Hello stranger, como vai você?
(Aliás, você sequer está aí nessa segunda de carnaval?)
Sabe, eu decidi muito cedo na minha vida que não gostava de carnaval.
Meus avós moram numa cidadezinha dessas de interior que se transformam completamente durante essa época: por cinco dias do ano, saem as carroças, os sorveteiros e os velhinhos (inclusive meu avô, indignadíssimo por não poder dar suas voltas de carro) da rua para dar lugar a uma micareta bem intensa, que toma todo o centro e deixa o resto da cidade com aquele cheiro característico de xixi de bêbado e cerveja
esquentando no asfalto.
Apesar disso, minha mãe insiste em ir pra lá todo ano, porque todo ano eles juram que vai haver um bailinho como antigamente, só com o pessoal das antigas e minha mãe sempre compra essa proposta. Então ela vai. E sempre, invariavelmente, é horrível. Mas no ano seguinte, lá está ela de novo (inclusive agora, enquanto te escrevo), porque esse ano disseram que vai ser diferente. É uma perseverança que eu invejo.
Quando era mais nova não tinha muito pra onde correr e tinha que ir com ela, e eram dias horríveis com a sensação de que o trio elétrico estava na sala de casa, fora a arruaça, as pessoas batendo nas janelas, a sujeira, o cheiro, etc. Fica fácil entender por que eu odiava aquilo e é por isso que dou toda a razão para cariocas, recifenses, e qualquer outra pessoa que mora numa cidade de carnaval e odeia carnaval. No único ano que tentei dar uma chance para a folia, sofri o primeiro assédio do qual me lembro. Tinha 12 ou 13 anos e queria desesperadamente me enturmar com minha prima adolescente e as amigas dela. E aí, no meio da bagunça, me vi sozinha e de repente estava no meio de uma roda de tchu-tchu (se você lembra o que é isso, sinto muito). Por um milagre consegui sair correndo, cheguei em casa apavorada e jurei pra mim mesma que nunca mais colocaria os pés naquela cidade em época de carnaval. E nunca mais coloquei.
Billy Corgan na Disney is all of us
Curti muito meu tempo de gótica carnavalesca e passei vários anos isolada na minha toca, aproveitando o feriado para ver muitos filmes, dormir bastante, curtir a cidade vazia ou viajar e ficar alheia o suficiente para chegar na quarta-feira de cinzas sem saber qual era o hit do carnaval. Mas-porém-entretanto-contudo-todavia, há uns três anos venho sentindo uma coceirinha carnavalesca, do tipo que me faz pensar que um bloquinho (eu falo bloquinho mesmo, e você que é chato?) poderia ser muito divertido. Esse ano está especialmente difícil porque várias amigas estão pulando carnaval juntas no Rio (no Rio!) e eu estou sentindo quase que uma dor física de tanta vontade de estar com elas, coberta de glitter (estou OBCECADA por essa nova moda de purpurina na cabeça), de barriga de fora, amando e sendo amada pela terra de meu Cristo Redentor.
Aliás, o dia que confessei isso minha mãe disse que o Rio de Janeiro fritou completamente o meu cérebro - e talvez seja verdade. Descobri há alguns anos que minha alma é carioca, e desde então nunca mais fui a mesma. Agora gosto de sol e vivo por céu e mar, bagunça, pagode, e perco poucas oportunidades de rebolar a minha bunda. Sei que no Rio há muito mais que isso, mas foi justamente essa sua faceta cartão-postal que derreteu um monte de coisas aqui dentro. Em 2014 fui na formatura da minha amiga carioca Paloma, e quando soube que estava prevista uma bateria de escola de samba (!!!) na festa, quase chorei de felicidade. Ela achou graça da minha comoção e me contou que toda festa no Rio de Janeiro termina com uma bateria de escola de samba. Foi naquele dia que eu beijei o chão e vi que não tinha mais volta, tinha achado o meu país. Sambamos explode-coração-na-maior-felicidade até amanhecer. <3
Meu amigo Matheus (lógico) até disse que essa Anna Vitória moro-num-país-tropical-abençoado-por-Deus-e-bonito-por-natureza está merecendo perder a carteirinha de gótica. Pois se algum dia você me encontrar andando na rua de cara fechada (sempre) e minhas brusinha preta, pode ter certeza que nos fones estou ouvindo um pagodinho só pra relaxar. Não é porque em 2005 eu resolvi que odiava que carnaval que preciso manter essa posição em 2016. Tá liberado mudar de opinião, e enquanto vivermos num país livre (HA) tudo bem querer sambar seminua na rua num dia e passar o outro fechada em casa maratonando os filmes do Oscar (aliás, você acompanha o Oscar? Já começou sua maratona? Segura as apostas aí que em breve falaremos disso).
Essa é minha mensagem de carnaval para você: a vida é muito curta e muito longa. Curta demais para nos limitarmos e não vivermos aquilo que dá vontade, experimentando coisas diferentes para ver qual é, e muito longa para passarmos por ela sem mudar de opinião. Vou me unir ao coro da minha amiga Taryne e dizer: nesse (resto de) carnaval, faça algo diferente (e me conta depois como foi!). Nem que seja passar uma sombra brilhosa e um batom laranja para ficar em casa vendo Mad Men, que é totalmente o que eu pretendo fazer assim que terminar esse texto (mas fica o registro público que hei de me planejar desde já se necessário for para que em 2017 eu consiga ir ali ver o que há no carnaval e, se Deus quiser, passe os dois meses subsequentes arrotando purpurina).
Como motivação, deixo você com um trechinho de Noite dos Mascarados, do Chico Buarque, uma das minhas canções carnavalescas favoritas (viu, dá pra gostar de carnaval e ainda ser sofisticaderrerézima com Chico Buarque e Nara Leão):
Mas é Carnaval
Não me diga mais quem é você
Amanhã tudo volta ao normal
Deixa a festa acabar,
Deixa o barco correr.
Deixa o dia raiar, que hoje eu sou
Da maneira que você me quer.
O que você pedir eu lhe dou,
Seja você quem for,
Seja o que Deus quiser!
Seja você quem for,
Seja o que Deus quiser!
Músicas da semana
Aproveitando o ensejo carnavalesco, resolvi compartilhar com você meu crème de la crème dessa coisa linda que é o Brasil. Por muito tempo fui do time sou-eclética-gosto-de-tudo-menos-funk-pagode-e-axé. Passei a adolescência sendo discípula de Rob Fleming/Gordon, acreditando que nossos gostos fazem parte de quem a gente é, e que não dá pra confiar em quem gosta de Wesley Safadão e não liga pros Beatles.
Que besteira, né?
Tudo bem não gostar de Wesley Safadão (HOW DARE YOU) e ser muito fã dos Beatles, e tudo bem também rebolar a bunda ouvindo funk e ir no show dos Rolling Stones num mesmo fim de semana. O que não dá é pra manter esse discurso besta de guilty pleasure, que é babaca e limita nossa diversão, ou achar que seu gosto pessoal é sinônimo de refinamento e aquilo que você não gosta diminui o caráter de quem se atreve a curtir publicamente.
Numa missão cívica de ampliar seus horizontes, vou fazer aqui uma pequena introdução a esses tão temidos porém maravilhosos gêneros musicais. Segura minha mão e vamos lá:
Disclaimer: essa newsletter é 100% #anitter
- Se você é de funk:
1. Corpo Nu (MC Vinícius e Andinho):
Entrando no Maraca, só pra contrariar, a gente se beijando na torcida jovem Fla
Lembro de ouvir essa música pela primeira vez no aniversário de uma das minhas melhores amigas de infância. Ela tinha mudado de escola naquele ano e essa era sua primeira festinha que unia as amigas da escola antiga (eu) e as novas amigas. E aí começou a tocar essa música e todas elas dançavam. Fiquei perplecta: desde quando a gente gosta de funk?, pensei. Era tão automático não gostar de funk que não entendia COMO eu estava gostando tanto daquela música. A Anna Vitória de 21 anos explica para a de 11 (!): porque é um funk PERFEITO. Em dez anos, não consegui gostar tanto de outra música como adoro Corpo Nu.
2. Nosso Sonho (Claudinho e Buchecha):
Se o destino adjudicar, esse amor poderá ser capaz, gatinha
A história da origem dessa música é maravilhosa. Quem me contou foi minha amiga Flahana, provavelmente a única pessoa que gosta mais de Claudinho e Buchecha que eu. Não sei se ela é verdadeira, mas escolhi acreditar: dizem que o Buchecha tinha uma fã mirim especialmente enlouquecida, que ia em todos os shows, escrevia carta de metro e jurava que era apaixonada de verdade por ele, pedia pelo amor de Deus pra que eles namorassem. Só que a menina tinha 12 anos, e nosso amigo Buchecha, dotado do bom juízo que Deus lhe deu, falou pra ela que não ia rolar. Para que ela não ficasse chateada, ele escreveu essa música e lhe deu de presente. Outra coisa ótima: você sabe de onde o verbo adjudicar foi tirado? O Buchecha era viciado em dicionários, que ele lia sempre pra descobrir palavras diferentes. As suas favoritas eram inseridas nas músicas, e adjudicar é uma delas. De acordo com o dicionário do Google, adjudicar pode significar duas coisas: efetuar adjudicação; decidir judicialmente que algo pertence a ou se transfere para (outrem) ou estabelecer vínculo com; vincular, ligar.
Parênteses: Certa noite, numa balada no Rio de Janeiro (lógico), o DJ me agraciou com Nosso Sonho e LOGO NA SEQUÊNCIA Corpo Nu. Eu nunca tinha ouvido essas músicas na balada, quiçá na sequência, e acho que foi uma das melhores noites da minha vida. Se isso não for um sinal claríssimo que eu pertenço ao Rio (cantei bonitinho todos os bairros citados em Nosso Sonho? Cantei sim), eu não sei mais o que é uma evidência.
3. Agora Eu Tô Solteira (Gaiola das Popozudas):
Sou cachorrona mesmo late que eu vou passar, agora eu tô solteira e ninguém vai me segurar
Eu tenho essa teoria bem sincera de que o funk e o rap vão impulsionar a revolução feminista no Brasil. Aliás, já tá acontecendo. Não importa se o engajamento é proposital ou não, não tem como negar que o discurso minha pussy é o poder da nossa amiga Valeixca seja muito simbólico e importante, assim como aquele clipe da MC Mayara, ou a Anitta cantando Bang em todas as rádios - isso para não falarmos da nossa pequena rainha MC Soffia e MC Carol mandando o namorado otário dormir no portão. É claro que dois ou três funks sozinhos não vão afundar o patriarcado, mas eu acredito no poder dos discursos e fecho muito com essas minas gritando sobre sexo e liberdade sem pedir desculpas. Peço um minuto de silêncio pelo fim da Gaiola das Popozudas e vamos todas acender uma vela para que o nosso funk supere a rivalidade entre mulheres.
4. Garota Recalcada (Ludmilla):
Quer boné? Quer touquinha? Vai ficar careca por causa da fofoquinha
E por falar em rivalidade feminina... pois é. Eu disse que o conceito guilty pleasure é ultrapassado e que a gente não tem que ficar pedindo desculpas pelos nossos gostos, mas temos aqui uma exceção. Realmente me sinto incomodada por gostar tanto de uma música que reforça a competição entre as mulheres. Tenho pavor dos conceitos de "recalcadas", "invejosas" e "inimigas" e como eu acredito nos discursos e nas MIGAS, não vejo a revolução feminista supracitada acontecendo enquanto não abandonarmos essa rivalidade. Tendo dito isso, Garota Recalcada, QUE MÚSICA. Contra meus melhores esforços, ainda é minha favorita do disco da Lud.
>> Já que estamos no tópico, queria falar rapidamente sobre o conflito ideológico que muitas vezes surge quando consumimos um material que não vai diretamente ao encontro (às vezes indo na direção completamente oposta) daquilo que a gente acredita. Quando falamos em feminismo e cultura pop, por exemplo, essa divergência é frequente. Eu sou feminista e adoro cultura pop. Eu gosto de funk, pagode e comédias românticas, produtos que frequentemente deixam a feminista dentro de mim de cabelo em pé. Como lidar com isso? Achei meu conforto nas palavras da Roxane Gay, no prefácio de seu livro Bad Feminist:
I embrace de label of bad feminist because I am human. I am messy. I'm not trying to be an example. I am not trying to be perfect. I am not trying to say I have all the answers. I am not trying to say I'm right. I am just trying - trying to support what I believe in, trying to do some good in this world, trying to make some noise with my writing while also being myself: a woman who loves pink and likes to get freaky, and sometimes dances her ass off to music she knows, she knows, is terrible for women. (...) I am a bad feminist because I never want to be placed on a Feminist Pedestal. People who are placed on pedestals are expected to pose, perfectly. Then they get knocked off when they fuck it up. I regularly fuck it up. Consider me alrealdy knocked off.
Resumindo? Eu sou uma pessoa essencialmente falha e acho que preciso escolher as batalhas que vou lutar. Posso usar o raio problematizador pra desconstruir discursos problemáticos em músicas, filmes, etc, mas isso ainda não me impede de rebolar minha bunda sempre que escuto Garota Recalcada ou Baile de Favela. Ainda não li o livro (no dia que comprei fiquei tão empolgada que li a introdução para sossegar a ansiedade de ler logo), mas podemos conversar sobre isso em outros textos e vou adorar saber sua opinião sobre o assunto.
5. Malha Funk (Bonde do Vinho):
Os moleque são dengoso
2016 e eu ainda sou aquela pessoa que grita MINHA MÚSICAAAAAA quando toca Malha Funk em alguma festa (todas), porque além de tudo é um funk com coreografia, e se tem uma coisa que me MOVE é música com coreografia pra todo mundo dançar coordenadinho na balada.
6. Tá Tranquilo, Tá Favorável (MC Bin Laden):
Vai achando que é só playboy que vive em Copacabana
Em último lugar só porque é uma canção estreante, é a minha obsessão do momento. Às vezes eu acho que eu sonhei o MC Bin Laden. Era essa a sensação que eu tive ouvindo a música na versão à capella, cujo clipe é um impressionante plano sequência, provando definitivamente que se não há nada melhor no Brasil do que o brasileiro, o melhor do brasileiro é o MC Bin Laden.
E pra você, qual o melhor (ou os melhores) funk de todos os tempos?
- Se você é de pagode:
Melhor capa de todos os tempos da história dos discos de pagode
Não vou fazer um ranking, mas sim indicar a Melhor Playlist de Pagode de Todos os Tempos, que talvez seja a Melhor Playlist de Todos os Tempos. Pagode Vintage, no 8Tracks direto para o seu coração, com o melhor que os anos 90 pode oferecer em toda a sua glória. Vamos todos agradecer a Karina por essa pérola?
- Se você é de axé:
Por algum estranho motivo que eu JAMAIS irei entender, meus pais tinham esse disco em casa quando eu era criança. Não sei se um deles de fato comprou o CD, o que eu acho pouco provável, ou se foi algum presente infeliz de amigo secreto, mas eis que ele estava lá, Banda Eva Ao Vivo, pronto para ser descoberto por mim. Cresci ouvindo essas músicas, trancada no quarto me imaginando no meu próprio trio elétrico. Uma anedota: desde bem nova sou complexada com a minha altura, sempre mais alta que minhas amigas, a maior da turma, etc. Para me consolar, minha mãe me contou que a Ivete Sangalo também era muito alta e nem por isso ela deixava de ser A Ivete Sangalo, ou seja, MARAVILHOSA. That's some good parenting. Enfim, os melhores axés dos anos 90 estão nesse disco: Arerê, Alô Paixão, Minha Pequena Eva e a breguíssima (que era minha favorita, claro) Coleção.
- Se você é de samba:
O samba perdeu seu estigma negativo, mas nem sempre foi assim. Aliás, samba hoje é sofisticado, cool, descolado, mas um dia já foi tão malvisto como o funk. É por isso que essa newsletter temática de carnaval não pode deixar de prestigiar o ritmo que é a cara do carnaval, tão simbólico dessa coisa linda que é o Brasil. Há vários anos fiz uma playlist no meu blog com meus ~sambas~ favoritos, só para descobrir anos depois (hoje) que metade daquelas músicas não tem nada a ver com samba. Sorte a minha que minha amiga Milena fez a Melhor Playlist de Samba e MPB de Todos os Tempos e posso compartilhá-la com vocês hoje. De verdade: essas músicas tocam aqui em casa todo domingo, porque eu e minha mãe temos esse negócio com os cafés da manhã de domingo em que sempre fazemos coisas gostosas e ouvimos sambas igualmente gostosos a manhã toda. Recomendo.
Minha semana
Semana que antecede feriadão é aquela coisa: não passa nunca. Apesar de estar bem mais focada (voltei pro pilates, cozinhei dois dias essa semana, um troço que sempre me relaxa, e estou me forçando a não mexer no celular logo antes de dormir e logo quando acordo), a TPM bateu com força e com ela veio uma mistura de tédio, irritação e frustração que na quinta-feira me fizeram causar uma pequena destruição interna. Num intervalo de duas horas consegui chorar no banheiro do trabalho + comprar briga de graça com um amigo + pensar em pedir demissão + questionar todas as minhas decisões de vida. Aí fiz as contas e vi que era só a TPM. Ufa.
#Momentos reais com dona Nininha, a pianista da rádio:
- Nossa, uma moça bonita com a cara tão fechada. Por que tão séria?, ela disse, e em seguida enfiou uma balinha de café (!) dentro do meu sutiã (!!).
Já no fim de semana não teve bloquinho, Rio de Janeiro, Recife ou Salvador, mas juntei meus amigos que partilhavam da mesma coceira carnavalesca que a minha e transformamos um sábado na piscina numa festa de carnaval com a simples adição de adereços, glitter em pó (desconfio que toda a minha obsessão com o carnaval gire em torno dos brilhos), e uma seleção musical de altíssimo nível. Segue imagem:
(pela minha pose nessa foto - e em todas as outras do dia - é possível constatar que a obsessão com MC Bin Laden é uma realidade)
- A semana rendeu dois posts no blog: na segunda, aniversário do the one and only Harry Styles, escrevi uma ode ao moço com MUITOS gifs e uma pequena reflexão sobre a importância de sua figura na desconstrução gradual de alguns papéis de gênero; na quinta, fiz um aquecimento para o carnaval comentando os últimos filmes que andei assistindo, na esperança de contribuir com a folia do Netflix de quem se interessar (alguns highlights: The Intern, Carol, e o imperdível Monte Carlo).
Harry surge como um sopro gostoso e necessário de criatividade e ousadia, um ponto de alívio num mainstream cheio de egos masculinos que precisam se reafirmar constantemente, validando um modelo único de representação que na maioria das vezes é agressivo e pouquíssimo gentil com as mulheres - ainda que eles tenham cara de bom moço. Calma, caras. Ser homem não é só isso. Ou melhor, ser homem não é isso. Essa é a mensagem de Harry Styles pra vocês.
Lendo & Assistindo
- Cheguei na metade d'O Pintassilgo (quase 800 páginas, tenha paciência comigo) e estou fascinada com o fato de que ainda não sei, realmente, qual a história do livro - mas isso não me incomoda em nada, porque estou adorando esse processo de chegar lá. Hoje chorei pela primeira vez durante a leitura, achei que valia um registro. Mais alguém lendo Dona Tartt por aí?
- Início de mês é sinônimo de editorial da Rookie assinado pela Tavi Gevinson, uma ocasião sempre aguardada por mim. O tema da revista esse mês é On Display, e para falar de reflexos e imagens, a Tavi resolveu falar de David Bowie. Derreti.
We already spend so much time in our heads, in memories, expectations, and fictions. What if carving out a literal space to engage with the demands of these hyperrealities—through dress, or performance, or an online identity—is what can allow you to welcome spontaneity? Being aware of what you are presenting to people—to the point of confidence and comfort, not insecurity—can be what allows you toforget what you look like.
- Tavi Gevinson é uma das minhas obsessões pessoais, então obviamente amei esse videozinho que mostra um pouco do seu apartamento em NY, que é cool, lindo e cheio de tralhas incríveis, como seus sapatos favoritos da Miu Miu servindo de enfeite em cima da escrivaninha, algo que eu totalmente faria se sapatos Miu Miu tivesse.
- Ainda sobre David Bowie e outra obsessão pessoal minha, a Amanda Palmer (leia Amanda Palmer), tem essa entrevista incrível que ela deu para o Brain Pickings (um site incrível que você deveria conhecer), falando sobre David Bowie, arte e modelos comerciais, fazendo uma discussão legal sobre a indústria e o que significa ser patrocinada diretamente por seus fãs. Amanda lançou recentemente um tributo ao David Bowie, com covers de algumas músicas arranjadas por um quarteto de cordas, junto com participações especiais (uma delas é o Neil Gaiman). Dá pra ouvir tudo pelo SoundCloud e baixar as músicas por $1 cada. Recomendo todas, mas principalmente Heroes.
- Ok, já que estamos falando de David Bowie e obsessões pessoais, não posso deixar de fora o Wilco apresentando Space Oddity em um show recente em Nova York. Não confirmo nem nego que chorei.
- Lembra naquele post que eu recomendei veementemente que vocês assinassem a Lenny Letter? Se você ainda não fez isso, fica como prova da necessidade urgente de fazê-lo alguns pontos altos de uma das edições mais recentes. De uma vez só teve um texto da Bethany Cosentino (maravilhosa vocalista do Best Coast) falando sobre o sexismo na indústria musical; uma reflexão super interessante a respeito das eleições americanas e como é problemático afirmar que uma mulher vota na Hillary Clinton só porque ela é mulher; e uma entrevista incrível com a Dra. Bat Sheva Marcus, sexóloga considerada uma guru do sexo que também é judia ortodoxa.
I think the biggest thing that stops women from enjoying their sex life is shame. And not just religious women. Women are more embarrassed about things than they're willing to admit. They're embarrassed about watching porn, about what their fantasies are, about experimenting with things they might think are silly, about the way they look. And the more you can let go of any of those expectations and just say "Sex is fun," the better your sex life will be. If you're into, like, bubbles or Martians or whatever, that's fine! It just is, and that's fine. Have fun!
- Esse texto incrível da Fernanda sobre as angústias da nossa geração, sobre ser especial ou só mais alguém no mundo, a necessidade de deixar uma marca por onde passamos, Marina Keegan e angústia de querer (ou precisar) ser alguém logo.
- Estou acompanhando BBB (sim, além de gostar de funk e pagode eu assisto Big Brother) mais pelos comentários das pessoas na internet do que pela TV. Sobre a questão Laércio, abuso e Ana Paula, me chamou atenção esse texto da Patrícia sobre o silenciamento que as mulheres sofrem quando resolvem se pronunciar sobre situações abusivas.
Como mulher, conheço várias histórias de assédio, de estupro, e é impressionante o quanto as mulheres ficam sozinhas quando levantam a voz. Ninguém apoia. Na verdade é difícil termos sequer a coragem de dizer que sofremos algum tipo de violência. Eu levantei minha voz na terceira tentativa. A mulher fica na história como louca, descontrolada, exagerada. São adjetivos raramente atribuídos ao homem. Cansa demais o foco ser desviado. Muito se falou no descontrole da Ana Paula "não tinha necessidade, perdeu a razão". Não tinha necessidade eu levantar e fazer um escândalo duas da manhã num ônibus no Mato Grosso, eu deveria ter me levantado calmamente e iniciado um discurso pausado, polido e sem gritos "Senhoras e senhores, esse cidadão que está nessa poltrona me assediou, vocês podem me ajudar?".
Spoiler: ninguém ajudaria, porque sempre há um defeito a ser descoberto na fala de quem se levanta.
- Voltei a assistir Mad Men e agora estou na terceira temporada. Como fiquei algumas semanas sem assistir, fui atrás de recaps dos últimos episódios para me situar e acabei caindo no buraco negro que são os reviews feitos pelo The A.V. Club. Se você curte #séries vale muito a pena buscar pela sua favorita lá no site. As análises dos episódios de Mad Men são excelentes e, como se não bastasse, rolam discussões incríveis nos comentários, que me deixaram acordada até altas horas acompanhando threads de quase mil respostas.
- Acabei de assistir O Regresso, grande favorito do Oscar. Estou tão abalada (sério) que ainda não consigo elaborar nada e preciso de uns dias para absorver o filme, mas minha dica é que mesmo que não seja seu tipo de filme, dê uma chance a ele no cinema porque vale o sacrifício. Não sei qual é minha opinião, mas gostei infinitamente mais do que imaginava. Você já assistiu? VAMOS FALAR SOBRE ISSO!!!
Ufa, agora acabou!
A edição da semana está gordinha, uma liberdade que tomei imaginando que no feriadão todo mundo tem um tempinho a mais para gastar lendo bobagens na internet. Isso, claro, se você não estiver curtindo o carnaval, aí pode passar reto se me mandar uma foto da sua fantasia, beleza? Espero que tenha gostado de pelo menos alguma das coisas que trouxe hoje (me conta? pode responder sem medo de ser feliz!) - mas se não gostou sempre tem outras semana.
Bom resto de carnaval para quem é de carnaval, bom descanso para quem é de descanso, e boa sorte no trabalho para quem não foi agraciado com três dias de folga.
Que a Rihanna no carnaval de Barbados esteja com a gente. Não faça nada que ela não faria.
Seja você quer for, stay beautiful.
E seja o que Deus quiser.
Yours truly,
Anna Vitória
p.s.1: Essa semana sonhei que o João, da história da edição passada, era assinante da newsletter e vinha todo ofendido tirar satisfações comigo. Desnecessário dizer que logo quando acordei chequei todos os e-mails de assinantes e quase mandei mensagem pra ele pedindo desculpas antecipadamente (?). Como a Taylor Swift consegue?
p.s.2: Aconteceu tanta coisa no mundo pop nos últimos dias que fechar essa newsletter foi quase impossível. Escolhi não comentar algumas coisas e deixar pras próximas, mas MEU DEUS DO CÉU A MÚSICA NOVA DA BEYONCÉ, O CLIPE, O SUPERBOWL, A BEYONCÉ. Formation já é a coisa mais importante de 2016.
p.s.3: Estou fazendo essa newsletter sem planejamento algum, então queria saber se o ~conteúdo~ está bacana e o que você gostaria de ver por aqui, sei lá, vai que. Ainda estou aprendendo. Como estímulo, mais uma da Rihennes pra você.