Hello stranger, como vai você?
Antes de qualquer coisa, precisamos resolver uma questão: você está recebendo minhas respostas? Isto, é claro, se você tiver me enviado alguma coisa. Digo isso porque até agora respondi todos os e-mails de vocês, mas algumas pessoas já vieram me dizer que por algum estranho motivo (meu palpite é esse serviço bosta do TinyLetter) as mensagens têm se perdido no meio do caminho. Se for o seu caso, sugiro que cheque sua caixa de spams e, caso não haja nada lá, me dê um alô para que eu possa encaminhar novamente, ok?
E respondendo a uma dúvida frequente: sim, dá pra responder uma newsletter! Basta responder como se fosse um e-mail normal. Tenho adorado conversar com quem está aí do outro lado e ler as histórias que me contam, então escreva sempre que (e se, claro) quiser <3
Hoje assisti Brooklyn e quase morri de tanto chorar.
Nunca saí de casa, não sei o que é homesickness. No entanto, quero sair um dia e acho que ele está chegando. Como a personagem da Saoirse Ronan, olho ao meu redor e sinto que não há mais nada pra mim por aqui agora que a faculdade acabou. Como boa pessoa ansiosa, mesmo sem saber quando, ainda que não saiba pra onde, já sinto antecipadamente toda a culpa, toda a tristeza, o medo quase paralisante de estar longe e perder coisas que nunca voltam. Às vezes, abraçada com Francisco, o poodle, na frente da TV, sinto saudades do meu bolinha e penso se algum dia vou ter coragem de sair e deixá-lo pra trás. Então eu vi o filme e chorei, chorei, chorei, ao mesmo tempo que sorri, sorri, sorri, igualmente apaixonada pelo italiano de sorriso lindo, encantada por Coney Island, adorando usar maiô, numa dificuldade imensa de resistir aos encantos de Domhnall Gleeson, ansiosa por qualquer coisa de diferente que esteja longe daqui, antecipadamente apaixonada e assustada pela vida que pode me aguardar do lado de lá.
É isso que bons filmes (ou livros, ou músicas) fazem: a gente se identifica com histórias que não viveu e sente as coisas na pele, ainda que esteja longe, bem longe daquilo.
Brooklyn é um dos indicados ao Oscar de Melhor Filme, mas não é extraordinário. Aliás, longe disso, caindo no clichê em vários momentos. Mesmo assim é um dos meus favoritos, porque foi um filme que me fez sentir coisas.
Você já leu Eleanor and Park? Se não leu não tem problema, porque não é da história que quero falar, mas de uma frase apenas. Se você frequenta a internet com razoável frequência provavelmente já viu ela por aí:
É a quote mais famosa do livro, mas nunca gostei dela. Acho cafona, forçada, sei lá. Mas como a vida é esse acumulado de cuspes direcionados ao céu que insistem em cair na nossa testa, vira e mexe penso sobre ela, ou melhor, sinto o que ela quer dizer. O que separa a arte de todas as outras coisas é justamente esse poder de nos fazer sentir coisas. É uma dimensão completamente pessoal, que nem sempre vai de encontro com os aspectos objetivos do que se avalia, mas hoje, para mim, é a que mais importa (feelings are the only facts, etc).
Na adolescência e no início da faculdade quis muito me tornar crítica de cultura quando crescesse. Me imaginava com óculos que não uso na ponta do nariz, tomando notas num bloquinho dentro da sala de cinema, com a ajuda de uma pedante caneta com lanterna, como aquela ex-namorada do Rob Fleming. É algo que já fiz (sem os óculos ou a caneta com lanterna na sala de cinema), ainda faço (de um jeito mais ou menos sério, mas faço), e posso continuar fazendo (oi, me indiquem para frilas), mas não pela mesma perspectiva de antes. Para entender como se fazia, acompanhei de perto o trabalho de vários críticos de diversas áreas e aprendi horrores com eles. No entanto, chegou num ponto que percebi que estava sabendo demais e me divertindo de menos. A atenção pros aspectos formais e técnicos das coisas me impedia de focar naquilo que deveria ser o principal quando a gente consome qualquer produto cultural: o que isso me faz SENTIR? Acredito que antes de qualquer coisa é preciso sentir, depois tiramos outras conclusões.
Isso operou duas mudanças em mim:
Eu comecei a gostar muito mais de algumas coisas;
Eu comecei a gostar muito menos de outras coisas;
Em relação ao Oscar, por exemplo, apesar de todos os problemas da Academia (conservadora, racista, machista, egocêntrica, iludida pelo David O. Russell), desde 2009 trato o prêmio como um filho problemático, talvez viciado em drogas, que eu sei que vai me decepcionar, mas quero estar ali caso ele resolva surpreender. No entanto, desde que essa virada a favor da emoção tomou conta de mim e passei a consumir as coisas com um coração de garota adolescente (muito mais tolerante a cafonices, porém com pouca paciência para qualquer coisa que possua muita cabeça e pouco coração), me peguei completamente desinteressada pela premiação. Afinal, dentre os indicados, o que há ali de realmente emocionante? Quais os filmes realmente capazes de me fazer SENTIR COISAS?
Dei início à minha maratona e a trajetória tem sido um pouco frustrante até agora. Dos indicados a Melhor Filme não vi nada realmente ruim, mas estou sentindo falta daquele sentimento que nos deixa imóveis na cadeira do cinema, encarando os créditos que sobem, com coisas demais na cabeça para levantar e seguir em frente como as outras pessoas. Esse #momento é algo realmente pessoal e não necessariamente significa qualidade formal ou estética, mas não é isso que eu procuro. Como disse, Brooklyn não era extraordinário, mas quando ele terminou eu estava com um sorriso besta num rosto inchado pela hora e meia que gastei em lágrimas. É isso que tenho procurado.
Além de Brooklyn, essa semana assisti Perdido em Marte e Spotlight, dois filmes bons e corretos, talvez até ótimos no caso de Spotlight, mas que ficaram por isso mesmo. Chorei um pouquinho com Perdido em Marte, ok - mas, convenhamos, eu choro com comercial de Natal da Coca-Cola e final de Project Runway. Apesar de ter uma história realmente impressionante (e real!), Spotlight chamou minha atenção pela boca torta do Mark Ruffalo e a caracterização da Rachel McAdams. Vou repetir que essas percepções são muito pessoais mas: não deveríamos esperar mais que isso?
Pensando por esse lado, é com muita relutância que assumo que gostei de O Regresso. É um filme pretensioso que quer muito ser grande, importante, e arrancar nosso WOW a fórceps abusando de estripulias técnicas (alguém avisa o Iñarritu que o único efeito do plano sequência é me deixar tonta?) e uma brutalidade gráfica que parece masoquista se a gente realmente para pra pensar. No entanto, o filme me rendeu. Mesmo com suas quase três horas de duração, mesmo numa sessão às nove da noite de um dia de carnaval em que eu tinha nadado, comido e bebido como um faraó sem nenhum cochilo no meio, mesmo com a falta de diálogos, mesmo com TODA AQUELA GENTE SUJA (eu realmente preciso levar meu problema com pessoas sujas pra minha analista) (não faço análise), lá estava ele, o meu WOW. Saí com as pernas bambas, sem conseguir articular as ideias, elétrica pela vingança, chocada com a brutalidade, SENTINDO COISAS.
¯\_(ツ)_/¯
Meu favorito continua sendo Mad Max, um filme que possui tudo que odeio num filme (ação, distopia, barulho, gente suja, pouco diálogo, gente MUITO SUJA, MUITO BARULHO) e mesmo assim me fez dar socos no ar no meio da sessão, e eu teria gritado de euforia se não estivesse no cinema (talvez eu tenha gritado um pouquinho para logo ser repreendida pelos outros presentes). Fui engolida pela perseguição, me apaixonei/quis ser a Furiosa, me apaixonei/quis ser adotada pelas velhas motoqueiras, fiquei perdida com todas aquelas coisas acontecendo, uma maior que a outra, e no meio de tudo UM MALUCO TOCANDO UMA GUITARRA QUE LANÇA CHAMAS!!!! É entretenimento puro, é um filme que clama por um balde de pipoca, mas cheio de insights amargos, assustadores e de fácil identificação com os nossos tempos quando resolvemos parar pra pensar. SENTI HORRORES, e, de acordo com a linha editorial dessa newsletter, sentimentos são os únicos fatos.
E você, está assistindo aos filmes do Oscar? Qual o último filme que te fez sentir coisas? Tenho a impressão que o Oscar tem sido meu único assunto nos últimos dias, mas com o fim do carnaval e uma semana curtinha, pouco tem acontecido aqui além de filmes. E conversas sobre filmes. E divagações longas sobre filmes e cultura pop. Prometo tentar levar uma vida mais interessante (hahahahaha) para ter o que contar aqui.
Ainda sobre sentimentos
Depois do primeiro choro durante a leitura de O Pintassilgo, que reportei aqui na última semana, estou em uma montanha-russa que só vai pra baixo. Não consigo mais parar de chorar. E sabe o que é mais engraçado? Não estão acontecendo #momentos de chorar. Aliás, O Pintassilgo é um livro sem muitos #momentos ou frases de efeito, mas é uma narrativa tão viva que... eu...fico...emocionada? Com as palavras? tão bonitas! Sábado de manhã eu estava lendo e ouvindo Wilco, e quando começou Shouldn't Be Ashamed me peguei chorando de novo, por todo o conjunto da obra. Algo como essa lua e esse conhaque, etc.
Diálogo real em Her
(mas poderia ser entre eu e Jeff Tweedy):
- Well, you really are your own worst critic. I'm sure it's amazing. I remember that paper you wrote in school about synaptic behavioral routines. It made me cry.
- Yeah, but everything makes you cry.
- Everything you make makes me cry.
Pequenas grandes vitórias recentes
- Abri sozinha uma garrafa de vinho (eu costumava ser a rainha da rolha quebrada, para quem devo passar a faixa?);
- Cozinhei duas refeições completas sozinha (incluindo aí um almoço de domingo) e o resultado foi satisfatório;
- Gabriel, meu amigo do trabalho, voltou de férias e agora tenho com quem dividir meus eye-rolls sempre que alguém fala ou faz alguma barbaridade;
- Uma tentativa de fazer café na copa da firma terminou com pó de café em todas as superfícies, fogão cheio de meleca de café queimada, uma pia cheia de café, um terço de uma garrafa de café ruim - e eu não estava envolvida no processo (!);
- A saída e o retorno de Ana Paula para o BBB;
- A confirmação de Jess Mariano no retorno de Gilmore Girls e todas as conversas maravilhosas que esse fato proporcionou lá no Twitter (me segue por lá, eu passo o dia inteiro discutindo coisas edificantes) - que aliás, podemos continuar: qual seu Gilmore boy favorito? qual casa de Hogwarts você acha que os personagens de Gilmore Girls pertencem? COMO VOCÊ ESTÁ SE SENTINDO COM O IMINENTE RETORNO DA SÉRIE DAS NOSSAS VIDAS?
Pequenas grandes derrotas recentes
- Me aprontar toda e sair cedo de casa para chegar no meu bar favorito e não conseguir entrar porque já estava lotado;
- Passar a semana ansiosa pra ir no meu bar favorito e não conseguir entrar porque já estava lotado;
- Ir parar num lugar onde o garçom pediu meu RG (e eu me achando tão gata e bem maquiada kkkk 17 anos ¯\_(ツ)_/¯ );
- Postei um vídeo com problemas no áudio;
- Sessão lotada de Deadpool (odeio sessões de cinema lotadas);
- Esqueci de comprar o leite pra fazer purê de batata e quando lembrei o mercadinho já tinha fechado (eu realmente queria purê de batata);
(só DRAMAS REAIS essa semana, felizmente)
Pequenos alívios cômicos recentes
- Rir com amigos do nosso próprio flop;
- Uma sessão de fotos aloprada no sofisticado ambiente do McDonalds no meio da madrugada (me proibiram de compartilhar);
- Eu e Analu brincando de Casar, Beijar, Penhasco em vídeo lá no blog;
- Apesar da sessão lotada, Deadpool é divertidíssimo e valeu o desgaste;
- Deadpool oferecendo a melhor declaração de amor do ano: "Vou te encontrar na próxima vida e aparecer na sua janela com uma caixa de som tocando Careless Whisper". #relationshipgoals (as referências a Careless Whisper provavelmente foram minha coisa favorita no filme);
- A novela (dá pra ver a primeira e a segunda parte) que a Kylie Jenner tá fazendo no Snapchat que deve ser a razão oculta pra que o Snapchat foi inventado, apenas SENTI (estou oficialmente OBCECADA pela Kylie);
Música da semana
Se você ainda não encheu o saco do carnaval: Irônico, da Clarice Falcão. Gosto da Clarice Falcão de um jeito nada irônico, embora a internet tenha feito muito esforço para me convencer do contrário, e fiquei feliz de saber que em março ela lança disco novo. Irônico é uma das faixas, que já está no Spotify e outros serviços de streaming, e tem o clipe mais carnavalesco e de humanas de todos os tempos.
Se você já encheu o saco de carnaval: Pick Up The Change, do Wilco. Porque escrevo pra você no domingo, Valentine's Day nos Estados Unidos, e colonizada como sou passei o dia em clima de romance musical. A música é do A.M., primeiro disco da banda, e é loucamente romântica do tipo que eles dificilmente lançam hoje em dia, ao menos não de uma forma tão singela e explícita. Sentindo coisas, várias delas.
++ bônus tracks: em clima de Valentine's Day, uma playlist de amor feita pelo Matthew Gray Gubler, que justifica suas escolhas com frases que me fizeram sentir demais.
+ Beyoncé - Kanye West
Minha opinião sobre o Kanye West em fevereiro de 2016 é: vamos parar de bater palma pra maluco dançar. Não quero discutir problematic faves aqui, só dizer que tudo bem reconhecer o mérito de uma pessoa enquanto artista, tudo bem ser fã de gente falha, só não vale passar pano quando dito artista faz ou fala alguma merda. No entanto, com Kanye virado no jiraya como ele tem estado nas últimas semanas, acho que o melhor que a gente pode fazer é parar de dar atenção e canalizar nossa energia para falar e promover coisas boas, como por exemplo a BEYONCÉ, que está virada na maravilhosidade nas últimas semanas e sempre:
- Entertainer, Activist, Both?, mesa redonda no NY Times sobre Formation e a nova fase de Beyoncé ativista;
- Beyoncé's Best Fashion in Formation, Vogue analisando as modas do clipe e seus significados políticos;
- Beyoncé's Formation Exploits New Orleans Trauma?, texto polêmico analisando se Bey não estaria se apropriando de uma tragédia de forma leviana ao falar do furacão Katrina no seu clipe. Não tenho opinião a respeito, mas fiquei pensativa;
- Por Que Não Existe uma Beyoncé Brasileira?, Tony Goés para a Folha;
- Aliás, a Folha de São Paulo trouxe a Beyoncé na capa da Ilustrada na última sexta e eu gostei bem do resultado, até guardei o caderno #jornalista dá pra ler a matéria principal aqui e a análise também.
+ MC Bin Laden:
De novo a Folha: nesse domingo saiu um perfil do MC Bin Laden, que na vida real se chama Jefferson. Depois desse texto não resta dúvida alguma que ele é a pessoa mais interessante do Brasil esse ano.
- Coldplay:
Anne T. Donahue escreveu algo que eu sempre quis escrever mas nunca soube como: por que, como e quando começamos a odiar o Coldplay. Assim como a maioria das pessoas eu já fui fã de Coldplay (tenho o Parachutes no meu computador até hoje? Não confirmo nem nego), mas algo aconteceu no meio do caminho.
So, by the time Ghost Stories hit shelves in 2014, Coldplay was dead to us. Not because they did anything wrong, but because they represented what we loved before we knew better; before Drake became the softboy posterchild, and before Beyoncé dropped her self-titled masterpiece that allowed us to acknowledge our feelings as well as our strengths.
Ufa, agora acabou!
Obrigada pela companhia de sempre e espero que nessa semana que está começando você possa SENTIR MUITAS COISAS, a começar por esses corgis em campos floridos:
Stay beautiful.
Yours truly,
Anna Vitória
p.s.1: Segunda-feira, 23h45, estreia LAÇOS DE FAMÍLIA no Canal Viva, o único retorno mais importante do que Gilmore Girls.
p.s.2: Esqueci de divulgar aqui na semana passada, mas o Nem Um Pouco Épico está promovendo uma maratona RAVEN CYCLE, então se você ainda não leu A MELHOR SAGA DOS ÚLTIMOS ANOS, a hora é agora. Eu super queria reler e participar da folia até o lançamento de The Raven King (tão perto e tão longe), mas estou com muitos livros não lidos por aqui para reler algo que li ano passado. De qualquer modo, fica a dica.