NO RECREIO: Falso espelho
Recentemente li um artigo da New Yorker que dizia que o mundo pós-pandêmico será palco para uma verdadeira infestação de protagonistas, ou melhor, pessoas vivendo a vida inebriados pela main character energy que apenas os sobreviventes de uma pandemia de proporções cinematográficas pode ter. Segundo Kyle Chayka, autor do texto, “queremos retomar o controle sobre nossas histórias, nos jogar no mundo, ocupar novamente o papel de protagonistas - e postar sobre isso.”
Para ele, o impulso seria motivado não só pelo tempo passado dentro de casa, mas também por esse tempo que foi vivido sem registros de nossas vidas na internet para além dos pães de fermentação natural e outros pequenos hobbies adequados às restrições sanitárias do período. É bonitinho demais ver essas pessoas inocentes que de fato passaram por um lockdown e não tiveram que ver seus conhecidos semanalmente protagonizando uma realidade paralela via Stories, curtindo praias, bares, restaurantes e festinhas mesmo com uma média móvel de mortes acima de 2 mil pessoas por dia. Mas divago.
Eu também acho que sairemos dessa com uma afetação de protagonista jamais vista, mas não pela euforia diante do retorno da vida lá fora. Nossa main character energy vai predominar porque não saberemos mais diferenciar entre uma coisa e outra depois de tanto tempo vivendo aqui dentro.
Bo Burnham sentado em frente ao espelho segurando um microfone, com a câmera ligada encarando o reflexo
A primeira vez que ouvi a respeito do arquétipo Main Character ™ - que pode aparecer em referências como main character vibes, main character energy, ou ainda main character syndrome - foi através da minha prima gen z de 18 anos. Óbvio.
Eu estava passando uma pequena temporada na casa dela no interior de São Paulo, em novembro do ano passado. A casa fica em um condomínio fechado e tem a melhor coisa que uma casa pode ter num momento como esse: uma localização privilegiada bem em frente ao parquinho, que na pandemia virou uma espécie de quintal particular.
Depois de meses trancada em um apartamento, aproveitei esse pequeno retiro para tirar o máximo de proveito do espaço: ia de manhã fazer yoga embaixo das árvores e ficava lá pelo resto do dia, lendo e tomando notas para minha dissertação de mestrado. Foi quando eu li um livro do Honneth inteiro pela primeira vez, fiquei emocionada com a teoria do reconhecimento e comecei a dizer pra todo mundo que entendo Hegel (eu não entendo Hegel, mas gosto de pensar que estou no caminho certo). Depois que fui embora, meu primo gen z de 15 anos me escreveu dizendo que foi estranho abrir a janela de manhã e não me ver na posição do cachorro olhando pra baixo “lá na sua árvore”. Chorei. Sempre quis ser olhada à distância como alguém que possui sua própria árvore em um espaço público.
Em um desses dias, minha prima tirou uma foto minha de longe: “Main character vibes”, explicou. Fui obrigada a concordar com ela.
im very proud of this one https://t.co/fMUDxqDQVz
Costumo dizer - meio brincando, meio a sério - que ter tido uma adolescência muito chata foi o que fez de mim escritora. Nunca escrevi tanto como na época do meu ensino fundamental e médio: cada passeio no shopping se tornava um grande épico nos arquivos do meu blog, o que hoje vejo como um exercício inconsciente de transformar uma vida absolutamente banal em uma narrativa de protagonista. Passei boa parte da minha infância e pré-adolescência lendo e assistindo histórias sobre adolescência, acreditando que a vida ia acontecer quando ela chegasse. Mas a realidade foi bem diferente, então eu escrevia para compensar.
Nada do que eu contava era mentira, mas aprendi a contar de um jeito que fazia aqueles episódios parecerem mais vivos, engraçados e interessantes do que realmente eram. Meus amigos ficavam ansiosos para ler o que eu iria escrever sobre aquilo que estávamos vivendo antes mesmo do dia acabar. Foi mais ou menos o que fiz alguns parágrafos acima: grandes bosta passar a tarde embaixo de uma árvore num condomínio fechado de classe média, mas aí você floreia a história com laços familiares, teóricos que ninguém conhece direito, uma atividade física descolada e de repente sua procrastinação é mais interessante que a das outras pessoas.
Com filtro e trilha sonora, temos um main character moment pronto para ser publicado.
Eu já estava na faculdade quando ganhei meu primeiro smartphone, e todo esse intenso processo de registro da minha adolescência foi vivido sem Instagram, sem celulares com câmera, o que talvez tenha me dado a chance de criar uma distância entre minha identidade online e a pessoa que sou fora dela. Cada vez mais, acho que esse é um privilégio que a minha geração foi a última a ter. Sei lá.
A gente lembra como era Antes, a gente deseja desesperadamente voltar para lá, a gente gosta de se iludir achando que isso é possível.
Apesar de ter aprendido a me inventar através da internet, NA MINHA ÉPOCA os blogs ainda emulavam uma experiência que era - em termos de médiums - essencialmente a da escrita. Usava como referência uma crônica do Antonio Prata, um boomer raiz, para explicar minha relação com meus textos e agora vejo que esse detalhe geracional faz todo sentido.
Não sou corajoso, por isso escrevo. Escrever é uma forma de segunda época da vida, de recuperação nas férias. Ao vivo e em cores não sou como gostaria e o mundo não é perfeito. Então coloco uma letra depois da outra e tento transformar ressentimento em graça.
Trecho retirado da crônica “Falha Humana”, parte da coletânea Adulterado (Moderna, 2009), que reúne os textos do autor da época em que ele publicava na revista Capricho.
Sempre pensei muito sobre quem eu seria hoje se tivesse um smartphone ainda na época da escola, quando tudo era tão chato e eu tinha tanta urgência em ser alguém. Será que conseguiria, 10 anos depois, navegar entre essas duas versões de mim, ou elas seriam uma só? Na Idade Média ou na Idade da Pedra¹, o que entendemos como Eu era diferente do que pensamos sobre o tema hoje, e é de se esperar que o conceito continue mudando com o tempo, com a História e com o mundo, e a internet - a evolução da nossa relação com a internet - já é e vai ser cada vez mais um componente importante dessa dinâmica.
Observo meus primos gen z - de 18 e 15 anos - e estranho a forma como eles conversam, o timing das piadas, a cadência da fala que não remete ao lugar que eles moram, mas ao #conteúdo que eles consomem e a partir do qual se definem. Observo os dois e quase consigo enxergar por trás daquela performance inconsciente os filtros, os cortes de vídeo, a edição engraçadinha, as dez zilhões de referências a algum meme que perdi.
Não acho que eles estão forçando, acho que eles são assim. Main character vibes.
Isso já me incomodou bastante, mas acho que é só inveja da maneira orgânica com que eles navegam entre esses dois universos enquanto sou obrigada a conviver com vozes das minhas diferentes personas brigando dentro da minha cabeça, negociando incansavelmente os termos de uma existência mediada.
Diferentes fotos de Bo Burnham inspiradas pela estética do Instagram de uma garota branca
Antes que você desista desse texto por achar que estou entrando em uma discussão filosófica demais, acho que é hora de dizer que só comecei a pensar em tudo isso porque estou em crise com meu cabelo. Descobri recentemente que as plataformas de videoconferência invertem nossa imagem na hora de apresentá-la aos outros participantes, de modo que aquela imagem que enxergamos aparece espelhada do outro lado. Li vários artigos que tentam explicar o fenômeno (alguns até dizem que não é bem assim que funciona), mas sou de humanas e não entendi direito. O que sei é que um dia uma colega de trabalho compartilhou sua tela e pude me ver da forma como ela me via e isso acabou comigo.
Percebi que meu cabelo, que uso partido para a esquerda desde a adolescência, estava virado para o lado direito. Isso significa significa que há meses venho aparecendo em reuniões todos os dias oferecendo ao mundo o meu lado ruim.
Telas sobrepostas que mostram uma mesma imagem do Bo Burnham olhando para si mesmo na tela do computador (com o cabelo jogado para a esquerda)
O lado ruim é aquele que a gente disfarça nas fotos. Você pega a câmera para tirar uma selfie e automaticamente inclina a cabeça para destacar o seu lado bom e esconder o lado ruim. Em fotos de grupo, você provavelmente já pediu para trocar de lado com alguém porque “esse lado não me favorece” - e todo mundo entende imediatamente o que você quis dizer, porque todo mundo também tomou o cuidado de se posicionar privilegiando seu lado bom.
O seu lado bom muito provavelmente é que o lado para onde seu cabelo está partido. Eu lembro que no início da adolescência essa virada de cabelo era uma espécie de rito de passagem: você joga o cabelo pro lado e de repente não é mais criança. Se você é da minha geração e foi emo, indie ou usa drogas desde cedo, o cabelo de lado (ou a franja) era também uma forma de se posicionar como alguém diferente dos outros colegas de escola, alguém muito mais legal. É claro que ninguém pensava isso, mas era uma ilusão gostosa.
Minha primeira foto de perfil no Facebook, direto de 2010, mostra uma Anna Vitória aos 16 anos usando batom vermelho, delineador e os cabelos jogados para o lado. Eu não era daquele jeito todos os dias, mas era como eu gostaria de ser.
Fun fact: vejo essa foto e acho que pareço muito mais velha do que sou hoje, 11 anos depois
Poucas coisas são tão potentes quanto o cabelo para promover a mais genuína performance de interioridade² que podemos oferecer ao mundo. E é aí que volto às ideias do início do texto, porque a ligação entre millennials e o cabelo partido de lado me parece uma relação de causa e consequência entre crescer preso entre essas duas esferas da vida, a sua identidade e maneira como você comunica essa identidade online. A consciência do lado bom do rosto mostra, na verdade, uma consciência do artifício que existe na existência mediada, e da forma como estamos ativamente tentando usá-lo ao nosso favor como forma de construir nossas Marcas Pessoais. Mico.
Percebi que todos os comportamentos tipicamente millennial que são ridicularizados pelos gen z têm isso em comum: eles deixam evidente que estamos pesando a mão no teatro da identidade, seja na performance do Adulto de Verdade que paga contas e toma cerveja no boteco no fim do expediente - que também é uma performance romantizada de simplicidade para quem não sabe lidar com sua culpa burguesa - seja nas fotos estilizadas de nossos cafés da manhã e os R$60 por cabeça que pagamos na Vila Madalena por um brunch instagramável que nem é tão bom assim, mas que fica bonito na foto. Partir o cabelo pro lado é mostrar que carregamos essa autoconsciência sobre nossas cabeças o tempo inteiro, é como nos vestimos de manhã para existir na internet. Literalmente.
[Talvez eu esteja indo longe demais, mas em uma cronologia dedicada ao tema das linhas capilares realizada pela revista Town & Country (dentre todas as publicações), observei um padrão interessante: antes dos anos 2000, o cabelo partido pro lado era um visual que remetia às estrelas da antiga Hollywood. Coincidência ou não, foi nessa época que surgiu a mídia de massa e aquelas mulheres passaram a ser mais vistas do que nunca - saber qual seu lado bom e usá-lo a seu favor era coisa séria. Mas, novamente, divago.]
Bo Burnham usando o celular usando uma camiseta com a imagem de Bo Burnham
Tudo isso não significa que os gen z estão imunes a esses males, tampouco são capazes de acessar um jeito mais autêntico de existir, se é que isso existe. Mas a relação que eles estabelecem com essa performance é outra. Penso muito na forma como a Billie Eilish se apresenta: num primeiro momento, escondendo ao máximo o próprio corpo e reivindicando para si um lugar diferente daquele onde são colocadas artistas brancas, jovens e bonitas como ela - só para depois subverter o conceito por completo, abraçando uma performance de feminilidade quase caricata, que também consegue mantê-la blindada dos olhares predatórios porque não entrega ao público o que ela é de verdade, mas uma imagem perfeitamente manipulada para atender a essa expectativa.
Em um texto sobre o tema, Haley Nahman fala sobre a diferença entre a estética do TikTok e do Instagram, um paralelo que expressa bem o contraste geracional entre essas duas experiências de performance. Para mim, é a diferença entre as confissões de insegurança da Olivia Rodrigo e o delírio claustrofóbico do Bo Burnham em Inside: enquanto uma mostra a ruptura com essas imagens idealizadas e brinca com esses artifícios, o outro navega pelas mesmas questões, mas sem o distanciamento ou o pertencimento ao simulacro necessários para não enlouquecer no processo.
Nós, millennials, jogamos o cabelo para o lado e acreditamos que ninguém mais está vendo que estamos calculando a imagem que queremos mostrar pro mundo. A gente quer muito ser aquela pessoa que só possui um único lado bom do outro lado da tela, a gente precisa que os outros acreditem nela e entramos em crise com o que isso pode significar. Enquanto isso, bem, os gen z partem o cabelo no meio - em parte para se distanciar da nossa hipocrisia, mas também porque o visual simétrico ajuda quem está sendo visto de todos os ângulos e sabe disso.
Minha amiga pessoal e consultora zillennial Barbara Reis (23 anos) chamou essa dinâmica de teatro da autoconsciência. A performance por cima da performance é tudo que eles conhecem, e de alguma forma essa é a realidade. Vamos aguardar a crise que vai emergir disso daqui alguns anos.
Qualquer forma de vida pública é uma performance, mas como escreve Jia Tolentino no primeiro ensaio de Falso Espelho³, a vida online não permite bastidores e nossa audiência é ilimitada. No mesmo ensaio, mas em outro contexto, ela diz que uma arquitetura que gira em torno dos perfis pessoais faz com que fiquemos “acorrentados a nossas versões virtuais”. E num contexto em que, para muitos de nós, todo o trabalho, lazer e sociabilidade foi transferido para o meio virtual por motivos de força maior, aquela main character energy não tem mais descanso e é cada vez mais tudo o que teremos a oferecer. “A internet é regida por incentivos que fazem com que seja impossível sermos pessoas inteiras ao interagirmos com ela. No futuro, seremos inevitavelmente menores.”, ela escreve.
Menores, porém mais histriônicos, eu diria. Vejo esse estado de mania ganhar força sempre que vejo alguém fazendo planos para Depois; é tudo um spin-off de reality show em que os participantes vão para Las Vegas, e isso me angustia. Mas talvez eu só esteja com medo de enfrentar novamente o universo caótico que existe do lado de fora da minha câmara de eco.
Bo Burnham sentado nu em frente ao seu teclado, iluminado apenas por um holofote
Por um momento, achei que voltar a ter um emprego formal me reconectaria de alguma forma com uma existência compartilhada, externa, enraizada no chão e fora da minha cabeça. Foram mais de 12 meses não só trancada em casa, mas também trabalhando sozinha, na maior parte do tempo imersa em questões teóricas com pouca materialidade.
É verdade que tem me feito muito bem ter colegas de novo, poder criar em equipe, ter com quem dividir minhas dúvidas, trocar opiniões e jogar conversa fora por 10 minutos depois da reunião diária. No entanto, ver todos os elementos da minha vida girarem em torno de algo que só existe dentro da tela do computador tem me deixado cada dia mais claustrofóbica. É um cansaço que não passa, e a explicação vai muito além da Fadiga de Zoom, embora eu também esteja cansada de sorrir e performar tudo quanto é tipo de linguagem não-verbal. Sinto que estou encolhendo.
Não sei como resolver isso, não sei como vai ser depois, não sei se o que escrevi faz sentido. Só comecei esse texto porque estou em crise com meu cabelo, e acho que a única forma de resolvê-la é criando coragem para parti-lo no meio.
¹ Muitas pessoas me perguntam sobre meu processo de escrita e acho sempre muito difícil explicar simplesmente porque ele é completamente imprevisível. Mas fiz algo nesse texto que pode ajudar a ilustrar a loucura toda: enquanto escrevia, lembrei de conversas que eu e a Clara tivemos sobre esse tema anos atrás. Mergulhei no nosso histórico do Whatsapp e descobri que em 2016 a Identidade Millennial era basicamente o nosso único assunto. Esse parágrafo todo, especificamente, veio da conversa com ela. De alguma forma, essas ideias estão fermentando desde então, mas precisaram de alguns anos e um debate geracional ridículo - e um tuíte sobre o tema - para que eu conseguisse articular.
Se estivéssemos em 2014 eu mandaria um pitch pro Buzzfeed com o hot take da relação entre a guerra cultural a respeito do jeito de partir o cabelo dos millennials e gen z e a familiaridade de cada geração com chamadas de vídeo
(pandemia ano 2, dia 419)
² “Performance de interioridade” também é um termo cunhado pela Clara, em uma conversa nossa de 2018. Eu acho ele bom demais pra simplesmente jogar no texto sem dar os devidos créditos. A gente realmente não tem outro assunto.
³ Voltei ao livro da Jia Tolentino para escrever esse texto, que é algo que sempre faço quando vou escrever qualquer coisa sobre internet desde o ano passado. Nem é que ela esteja dizendo algo inédito ou que sua visão seja perfeita e definitiva, mas ela faz muito bem um negócio muito difícil que é oferecer um vocabulário para descrever uma série de fenômenos da internet, e isso faz uma baita diferença pra gente que está sempre pensando sobre essas coisas. É muito difícil escrever sobre internet porque uma escolha errada de palavra pode transformar uma reflexão boa em um take muito burro, como a maioria dos que li sobre o debate em torno do c***g*. Então, obrigada Jia. Se meu take for burro, por favor não me contem.
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Dever de Casa
Coisas para ler, ouvir e assistir nos próximos dias
-Eu sei que disse que escrevi esse texto porque não aguento mais cabelo (dentre outras coisas) e é verdade, mas ele também é uma forma de compartilhar um pouco do que pensei assistindo Inside, especial do Bo Burnham pra Netflix. Quase não falei sobre ele, mas não teria conseguido escrever sem aquela hora e meia de delírio e desespero.
Esse texto do Charlie Warzel (que assina uma newsletter muito boa sobre internet, a Galaxy Brain) foi a coisa mais legal que li sobre o tema, e foca na melhor música do especial, que recomendo muito como bibliografia complementar.
Welcome to the Internet - Bo Burnham (from "Inside" -- ALBUM OUT NOW)
-Outra reflexão análoga que não coube aqui, mas acho que pode interessar diz respeito a relação entre performance e o feminino. A Jia Tolentino fala sobre isso em “O eu na internet” e acho um complemento interessante ao recorte de gênero nas discussões sobre fadiga de Zoom (fiz um resumo do estudo nesse post da firma, é gostoso demais emplacar Meus Temas no trabalho).
A misoginia incorporada à trollagem, em especial, reflete a maneira como as mulheres - que, como escreveu John Berger, sempre foram obrigadas a manter uma consciência externa de sua própria identidade - geralmente navegam nessas condições online de forma muito lucrativa. É a autocalibração que, conforme aprendi como menina e mulher, me ajudou a capitalizar o fato de “ter que” estar online. Minha única experiência no mundo foi essa em que o apelo pessoal é primordial e a autoexposição é incentivada; esse paradigma legitimamente infeliz, incorporado primeiro pelas mulheres e agora generalizado a toda internet, é justamente o que os trolls detestam e repudiam.
-Como hoje é dia do rock e estamos falando de cabelo, talvez seja o momento de lembrar que em janeiro eu atualizei minha cronologia capilar do Alex Turner e aproveitei para pensar sobre o futuro do indie;
-O Rodrigo Ghedin, do Manual do Usuário, está fazendo um trabalho heroico de manter um diretório sempre atualizado de newsletter brasileiras. A melhor coisa foi descobrir a No Recreio listada lá antes mesmo que eu tivesse a chance de mendigar um espacinho, foi uma baita honra. Para quem está atrás de coisa boa pra ler, recomendo muito dar uma olhada na lista.
-Decidi deixar a editoria “disco da vez” para o Trash Advisor, mas ando tão apaixonada por esse álbum da bandinha Babehoven que vou deixar aqui caso você esteja atrás de um #som #gostoso para curtir ao longo da semana. O cachorro que aparece na capa do disco e dos singles é o antídoto perfeito para todo e qualquer desgraçamento provocado pela Condição Online. A internet pode ser legal também.
Lavar o cabelo né meninas
É hora de dar tchau
Obrigada pela companhia em mais um recreio. Se quiser falar comigo, compartilhar alguma reflexão ou angústia existencial, é só responder esse e-mail como uma mensagem normal. Você também me encontra no me dar um alô no Twitter, no Instagram ou noCurious Cat.
Se cuidem, cuidem dos seus, e é claro, stay beautiful!
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Por anna vitória
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Curadoria cuidadosa de anna vitória via Revue.
na pior cidade da américa do sul, brazil