Hello stranger, como vai você?
Eu vou bem, inspirada, tanto que depois de quase três meses voltei ao meu TCC pela primeira vez. Sei que o TCC é um processo caótico e intenso na vida de quase todo mundo, mas o meu foi uma verdadeira experiência kamikaze. Passada a banca, eu realmente não conseguia lidar com nada relacionado ao trabalho ou ao tema. Até o disco da Beyoncé, que foi basicamente o catalisador de todo o processo, eu parei de ouvir, e se eu mandei a Beyoncé (a Beyoncé!!!) pra escanteio, é porque a coisa tava muito feia.
Mas aí logo na segunda recebi um e-mail da minha orientadora com algumas indicações de congressos e revistas para publicar o trabalho, já que ano passado disse (claramente sob efeito de drogas pesadas) que estava disposta a levar a pesquisa adiante ou pelo menos divulgar os resultados. Nesse mesmo dia, minha professora de francês anunciou que os seminários que apresentaremos nas próximas aulas deverão ser: 1) sobre desigualdade em qualquer âmbito e 2) sobre alguma mulher importante. Automaticamente pensei: vou falar sobre feminismo e Simone de Beauvoir e fazer uma apresentação decente pela primeira vez nesse curso!!!!!!!!!!!!
Na quinta, uma bixete do jornalismo pediu pra ler minha monografia, já que ela está começando um TCC sobre feminismo, e na sexta recebi um feedback muito bacana da Vanessa, amiga antiga dazinternet e feminista acadêmica, que recebeu uma cópia no seu e-mail logo quando ele foi finalizado. Tudo isso contribuiu para que eu passasse minha sexta à noite relendo pela primeira vez esse trabalho que foi como labareda em minha carne, minha alma e minha lama. Como essa semana celebramos (será?) o polêmico Dia Internacional da Mulher, achei que era o momento de falar sobre ele.
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Para quem não sabe, minha monografia foi sobre feminismo, mais especificamente esse momento do feminismo que estamos vivendo agora, em que o movimento é ordem do dia em todos os veículos de comunicação, celebridades são obrigadas a se posicionar a respeito, marchas a favor dos direitos das mulheres tomam as ruas do país, e discutimos descriminalização do aborto, assédio sexual e cultura do estupro em nossos textões na internet. Na nossa primeira aula sobre TCC, a professora disse que um bom ponto de partida para a escolha do tema era pensar em alguma questão que tínhamos (envolvendo, claro, Comunicação e Suas Interfaces) que não poderia ser respondida com sim ou não simplesmente.
Minha pergunta era bem simples: QUE QUE TACO TESENO???
Meu questionamento vinha, principalmente, da mistura recente entre feminismo e cultura pop e a popularização do movimento através do discurso de celebridades. Aliás: popularização ou apropriação? Essa era outra questão. Assisti a apresentação da Beyoncé no VMA de 2014 diversas vezes e a imagem dela contra aquele telão onde se lia FEMINIST em letras garrafais foi um troço que não saiu da minha cabeça. Aquilo foi simbólico demais para ser ignorado, e eu me perguntava: como isso aconteceu? Ainda lembrava de quando feminista era praticamente uma palavra alienígena - ou pior, um palavrão - no nosso vocabulário, como na primeira vez que me chamaram de feminista (em 2010!) e eu me senti, de certa forma, ofendida. Mas aí, quatro anos depois, os nomes mais importantes do pop no momento estavam falando abertamente sobre isso, se declarando feministas e puxando uma conversa sobre o tema.
Eu acredito muito na cultura pop e nas narrativas midiáticas como elementos importantes na construção de mudanças ou paradigmas sociais, e vendo tudo isso acontecer, de novo, eu só conseguia pensar: QUE QUE TACO TESENO?
QUESTÕES
Minha orientadora nunca tinha trabalhado com estudos de gênero antes, muito menos com feminismo. Decidir seguir com ela foi um salto no escuro, mas não era como se eu tivesse muita escolha dentro do meu curso. Até mais ou menos o fim de outubro ela ainda não tinha entendido realmente o que eu estava fazendo, e para ser bem sincera acho que nem eu. No início, queria estudar esse feminismo pop e entender o que era popularização e o que era apropriação, e se era possível que esses dois movimentos coexistissem. Um dos primeiros livros que li foi Backlash, da Susan Faludi, em que ela fala sobre uma virada antifeminista que a opinião pública sofreu nos anos 80, logo depois de ter conquistado vários avanços nos anos 60 e 70. O livro, claro, aborda o caso norte-americano (de forma bem esmiuçada, realmente interessante para quem quer se aprofundar no tema), mas com ele aprendi algumas coisas essenciais: 1) não é de hoje que o movimento feminista vive momentos de intensa atenção midiática 2) não é de hoje que o establishment odeia o feminismo 3) se fôssemos colocar os direitos das mulheres ao longo da história num gráfico, ele teria o formato de uma espiral assindótica (nunca esqueci esse termo, demorei horrores para entendê-lo de verdade) em que os avanços são seguidos de retrocessos que acabam resultando no apagamento histórico de lutas anteriores.
No caso que ela relata da situ americana nos anos 80, o discurso era que as mulheres tinham conseguido a igualdade e a liberdade que elas queriam e era por causa de tantos direitos e liberdades que elas estavam infelizes (?). Ou seja, o feminismo fez das mulheres miseráveis, então a tendência agora é voltar a ser dona de casa e esquecer esse papo de direitos iguais. Estão querendo acabar com o romance! O feminismo matou a essência delicada da feminilidade! Morte ao feminismo! Parece familiar? Pois é.
Nas minhas pesquisas acabei topando a Marjorie Rodrigues, que hoje é um nome importante no nosso feminismo virtual, cujo TCC foi justamente uma releitura do trabalho da Susan Faludi, só que no contexto brasileiro, tendo como enfoque os anos 90 e início dos anos 2000. Entrei em contato e ela foi gentil o suficiente em compartilhar o trabalho comigo, que me impressionou de cara pela quantidade de material que ela analisou. A monografia dela foi a primeira referência concreta para o que eu queria fazer - basicamente transportar esse ângulo de análise para os nossos ~anos 10~ (fico muito assustada escrevendo isso) - focando principalmente na cultura pop e na internet. Tudo certo! Tudo ótimo! Tudo supimpa! Né?
Não.
Não sei se vocês lembram, mas 2015 foi um ano intenso para o feminismo. Toda semana eram duas ou três polêmicas diferentes, sempre envolvendo ativismo virtual + atenção da mídia. Sobrou até pro Enem. Eram hashtags, textões, métricas, discussões infindáveis, manifestações, capas de revista, programas de TV, e eu afogada em tudo isso, sem conseguir parar de ler e incapaz de escrever uma linha sequer. Eu só lia, lia, lia, até chegar num ponto que tinha tanta informação que não fazia a menor ideia do que fazer com ela. A discussão que eu tinha na cabeça já me parecia menor perto de tantas coisas importantes acontecendo e senti que seria um desperdício deixar esse momento passar.
Fazer uma monografia sobre algo tão importante, algo que estava acontecendo e mudando literalmente à medida que eu ia escrevendo, foi um privilégio e um desafio. Um privilégio porque a sensação que eu tinha era que eu estava no meio da história, sentada num banquinho anotando tudo que acontecia, vendo acontecer algo que foi descrito em livros escritos há 50, 60 anos. Um desafio porque apesar de ser uma história bem cíclica, existiam ali vários fatores novos que ninguém tinha estudado antes. Tinha internet, tinha redes sociais, tinha hashtags - a literatura já bem avançada que falava sobre a ascensão dos blogs feministas e do ativismo virtual já não era suficiente para explicar tudo isso. Fui sortuda o suficiente para ganhar de presente a Época e a Isto É que, numa mesma semana, lançaram como capa as marchas de mulheres contra a PL do Cunha, com matérias longas que tratavam o feminismo de uma forma mais ou menos completa. Essas revistas acabaram sendo meu estudo de caso, junto com as hashtags #primeiroassédio e #meuamigosecreto, que tiveram que entrar apenas conclusão pela falta de tempo. A edição feminista da Elle saiu no dia que entreguei a versão final da monografia, e eu e minha orientadora choramos abraçadas porque faltava uma revista feminina na minha análise e ela seria o exemplo perfeito. Mas quando penso que as publicações que usei saíram no dia 11 de novembro e eu entreguei o trabalho dia 07 de dezembro, aceitei que fiz o que foi possível no meu tempo limitado. Em algum momento eu tinha que colocar um ponto final nessa história.
Ok, Anna Vitória, agora que você já falou tudo isso, dá pra responder, afinal, QUE QUE TACO TESENO PLMDD?
Então, o boom midiático do feminismo não é uma novidade dos nossos tempos. Desde que existe imprensa, desde que existe mulher, e desde que existe mulher lutando pelos seus direitos, em maior ou menor medida essas ações tiveram atenção dos veículos de comunicação. Num texto curtinho e bem didático a sempre ótima Sofia dá uma resumida legal no assunto - minha orientadora só foi realmente entender o que diabos eu estava pesquisando depois que mandei esse post pra ela. O problema é que essa atenção da mídia era coisa que costumava acontecer de cima pra baixo, de fora pra dentro.
É idiota generalizar e querer dizer que a grande mídia é sempre manipuladora, entende tudo errado e está sempre a serviço do sistema. É mais importante entender de onde vem os discursos que ela veicula e foi mais ou menos isso que tentei fazer. Minha orientadora maravilhosa finalmente se situou na história e deu aqui sua contribuição mais frutífera, que foi enxergar o melhor suporte teórico para tentar explicar tudo isso. Esse suporte veio na forma da teoria da esfera pública, de responsabilidade de Jürgen Habermas (e criticada depois pela maravilhosa Nancy Fraser, com pontuações que foram essenciais pra mim), um velhinho alemão cujo trabalho eu não recomendaria para ninguém, ao mesmo tempo que indico a todos (pois é). Não vou tirar minha cópia suja, amassada e grifada de Direito e Democracia da gaveta e dar aula pra você (até porque, risos, acho que já esqueci tudo), mas basta entender que esfera pública é o espaço onde os discursos são socializados. No início da modernidade esse espaço eram os bares, cafés e salões onde as pessoas se reuniam para trocar uma ideia, e a imprensa sempre foi a principal instituição da esfera pública, dando um alcance extraordinário para essas mensagens.
O problema é que quase ninguém podia, realmente, trocar uma ideia, muito menos publicá-las. O espaço da esfera pública estava restrito aos homens brancos burgueses, excluindo automaticamente camponeses, negros, imigrantes, e, obviamente, as mulheres. Isso significa que toda a informação que se produzia (desconsiderando aqui os meios alternativos) nascia a partir da perspectiva de um homem branco burguês. No século XIX, mas nos que se seguiram também, porque embora existam mais mulheres nas redações, os conglomerados de imprensa ainda são de propriedade desses mesmos homens e a gente precisa entender que é difícil demais um jornal ou revista quebrar esse ciclo e publicar qualquer coisa que vá contra o interesse de quem está lá em cima. Isso, claro, até a internet surgir.
Não sou ingênua ao ponto de enxergar a internet como um espaço verdadeiramente democrático. A rede mundial de computadores ainda é um lugar de privilegiados e em seu modo default acaba reproduzindo as estruturas de poder do mundo offline. Mesmo assim, foi uma mudança realmente grande no feminismo ter conquistado esse espaço que deu às mulheres o poder de escrever a própria história, gerar suas próprias discussões, gerando um alcance realmente extraordinário. A internet também é esfera pública assim como as revistas digitais, blogs e grupos no Facebook onde todo dia a gente discute padrões de beleza, aborto, sexualidade, cultura do estupro, apropriação cultural, etc. Além disso, a gente discute a própria imprensa na internet. Quantas vezes você já não topou com a famosa problematização de uma capa de revista, uma coluna de jornal, uma propaganda equivocada, um programa de TV cujo tiro saiu pela culatra? Muitas vezes. E isso é poderoso!
Meus primeiros contatos com o feminismo foram na escola e na universidade, mas eu só fui sentir que realmente poderia fazer parte disso na internet, onde ouvi e fui ouvida, aprendi quase tudo que eu sei e sigo aprendendo todos os dias. Quando mostrei pra minha mãe o vídeo da Jout Jout sobre relacionamentos abusivos ela ficou tão fascinada que levou para ser exibido na comemoração do Dia da Mulher do trabalho dela. Ela contou que foi absolutamente catártico: mais da metade das mulheres de repente se viu naquelas situações e percebeu pela primeira vez que viveu ou estava vivendo um relacionamento abusivo. Você tem noção de como isso é GRANDE? Por outro lado, seguindo bem a cartilha do modelo do backlash, o sistema tenta tirar os poucos direitos que já temos. Não vou gastar minhas palavras descrevendo os absurdos, não hoje; você sabe quais são. E a grande mídia volta a prestar atenção no feminismo, se perguntando também o que diabos está acontecendo - mas dessa vez perguntando para as pessoas que estão diretamente envolvidas com aquilo, coisa que dificilmente acontecia antes.
Uma coisa que me deixou absolutamente FASCINADA foi descobrir como o Habermas era cético com relação à possibilidade de algum ator social fora das esferas de poder (seja ele político ou econômico) influenciar de alguma forma a opinião pública veiculada nos meios de comunicação. Ele até descreve como isso poderia acontecer - um movimento social criar uma mobilização forte o suficiente para pressionar o sistema e obrigar a mídia a falar sobre isso. Vendo todas essas revistas, programas de TV, e especiais de jornal falando sobre feminismo nos últimos meses, fica claro que hoje é possível sim, e tudo começou na internet. É claro que nem sempre o quadro que esses veículos pintam é completamente fiel ou preciso, mas acompanhando de 2010 pra cá, é nítido como o cuidado dos repórteres é maior, porque eles sabem que os erros vão gerar mais repercussão até que os acertos, gerando uma publicidade negativa e uma descrença ainda maior nos grandes veículos. Então, sim, coisas boas acontecem.
Embora eu seja uma eterna otimista, não acredito que o jogo esteja ganho. Aliás, para quem luta contra o que é grande e estabelecido, o jogo nunca está realmente ganho. Embora a representação midiática do feminismo nunca tenha sido tão positiva, ela ainda é cheia de problemas. E embora estejamos falando sobre feminismo e direitos das mulheres mais do que nunca, na prática vivemos uma onda conservadora que ameaça nossos direitos. E embora nossa voz esteja alta o suficiente para chamar a atenção de muitas pessoas, algumas vozes continuam sendo caladas, vozes de mulheres, e isso é grave. Os fóruns virtuais funcionam como ótimos espaços de inclusão, acolhimento e aprendizagem, mas estão também cada vez mais hostis.
Vou compartilhar meu exemplo: depois da overdose de problematização feminista na qual mergulhei ano passado, decidi me afastar um pouco das discussões. Primeiro porque realmente me faltavam condições físicas e psicológicas para tanto, mas depois porque a agressividade desses espaços estava sugando minha energia. Sempre fui muito mais de ouvir, ler e entender do que me colocar ativamente nos debates e mesmo assim me sentia agredida e intimidada em vários espaços.
A Marjorie Rodrigues recentemente postou um texto que me contemplou bastante. Muitas pessoas acharam polêmica a comparação que ela fez do feminismo ao dogmatismo religioso de algumas igrejas neopentecostais. Eu achei que ela estava descrevendo exatamente como me sinto em vários momentos. Sabe, eu frequentei igreja por alguns anos e embora não tenha deixado de acreditar em Deus, saí da igreja porque estava cansada de me sentir julgada e errada. Um espaço que devia ser de acolhimento fazia com que eu me sentisse intimidada e excluída, como se eu nunca pudesse estar certa. Parece familiar?
Já disse isso aqui outras vezes: quero um feminismo propositivo, pautado pelo que se deseja alcançar, e não um feminismo meramente reativo, pautado pelo ressentimento, pelo que o outro faz conosco. (...) Eu saí da religião porque não queria ser uma pessoa fanática, presa a dogmas inquestionáveis, apenas repetindo o que o grupo dizia. Queria me livrar da lógica de culpa, de pecado. Virei feminista também em resistência à religião, ao que se falava dentro do ambiente neopentecostal sobre a mulher. Não consigo, portanto, evitar sentir certo medinho ao ver o movimento social onde me encontrei me lembrar aquilo de que fugi.
No texto ela cita como exemplos discussões que não acompanhei, sendo a principal delas a polêmica da Fernanda Torres. Até hoje não li esses textos, então é impossível ter uma opinião formada. No entanto, li no Twitter um argumento interessante sobre essa história toda que basicamente é: o feminismo atualmente não permite nuances. É como um reflexo da polarização política que vivemos: não é permitido discordar de alguns aspectos, sequer questioná-los, sem receber hostilidade de volta. A gente se esquece de não falamos de feminismo, mas de feminismos, porque somos tantas e tão complexas que é ingenuidade acreditar que um único movimento vai nos contemplar.
Ainda pensando sobre nossos atuais desafios, a Clara Browne escreveu lindamente em sua última newsletter (que, aliás, é meu novo xodó), sua opinião sobre a situação atual da internet que acredito que se aplica muito ao nosso ativismo virtual:
Cada vez mais vejo pessoas dizendo que escrever para um lugar x, aparecer num lugar y, falar ou não falar sobre o assunto z são coisas problemáticas. Cada vez mais vejo pessoas dizendo que são viciadas em problematizar e, com isso, acabam expondo outras a situações horríveis. Pessoas estão sendo atacadas todos os dias pelas menores coisas porque a comunidade online está cansada e decidiu pegar aquele exemplo pequeno pra desabafar sobre problemas maiores. Falamos muito, muito, muito em problematizar as coisas e desconstruir certos preceitos. Mas do que adianta quebrar toda a rua se não a asfaltamos? Do que adianta fechar uma avenida e não dar uma alternativa de rota? (...) Eu quero construir pontes. Porque eu acredito que é assim que conseguimos o que queremos, que é assim que as coisas mudam. Se foi conversando, trocando experiências e ensinamentos que me construí, por que raios não farei isso com os outros? Por que raios quando chega a minha vez de poder ajudar uma outra pessoa a ver algo de outra maneira eu vou atacá-la, se quando era eu ali me explicaram didaticamente as coisas? Por que raios eu não vou ter paciência com principiante sendo que eu já fui uma também, sendo que eu ainda sou uma também, sendo que todo mundo aqui tá aprendendo o tempo todo? A gente só para de errar e aprender quando morremos. Então por que raios vamos crucificar tantas pessoas por estarem vivas e tentando entender as coisas do mundo?
(CLARA CASA COMIGO!!!!!!!!!!1)
Então é isso. Nessa semana, vamos lembrar que o Dia da Mulher não é uma data de flores e louvores à nossa delicadeza (embora eu tenha descoberto que sou uma pessoa flores e as aceite de bom grado dia 08 e sempre), mas sim de reflexão e luta, como, na verdade, todos os outros também são. Meu pensamento para esses dias é esse: é tarde demais para nos calar (uma frase linda e forte que foi título da monografia e veio direto de um post no Think Olga, um site cujo trabalho me ajudou de formas inagradecíveis), mas é preciso também ouvir e conversar mais, sempre, principalmente entre nós.
Caso você se interesse, consegui a liberação para disponibilizar meu TCC no Issuu. Ano passado, quando terminei, algumas pessoas se interessaram e eu prometi que pensaria numa plataforma legal para socializar isso. Não é exatamente o que eu queria e estou jogando no mundo a versão tal qual entreguei para a banca, a mesma que concluí na madrugada de domingo para segunda, para revisar segunda de manhã e entregar na segunda à tarde. Ainda quero voltar a esse trabalho, talvez desmembrá-lo em alguns artigos, mas no momento é o que se oferece. Espero que possa ser útil para alguém, foi um trabalho que fiz para tentar resolver questões particulares, mas que acho (talvez com alguma pretensão) que ele pode também adicionar um ponto nessa nossa grande conversa sobre feminismo - que, ainda bem, não tem fim.
Disse para mim mesma que não ia cometer textões, mas textão it is. Sei que estou conectada a uma bolha maravilhosa na internet cheia de pessoas sempre dispostas a pensar e discutir sobre esses temas, mas caso o texto da semana não tenha sido do seu interesse, bem, sempre tem outras semanas por aí, né? Mas caso você tenha se interessado, vamos continuar essa conversa! Quero muito saber seus pensamentos sobre isso, trocar textos, ideias e gifs da Beyoncé - e sempre com muito respeito, mas não preciso lembrar ninguém disso.
O que teve essa semana?
Essa semana foi um grande nada na minha vida. Acho que toda a exaustão não só física mas principalmente emocional da última semana me derrubou e vivi os últimos dias completamente no piloto automático. Escrevo para você no domingo à noite e a última vez que saí de casa foi sexta. De manhã. Queria dizer que usei esse tempo livre para ler, escrever, ver filmes, arrumar meu armário ou ficar em dia com as famosas séries, mas não. Não fiz nada mesmo e tô aqui com o cabelo sujo e preguiça de ir até a cozinha esquentar um prato de comida. Não se pode vencer sempre.
- Postei no blog o meu discurso de formatura, que eu fiquei muito feliz e honrada de poder escrever, junto com algumas fotinhas dos festejos. É sobre jornalismo mas também sobre incerteza, coragem, e a necessidade de ler Amanda Palmer.
- Lá na Pólen, escrevi sobre a dificuldade que eu e muitas pessoas temos em nos afirmar escritoras. Não só escritoras, mas qualquer pessoa no universo criativo parece achar difícil dizer em voz alta qual seu ofício, vivendo uma ilusão de que é a validação externa que nos torna qualquer coisa. Mas não é bem assim. Né?
- Ando sempre às voltas com minha obsessão metalinguística sobre a escrita, e a coisa mais incrível que assisti essa semana foi a participação da Lícia Manzo no programa Ofício Em Cena, da Globo News. Aliás, muito da improdutividade dessa semana veio do fato de que eu finalmente me cadastrei no Globosat Play (basicamente um Netflix dos canais Globosat, disponível pra todo mundo que possui TV à cabo com esses canais inclusos) e passei todo o tempo vendo todos os programas da Rita Lobo. Divago: Lícia Manzo é minha autora de novelas favorita, a pessoa que escreveu as perfeitas A Vida da Gente e Sete Vidas. Suas tramas giram em torno do universo familiar, com diálogos densos, em que as novelas são basicamente uma grande DR que nunca é chata. Nesse programa ela discute seu processo criativo e é realmente fascinante. Infelizmente não encontrei um vídeo no Youtube, mas deixo vocês meus momentos favoritos:
"Eu tenho uma relação paradoxal com as pessoas, ao mesmo tenho que tenho um amor muito grande tenho muita dificuldade de lidar com gente" - Lícia Manzo sendo eu;
"Acho que todo escritor é um pouquinho disfuncional. Se eu soubesse aproveitar melhor a vida eu estaria vivendo, não escrevendo" - Lícia Manzo sendo insuportavelmente eu;
- A ressaca não foi apenas emocional, mas literária. Mais de uma semana depois de ter terminado O Pintassilgo e várias leituras que não saíram do primeiro capítulo, na sexta me rendi e comecei a ler Modern Romance, do Aziz Ansari. O livro é uma investigação sociológica sobre relacionamentos modernos, um tema que tem me interessado pra caramba nos últimos meses. Até agora ele não falou nada de muito extraordinário, mas o texto é ótimo e adoro a sensação de ouvir a voz dele na minha cabeça (que homem). A Babi compartilhou no seu blog vários textos analíticos sobre aplicativos de paquera - ainda não consegui ler todos, mas tem esse do Aziz Ansari (que homem) que foi o que me deixou com a urgência de partir logo pro livro (que eu tinha no Kindle e nem sabia que era sobre paquera, mas queria ler porque era do Aziz) (que homem);
Música da Semana
Conventional Girl, da Kate Nash. Essa semana o Girl Talk, último disco da Kate Nash, fez aniversário de três anos (tá bom de lançar outro, né miga?), e achei que era hora de recordá-lo. Muita gente estranhou a virada punk da Kate Nash, criticou a gritaria e a barulheira, eu só fiz ficar mais apaixonada. Acompanho a carreira dela desde o primeiro disco e é incrível perceber sua evolução como mulher ficar evidente nas letras. Girl Talk é um disco feminista, nervoso, cheio de gritos, o primeiro dela ao lado de sua Girl Gang, a banda de garotas que ela montou para acompanhá-la nos shows. É lindo e salvou minha noite de sábado. Amo tanto que várias músicas, como essa que escolhi pra te mostrar, eu volto do começo antes mesmo que ela termine, porque amo tanto que preciso ouvir de novo e de novo e de novo.
Ufa, agora acabou!
Se você chegou até aqui, o meu muito obrigada. Tenha uma ótima semana, evite o clique de indignação e a discussão infrutífera. Caso você fique com muita vontade de brigar na internet, lembre-se da serenidade dessa cabra bode (?) de galochas e siga em frente.
Stay beautiful!
Yours truly,
Anna Vitória