causa dela e se apaixone por Wilco também, essa banda de caras que se divertem muito "being fucking super sad and mad", como o Jeff Tweedy disse recentemente. São 30 músicas, três de cada disco, em ordem cronológica. Uma pra cada dia que falta pro show e uma extra. O Estadão está fazendo o mesmo, mas juro que tive essa ideia antes.
Essa é uma coisa que venho prometendo para as minhas amigas Gabrielas Couth e Irala desde o ano passado, então espero que elas compreendam que o motivo dessa demora é que eu não sou normal. Ou só sou muito intensa, como expliquei eufeministicamente para o Piloto do início dessa história.
Foda-se, Rob Fleming me entenderia (socorro).
+++++++ WILCO FRENZY:
- Jeff Tweedy conta a história por trás de 10 músicas do Wilco, uma de cada disco;
- A Wilco state of mind: especialzão do Consequence of Sound sobre a banda: Eu adoro que um dos parágrafos começa com "Nels Cline is tall.", porque é exatamente assim que qualquer parágrafo sobre o Nels Cline deveria começar.
- A Wilco state of touring: bastidores da nova turnê do Schmilco.
Lendo & Assistindo
- Faz uns dois meses que estou numa ressaca literária terrível, com uns 3 livros começados e nunca terminados e vontade quase nenhuma de ler. Aí fiquei sem sono uma noite dessas e li metade de um livro da Nora Roberts numa tacada só. Até 2014 eu não tinha costume de ler romances, então criei o Agosto do Romance para conhecer o estilo e li vários livros diferentes do gênero. Hoje sou grande fã.
Um dos livros que li nessa época foi o Álbum de Casamento, primeiro da série Quarteto de Noivas, e essa semana li o último volume, Felizes Para Sempre. Não gostei.
Não é como se eu tivesse começado a leitura esperando muito mais do que um romance fofo, o clima divertido entre as amigas que juntas são donas de uma empresa que planeja casamentos, e a certeza de um casamento no final. O problema não é ser previsível, mas é que na quarta vez que a autora repete a mesma fórmula a paciência começa a se esgotar. Pulei vários parágrafos, às vezes páginas, e sinto que se pulasse alguns capítulos não faria a menor diferença. Todas as situações que acontecem nesse livro já aconteceram nos outros, inclusive na mesma ordem, e depois de quatro livros sinto que já sei tudo que deveria saber sobre a Parker. Parece que o livro foi escrito por um ghost writer bem preguiçoso da Nora Roberts.
Apesar disso, ainda recomendo a série. É uma bobeirinha, completamente delusional em algumas horas e extremamente previsível, mas gostei de verdade dos livros #1 (Álbum de Casamento) e #3 (Bem Casados), meu favorito.
- Por insistência da minha mãe, assistimos Como Eu Era Antes de Você. Várias amigas leram o livro meio juntas e adoraram. Pela sinopse percebi que a história não tinha muito a ver comigo e ainda tinha o grande potencial de me transformar em hater. Achei melhor evitar, e estava procedendo da mesma forma com o filme. Mas tinha minha mãe, tinha o domingo com purê de batata, tudo pedia por um filme meio bosta para fazer a tarde completa. Como Eu Era Antes de Você it is.
Pensei que fosse me irritar mais, mas ele é tão qualquer coisa que nem isso. Acho que a cena do casamento é a única que tem alguma emoção de verdade, o resto é só a Emilia Clarke sendo expressiva demais, o Sam Caflin bonito como sempre, uns figurinos bizarros que eu adorei (obcecada pelo vestido vermelho) e uma trilha sonora irritante com várias músicas do Ed Sheeran.
- Aí no feriado ainda estava no clima um-dia-de-folga-uma-boa-hora-pra-ver-um-filme-ruim e decidi prestigiar Gatos, Fios Dentais e Amassos, porque amo poucas coisas como amo filmes adolescentes questionáveis. Minha surpresa foi ver que o filme é realmente bom. Tipo, acima da média bom. Não tem nenhuma história mirabolante, tudo que a personagem quer é uma festa de aniversário legal, beijar o cara novo bonitinho e que tudo fique bem entre os seus pais. Quando se tem 15 anos isso é suficiente para desenrolar vários conflitos.
O filme tem cara de adolescência de verdade e vi muito de mim, das minhas amigas e da minha adolescência no filme. Aliás, ele é minha oitava série inteira e me deixou com uma nostalgia gostosa desse tempo de noite do pijama todo fim de semana, fazer coisas ridículas por garotos e ter que lidar com dever de casa. O filme está na Netflix e recomendo veementemente.
Links, links, links
- 18 tiny things to make your life better: na minha jornada pessoal de self-care, encontrei essa lista com várias dicas de coisas pequenas que têm um impacto gigante no nosso dia-a-dia. Minhas favoritas são a do alongamento, a do banho gostoso, e a de reservar 10 minutos para organizar minhas coisas todo dia.
- A livestream of a small tall in Wyoming is bringing the internet together: fui uma das milhares de pessoas que perdeu um tempo razoável assistindo ao streaming da praça central de Jackson, interior do Wyoming, com população menor que 10 mil pessoas. O motivo? Nenhum e todos, mas especialmente a fascinação por pequenas cidades americanas e a capacidade da internet de transformar absolutamente qualquer coisa num evento incrível.
- A internet que a gente quer: repassando adiante a dica da Fabiane Secches para o projeto A Internet que a Gente Quer, das meninas da Contente. Basicamente várias pessoas falando sobre o que elas amam e esperam da internet. Minha resposta favorita também é a da Juliana Cunha e o espírito dela tem tudo a ver com a graça de assistir o que acontece numa cidade do Wyoming em que nada acontece além de caminhonetes vermelhas.
- Dicas para enlouquecer o seu homem no dia do sexo: que saudade eu estava dos textos da Polly para o Lugar de Mulher! Nesse aqui ela sugere que melhor do que enlouquecer um homem na cama é enlouquecer um homem DE VEZ.
- Suicídio, economia e masculinidade: acho que todo mundo viu por aí a história do homem que matou sua família e depois cometeu suicídio. Esse texto fala da relação entre depressão, desemprego, suicídio e construção da masculinidade, um dos temas que mais tem me interessado no momento.
- Why I quit my job to travel the world: uma sátira de todos esses textos de quem larga tudo e vai viajar o mundo e viver uma vida simples e ~real~, mas esquece de dizer que isso, na maioria das vezes, só é possível quando se possui um nível bem razoável de pppprrrrivilégiossssss, aquele elefante branco na sala que a gente evita cutucar.
- Crônicas do câncer: a tigresa Tati Lopatiuk começou essa semana uma corajosa série em que conta sua história com o câncer. Em 2014 ela foi diagnosticada com câncer no intestino, passou por cirurgias e quimioterapia e hoje está curada. Agora ela escreve como foi passar por toda essa experiência e eu só digo QUE MULHER. Os dois primeiros textos são cheios de fatos, romantização zero e falam com perfeita honestidade como é viver algo assim e por isso é tão, tão forte.
- Caralho, o que a falta de tempo está fazendo comigo?: crônica da Ana Rodarte sobre como a falta de tempo e a correria no dia-a-dia está deixando ela enlouquecida e como isso nos coloca em situações ridículas.
- Detestaria estar no lugar de quem me venceu: da série não-consigo-escrever-sobre-o-golpe-mas-ainda-bem-que-conheço-quem-consegue.
- É química, eu sei que é química: o tanto que eu amo os textos da Renata, meu Deus.
- Mas você vai sozinha?: o Nexo publicou um trecho de Mas Você Vai Sozinha?, novo livro da Gaía Passarelli com crônicas das viagens que ela fez sozinha pelo mundo.
Meio dormindo debaixo da mesa, com a maquiagem borrada e com vergonha do próprio desânimo, entendi que meu novo trabalho requereria muito mais jogo de cintura do que eu tinha imaginado. Essa semana em Austin seria uma lição prática sobre contornar dificuldades, não quebrar sob pressão e, claro, aprender a me manter acordada sem usar drogas.
Voltei para casa com vinte entrevistas, um par de botas de cowboy velhas, ressaca para uma semana e os dedos das mãos tatuados: “true grit”.
~*Shameless Self-Promotion*~
- Marina Ruy Barbosa e o olhar masculino: texto meu no Valkirias falando sobre o conceito de male gaze, a minissérie Justiça e as personagens da Marina Ruy Barbosa na televisão.
Ufa, agora acabou!
Obrigada pela companhia e por chegar até aqui. Essa newsletter foi enviada excepcionalmente na sexta-feira porque eu queria mandar no dia do lançamento do Wilco e também porque quarta era feriado e nem a pau que eu ia passar a tarde no computador escrevendo tudo isso.
Eu, Jeff Tweedy e Spencer nenê desejamos a todos um ótimo fim de semana! Estou pensando de verdade em ir pro show com uma placa escrito TELL SPENCER I LOVE HIM e jogar no palco pro Jeff pegar, será que ele acharia ruim?
Stay beautiful!
Yours truly,
Anna Vitória
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