Hello stranger, como vai você?
Hoje é o aniversário de cinco anos da Máfia, cinco anos de uma amizade que começou num grupo de Facebook cujo intuito era... qual era mesmo? Falar sobre blogs? Combinar memes? Na época a gente ainda falava meme. Cinco anos. O bom desses relacionamentos millennials é que a internet ajuda a gente a lembrar datas específicas e importantes de coisas que na hora ninguém sabia que seriam tão importantes. Se eu entrar no Facebook agora consigo encontrar o primeiro tópico, a primeira conversa, e todas as outras.
De acordo com a lógica, não tinha motivo nenhum pra eu permanecer na Máfia. Apesar de já "conhecer" muitas das meninas por conta dos comentários do blog, não era realmente próxima de nenhuma, ninguém me puxaria pelo braço se eu resolvesse sair nos primeiros dias (ok, a Analu definitivamente me puxaria). Em 2011 eu estava prestando vestibular, e em setembro de 2011 eu estava bitolada o bastante pra resolver que não tinha tempo pra isso e virar as costas, seria completamente justificável. Muita gente saiu no começo (o grupo começou gigante) falando que não tinha tempo pra nos acompanhar e... podemos culpá-las? A gente conversava muito mesmo. MUITO. O Facebook travava e não dava conta de subir tantas notificações de risadas em caixa alta.
Em setembro de 2011 tive que escolher entre ser uma boa aluna ou passar a madrugada rindo do dia que uma de nós caiu numa cova ou comeu cocô de cachorro pra saber que gosto tinha. Ou será que era shampoo? Ou os dois? Sei que no fim alguém fez xixi no sofá de tanto rir. ("Oxe, vocês nunca tiveram curiosidade não?", consigo ouvir certas pessoas dizendo) Enfim, acabei ficando com a segunda opção e escolhendo A Gente. Ainda bem.
Uma das minhas fotos favoritas no mundo
No início do ano a Tary inventou de ler algumas das nossas conversas antigas e aí achou um comentário meu toda garota falando que estava em vias de (hahahaha) ficar com um garoto, garoto esse com quem eu não fiquei até hoje. Seria só mais uma frustração banal se numa conversa nossa, alguns dias antes, no ano de 2016 de nosso Senhor, eu não tivesse dito que precisava muito beijar o referido garoto pra ser feliz. Olha. Algumas coisas nunca mudam e a internet não esquece de nada.
A internet, e principalmente o Facebook, pode não se esquecer das merdas que eu falava quando tinha 17 anos, mas ela também não se esquece das carinhas fofas que tínhamos no nosso primeiro encontro, em agosto de 2012. Graças às lembranças lá do outro site passei o mês passado inteiro relembrando esse encontrão que é, e sempre vai ser, uma das coisas mais legais e doidas que já fiz na vida: entrar num avião para me encontrar com pessoas que nunca tinha visto antes. Não teve um segundo de estranhamento, nenhum silêncio constrangedor, ninguém preocupada com o que fazer com os braços. As meninas me encontraram na frente do Center 3 e quase me derrubaram de tantos abraços e apertos.
Desde então a gente já se abraçou e se apertou em São Paulo, Curitiba, Fortaleza, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro e Rio de Janeiro. Em cinco anos a gente entrou na faculdade, se formou na faculdade, mudou de faculdade, mudou de cidade, mudou de país, arrumou emprego, pediu demissão do emprego, foi demitida do emprego, saiu de casa, voltou pra casa, montou a própria casa, noivou, casou, cresceu. E tudo isso com pausas periódicas para rolar no chão de livrarias, fazer folia em transportes públicos, dançar a noite inteira e cantar Taylor Swift sempre que parecesse apropriado.
Foi tanta coisa nesses cinco anos e quando penso na Máfia não penso mais como se elas fossem "minhas amigas da internet", como já repeti incontáveis vezes pras pessoas. Nem o nome Máfia a gente usa mais. Percebi que conto cada vez menos a história de como a gente se conheceu, aquela que a gente sempre amou contar pra todas as pessoas que viam essas meninas com sotaques diferentes andando amontoadas e se perguntavam como tudo começou. A gente se olhava, ria e pensava a mesma coisa: it's kind of a funny story. Não que o começo seja menos importante, mas são tantas histórias engraçadas que a primeira delas já nem é a mais engraçada delas. Importa menos explicar como tudo começou do que dizer de uma vez o que tudo é. São minhas amigas, oras.
Apesar de algumas de nós terem conseguido se organizar em pequenos encontros, em 2016 não teve encontrão (até agora) (I want to believe). Meu pai, logo meu pai, que adora revirar os olhos para as nossas peripécias e que um dia me perguntou se a gente não se divertia além da conta (sim, ele realmente perguntou isso e eu disse que sim, senhor, graças a Deus), chegou a me perguntar se não tínhamos nenhuma "aventura mafiosa" planejada pra esse ano. Disse que não, porque de repente a gente ficou adulta e escolher A Gente não é mais uma questão de ficar acordada até de madrugada em dia de semana, mas de saber que não é sempre que dá pra pagar o aluguel, fazer aquele curso, comprar ração dos bichos e fugir quatro dias pra viver de amor, risada e pinga no Rio de Janeiro. Algumas coisas acabam mudando e A Gente mudou.
Não falo isso com tristeza, mas com gratidão e um baita orgulho (está permitido mudar, lembram?). Quando a gente se conheceu eu tinha 17 anos (DEZESSETE ANOS!!!!!!!!!!) e sinto que muito do que fiz, sou, descobri, enfrentei, aprendi e me tornei hoje tem a marca delas, das que estão e de quem já foi, de quem nunca realmente vai embora. Isso é pra sempre. Ao longo desses cinco anos também deixei de ser uma piveta (porém eterna caçula do grupo) pra me tornar ~mulher~ e sei que sou uma mulher melhor por causa delas. Nos agradecimentos do meu TCC, agradeci dizendo "Obrigada por essa maravilhosa experiência de amizade feminina que, ao contrário do que tentam nos fazer acreditar, é cheia amor, parceria e compreensão profunda. Crescer com vocês, tão maravilhosas seguindo seus caminhos, me inspira diariamente." e é isso.
Estamos crescendo e seguindo nossos caminhos e talvez por isso nosso relacionamento seja mais denso e complicado do que no início, quando tudo era folia e risadas em caps lock. Dizem que intimidade é uma merda, mas gosto do desafio que é conhecer alguém (no nosso caso, alguéns) profundamente a ponto de deixar tudo mais difícil, revelando até nossos problemas mais feios. Gosto porque posso dizer que a gente chega nesse estágio e escolhe continuar, acendendo luzes no caminho escuro, plantando umas flores por onde passa e cantando Taylor Swift pra espantar o medo. Eu continuo escolhendo a gente.
À nós, parabéns e obrigada. Por mais anos, histórias engraçadas, setembro de festas, maios de sol, canudos fálicos, esculturas na praia e pelo menos uma reclamação dos apartamentos vizinhos pelo excesso de barulho fora de hora. Que venha a Croácia!
Semana passada aconteceu uma coisa extraordinária: eu ganhei um prêmio! Ou melhor eu, meus amigos queridos, minhas orientadoras maravilhosas e a Itinerância ganhamos um prêmio. Itinerância, livro-reportagem que fiz como um dos meus trabalhos de conclusão de curso ano passado, foi premiado no Intercom Nacional desse ano, depois de ganhar o Intercom Sudeste em junho. O quão super legal é isso?
Não pude estar presente em nenhuma das ocasiões e ninguém do grupo estava lá pra pegar nosso troféu nacional. Estávamos acompanhando a premiação à distância, já meio cabisbaixos e esperando o pior por conta da demora. "Ninguém sai correndo pra dar avisar que você perdeu", disse meu amigo Rodolfo. Verdade, verdade, porém seguimos esperando até que veio a notícia. Nossas reações no Whatsapp são tão doidas e maravilhosas que queria emoldurar a conversa pra posteridade. Ganhamos um prêmio!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Mas foi por pouco: a falta de tempo e dinheiro desanimou a todos do grupo a ir pro congresso apresentar o trabalho. A gente pensava que seria um esforço enorme pra uma chance bem pequena de um bom resultado. Do dia pra noite (mesmo) e com a ajuda da Ana, nossa orientadora, Rodolfo decidiu ir e passou menos de 12 horas em São Paulo, o maior bate-e-volta de todos os tempos. Sei lá, eu que acredito em tudo acho bem fácil acreditar que era pra ser nosso desde o comecinho.
Ter conseguido fazer esse livro-reportagem talvez seja o maior orgulho da minha graduação. Eu não fazia ideia de como seria o curso, o que eu ia gostar ou quem ia conhecer, mas eu sabia que queria escrever um livro. E hoje ele existe: com todas as minhas referências favoritas do que eu mais adorei ter lido e conhecido e melhor do que eu imaginava, já que foi um trabalho feito junto com as melhores pessoas do mundo. Foi tudo feito no sufoco, no limite, daquele jeito que parece que não vai dar, até que dá certo. Na hora de imprimir, duas gráficas fizeram errado e a terceira também - coisa que eu só percebi na hora que entreguei o livro. Dessas cenas da vida real que parecem filme, lembro que voltei pra casa chorando na chuva ouvindo Long Live, depois de chorar no corredor da faculdade na frente de vários professores. Não me conformava com aquela impressão errada. Era a terceira vez, poxa. Não era nessa hora que as coisas tinham que dar certo?
Aí cheguei em casa, olhei de novo o livrinho, e chorei, chorei, chorei, mas dessa vez foi de felicidade. Caramba, eu escrevi um livro!!!!!
O Itinerância é um livro-reportagem com histórias de pessoas que vivem em movimento, narradas pela Itinerância, essa entidade que a gente inventou pra colocar a culpa sempre que bater aquela comichão de não ficar parado. Na época escrevi sobre o livro e o processo de escrevê-lo no meu blog e na Pólen, caso alguém se interesse.
O prêmio veio numa boa hora para reacender nosso pique de colocar esse filho no mundo. Posso falar que sou enrolada, mas a verdade é que só agora, depois de mais de um ano, realmente tenho tempo e cabeça para trabalhar e pensar numa forma de publicá-lo. Agora é questão de honra. Nosso livrinho é lindo, mas não é justo deixá-lo sendo lindo na minha cabeceira. Esse negócio deu muito trabalho, é bom que alguém leia, hahaha. Se alguém tiver sugestões de caminhos para realizar isso, elas serão muito bem-vindas. A gente não pode ficar parado.
Conheci Marco Pólo, Ulisses, Colombo e Ícaro – mas não quero falar muito desse último porque nossa história não terminou muito bem. Eu sussurrei para eles promessas de luz, honras, esperanças, pimenta e canela.
Sempre gostei de me pendurar no mastro dos navios e gritar para as pessoas que ia ficar tudo bem, que a vida podia ser muito boa do lado de lá. Eu fiz as pessoas acreditarem que havia um lado de lá. Eu deixo as malas mais leves, conheço as rotas mais rápidas, já fiz muito adolescente fugir de casa e sou eu que coloco os pés no painel do carro e ajudo a cantar aquelas músicas que fazem o caminho parecer mais curto.
Eu estava junto em todas aquelas vezes em que você procurou saber quanto era uma passagem de avião para o seu lugar dos sonhos quando ninguém estava olhando. Naquele dia em que você finalmente apertou o botão de comprar, fui eu que segurei na sua mão e sussurrei que ia dar tudo certo – o importante era ir.
Eu faço você esquecer o medo de voar e a preguiça de fazer as malas, convenço que um quarto compartilhado com mais seis desconhecidos pode, sim, ser uma boa ideia (às vezes não é mesmo e, realmente, sinto muito, mas estou só fazendo meu trabalho), incentivo a mentir pro chefe em troca de mais um dia na praia e sou tão boa nisso que tem gente que me escolhe em troca de mais um ano fora de casa.
Nada disso parece familiar? Bom, talvez você não tenha percebido – eu também sei ser discreta – mas já estive com você em algum momento da sua vida, isso eu garanto. Por mais rápido que tenha sido nosso encontro, eu estava lá em todas as vezes em que você olhou pela janela curioso com o que havia do outro lado ou quando você encarou o teto do seu quarto e se perguntou, bem baixinho, se aquele espaço fechado era suficiente.
Meu nome não está no dicionário porque cada um me enxerga como quer. Posso ser um caminhão, talvez um pássaro ou um avião, e tem quem me chame de liberdade, ou de fuga, rota de saída, missão de vida, você escolhe. Eu sou como uma Medusa, só que ao contrário: quem olha no fundo dos meus olhos, em vez de virar pedra, cria asas.
Disco da Semana
MY WOMAN, da Angel Olsen. Poderia dizer muitas coisas sobre a Angel Olsen, mas vou tentar vendê-la pra vocês do jeito que a Odhara vendeu a moça pra mim: "Fim de junho ela lançou uma música perfeita pra mandar praquela crush que não tá rolando mais, mas que você SABE que deveria estar rolando. Você sabe de que crush que tô falando, né?" porque isso é a minha vida e a dor de cotovelo move o mundo. Então fui ouvir Shut Up Kiss Me, a referida música, e foi um caminho sem volta. Me surpreende que Angel não seja pisciana com tantas letras sobre inadequação, não saber expressar sentimentos e viver num mundo de sonhos (e pesadelos) dentro da própria cabeça. Alguém me consegue o mapa astral dessa mulher?
O disco saiu dia 02 de setembro e é uma coisa difícil de definir. Parece synth-pop, mas é mais que isso, às vezes parece country, mas é mais que isso. Soa como pop de garotas dos anos 60, mas vai um pouco além. Angel Olsen é uma discípula moderna de Dolly Parthon e Ronnie Spector, mas é também e principalmente - atenção para a punchline - sua própria mulher. As letras são misteriosas e com cara de sonho, o disco mistura músicas animadinhas e dançantes com imersões de mais de sete minutos, músicas apaixonadas, tristes e divertidas, tornando impossível a tarefa de enfiá-la numa caixa só. Essa mulher quer enganar todos nós e comer nosso coração no jantar. Por mim tudo bem.
Sei que essa minha introdução não está das melhores, então deixo vocês com alguns textos incríveis que saíram sobre minha nova amiga/girl crush/inspiração de vida como esse perfil MARAVILHOSO escrito pela Hazel Cills (ser e escrever como a Hazel: goals), essa entrevista na Rookie e essa resenha do disco na Pitchfork, pela Jenn Pelly.
Músicas favoritas: Never Be Mine (MINHA MUSICAAA), Sister, Shut Up and Kiss Me, Give It Up.
Minha nova estética pessoal
Não sei se você reparou, mas essa edição está extremamente AUTO-CONGRATULATÓRIA. Às vezes a gente precisa olhar para o lado bom das coisas, dizer umas cafonices e dar aquele tapinha maroto nas próprias costas. Para encerrar essa newsletter de vitórias pessoais, queria compartilhar que segunda-feira foi ao ar o centésimo (!!!) post no Valkirias!!!!!! Nesse mesmo dia, antes de me atentar pra isso, passei um tempo fazendo um carinho mental no nosso calendário gordinho e pensando em como era incrível tocarmos o site a quatro meses com calendário lotado, com textos todos os dias da semana, publicando tanta coisa legal de gente ótima.
Sou muito feliz pelo dia que resolvi aceitar pular de cara no projeto secreto da Sharon antes mesmo de saber do que se tratava. Na época estava com uma vontade pulsante e doida de FAZER COISAS e ainda que essa coceirinha teime em não ir embora (a sina de ser megalomaníaca), é muito legal olhar pra trás e ver que poxa, até que fiz e tenho feito umas coisas bem legais. Esse discurso é menos um self-five e mais um obrigada-tamo-junto, porque o site não funcionaria tão bem não fosse pelo trabalho das outras editoras, tão melhores que eu nessa coisa de TOCAR UM PROJETO, mas que ainda me amam e me aceitam como a peça torta nessa nossa engrenagem doida (NÉ?). E, claro, uma gratidão enorme às nossas colaboradoras ou avulsas, que topam dividir um pouco das coisas incríveis que pensam com nossa filhota Valkirete. Obrigada, obrigada obrigada (e vem escrever com a gente!).
Nosso post #100 não foi premeditado, mas foi bem especial com esse texto incrível da Paloma sobre A Pele Que Habito e uma reflexão sobre a cultura do estupro. Já o texto #101 foi um bate-papo comigo, Analu e Luisa sobre Justiça, porque a gente não consegue falar de outra coisa. Todo dia tem coisa nova e legal e especialmente nas próximas semanas temos um material especial preparado, hihi #misteriosa #blogueira
Ufa, agora acabou!
Obrigada pela companhia e por chegar até aqui. A edição dessa semana não vai ter links porque, pra início de conversa, ela nem iria desistir. Passei a semana sem inspiração, cansada e com preguiça e tinha decidido dar o tombo. Eu já estava indo dormir quando mudei de ideia e fiquei até às 3h da manhã escrevendo. Preciso explicar o resto?
Hoje ainda é quinta, mas os galos de tênis hão de nos guiar em paz até o fim de semana.
Fiquem bonitos e escutem Angel Olsen!
Yours truly,
Anna Vitória
p.s.1: Essa semana essa humilde newsletter apareceu na lista de recomendações do blog The Shy Music Lover! Recentemente ela foi também indicada nos blogs de minhas amigas Namby e Michas e eu tive a honra de ser a Profissional Maneira da Semana (tm) na newsletter da Sofia. Eita nóis! Nesse momento estou fazendo coraçãozinho na mão para todos vocês, muito obrigada e saúde a todos.
p.s.2: Se você chegou aqui recentemente por algum desses meios, ou qualquer outro, olá olá, fique a vontade, we're all mad here.
Sempre que quiser, responda essa newsletter como um e-mail normal e escreva para mim, vamos continuar conversando depois que o sinal bater.
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