Hello stranger, como vai você?
Fui uma adolescente que achava que sabia tudo, e que acreditava ser a primeira pessoa a ter a epifania de que era meio estranho arrumar a cama todos os dias para deitar nela de novo mais ou menos 12 horas depois, tirando novamente lençóis e travesseiros do lugar. Não fazia sentido, era idiota, porque quando eu tiver a minha casa eu nunca vou arrumar a cama. Ha.
Por muito tempo arrumei a cama a contragosto, mas foi em 2016 que fazer isso me salvou. Na espiral de ansiedade dos meses de desemprego, se tornou essencial pra mim acordar e arrumar a cama. Era uma coisa que eu podia controlar. Era algo que eu podia fazer além de sentar e esperar. A ideia de viver um dia depois do outro depois outro era menos desesperadora quando eu poderia, pelo menos, arrumar a minha cama.
E respirar. Em 2016 comecei a meditar com regularidade e aprendi a importância da respiração. Ao contrário do que muita gente pensa, meditar não é não pensar em nada, mas sim dar um passinho pra trás e não julgar ou interferir no que se passa na sua cabeça. Abandonar o controle e, assim, recuperá-lo. O início de todo exercício de meditação é sempre o mesmo: respirar.
Fundo. De novo. Inspira, expira. Quantas vezes for necessário. Respira fundo, um baita lema. Every breath is a second chance, lembra? Uma outra chance para mudar, para ser melhor, para voltar atrás, para pedir desculpas, para fazer diferente, mas também uma nova chance para se recompor. Uma pausa pra criar coragem. Abrir os olhos. Inspira, expira. Levantar da cama. Respira fundo. Às vezes é só sobre isso que a gente pode ter controle, a nossa respiração, mas é sempre a partir dela que começamos.
Quando eu era criança, eu achava que tínhamos controle sobre tudo. Depois eu vi que a gente não tinha controle sobre nada e achei isso bonito e poético, de um jeito que a gente só consegue quando é adolescente e o caos é, antes de tudo, um sopro de alívio e independência depois de uma infância supervisionada até demais. Aí o tempo passou e eu vi, de novo, que a gente não tem domínio sobre PORRA NENHUMA, e estamos CONDENADOS, e tudo tende ao CAOS, e vamos todos MORRER. Dessa vez isso me paralisou, e ainda assusta, mas agora estou aprendendo a respirar. Assumir o controle sobre as pequenas coisas que me cabem e seguir com o resto a partir daí.
No final de 2015 escrevi que aquele ano tinha me destruído, mas foi só assim que pude reconstruir as minhas pernas. 2016 foi um teste para ver se elas funcionavam mesmo. Foi um ano difícil, mas um ano bom, de sonhos, sonhos grandes, realizados, e o nascimento de outros tantos. Foi um ano em que eu fui feliz. Mesmo assim, no mundo, na vida e na minha cabeça tive momentos de perder o controle, paralisar, e então voltava para esse princípio essencial de toda coisa viva que é respirar. Aconteceu várias vezes, mas destaco uma delas porque foi dramática e esteticamente perfeita, como num roteiro acidental de filme, em que me transformo numa caricatura de mim: eu tomando banho de banheira sozinha num quarto de hotel de uma cidade diferente sentindo tudo me esmagar, que eu não ia dar conta, que eu queria descer e que alguém fosse me salvar.
Então eu mergulhei a cabeça na água quente, voltei, respirei fundo - várias vezes - e disse pra mim mesma que eu podia fazer isso. Que eu não ia mais chorar. E que ia ficar tudo bem. Aí eu levantei.
Controlar as pequenas coisas. Se preparar pro resto.
Dizem que 2017 vai ser um ano de colheita, de recomeços, de energias renovadas, mas sabemos que também vai ser um ano difícil - mas a gente continua aqui, e eu aprendi a respeitar isso, porque acaba tão rápido. "Life is full of misery, and loneliness, and suffering, and it's all over much too soon" é uma das frases que eu mais gosto do (ugh) Woody Allen e ela representa bem como me sinto em relação aos últimos tempos. Então eu desejo que você aprenda a respirar fundo, assumindo o controle nessa pequena amostra de universo que lhe cabe, e que seja o primeiro passo adianta. Só respira. Quantas vezes for necessário. E ame com todo o seu coração. Acaba muito rápido e não podemos fazer nada com relação a isso, mas nesse pequeno segundo a gente pode respirar. Vai ficar tudo bem.
Feliz ano novo!
No fim de 2014, o Neil Gaiman escreveu isso, e eu reitero:
Hug too much. Smile too much. And, when you can, love.
E como escreveu a Clara, ria também. É a nossa única salvação.
E, claro, stay beautiful!
Yours truly,
Anna Vitória