Cai nessa edição da news super por acaso. Aquela história de um link que leva a outro e a outro e de repente vc chegou na deepweb. Enfim, comecei despretensiosamente a ler seu texto e agora preciso lidar com a terrível sensação de COMO PODE NENHUMA EXPERIÊNCIA DO MUNDO SER INDIVIDUAL? Como pode todas as nossas referências serem EXATAMENTE as mesmas. TODOS os pensamentos que passaram na sua cabeça já terem passado exatamente iguais na minha? Aquela história de que pra entender um tweet da escriba do umbral precisa ser muito cronicamente online (e como sei que nenhuma experiência é individual e nossas mentes foram permanentemente danificadas de maneira muito semelhante, sei que você conhece a escriba do umbral), pra entender essa news precisa muito ter nascido no final dos anos 90 e lido capricho na infância e adolescência e seguido blogs de moda e ter sido obcecada por blogueiras e ter feito um curso superior de humanas e trabalhar com algo da economia criativa que envolva a internet. E no final de tudo ainda precisa ter lido Elena Ferrante e ter tido a vida mudada um pouquinho por isso.
Me traz algum alívio pensar no seu conforto em ler Walter Benjamin, porque todas as minhas tentativas de ler “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica” me fizeram questionar se eu realmente havia sido alfabetizada. Talvez exista sim uma ou outra experiência autêntica, afinal. Embora sei de muita gente que não consiga entender uma única linha de Benjamin também.
Enfim, obrigada por ter colocado em palavras todas as angústias que me afligem vez em sempre. E venho do outro lado do mundo (uma breve vida sem redes sociais) dizer que as coisas quase, apenas quase, parecem ter mais aura quando não somos bombardeados com fotos, tweets, filtros e tiktoks dos melhores lugares para conhecer na cidade X.
oi Anna, acabei de conhecer sua newsletter por indicação da Bárbara do queria ser grande e meu deus, que reflexão foi essa garota! bateu forte a identificação e me botou em um ciclo de reflexões profundas aqui... wow! e além disso, tanta dica boa, meu deus como é bom não se sentir sozinha no meio do caos.. esse role da aura, simm, eu sinto mto isso mas não tinha colocado em palavras, é tão pesado quando a nossa perspectiva muda, e também ainda estou no processo de ver se dá pra ressignificar numa realidade onde tudo parece tão corrompido... e já anotei a dica "leia teóricos anticapitalistas putos com o estado das coisas e durma em paz sabendo que tem alguém com raiva de tudo isso além de você.", tá sendo necessário. obg ❤
anna, acabei de ler seu texto porque apareceu um tweet seu e eu curti pensando 'nossa, é a anna, do blog!1!1'.
sim, te conheço desde a época do blog, mas acho que nunca cheguei a comentar em algum post. a verdade é que quase sempre acho difícil ler um texto seu porque eu simplesmente me identifico demais e nem sempre eu tô preparada para sentir identificação dessa proporção sobre assuntos que me tocam tanto. é mais fácil fingir que aquilo não existe.
dessa vez, entretanto, continuei lendo até o fim, atravessando a proximidade que senti com o que você descreveu (tão bem) e tudo o que eu queria nesse momento era tomar coca-cola contigo no recreio.
escrevo na internet desde os treze anos. hoje tenho 28. essa sensação que você escreveu me acompanha há muito tempo e eu nunca soube dar nome a ela. ficava me perguntando 'pq simplesmente eu não abandono meu eu-na-internet e viro, sei lá, aqueles amigos que só aparecem no instagram quando são marcados em fotos aleatórias?'.
embora eu acompanhe pessoas muito legais nas redes (que compartilham disso que você e eu sentimos), em geral acho muito solitário estar aqui. é estranho ter essa vontade de estar no mundo online, compartilhando as coisas que gosto, justamente porque também não consigo me adaptar (e nem sempre tentei) (ainda bem) ao que a internet virou. ano passado eu pirei e simplesmente excluí uns 500 seguidores do meu instagram porque eu não fazia ideia de quem eram aquelas pessoas e, em seguida, deixei o perfil privado. mas, conforme o tempo foi passando, fui me sentindo meio bloqueada das coisas porque vira e mexe eu queria marcar o perfil-da-moça-que-faz-tapete-artesanal-e-poxa-eu-comprei-e-queria-divulgar-o-trabalho-dela ou qualquer coisa parecida que o perfil privado impedia fazer. aos poucos fui sentindo falta de ver gente desconhecida falando que leu um texto meu na legenda de um post e se identificou.
uma chavinha virou (bem de leve) quando meu namorado disse que tava com saudades de me ver falando nos stories. fazia meses que eu não me gravava mais falando sobre coisas da vida (coisas que não consigo categorizar, outro ponto que sempre fez eu me sentir deslocada por aqui). e eu questionei ele (que é um cara superrrr offline, nunca posta nada - não porque se priva, mas pq simplesmente isso não passa pela cabeça dele). lembro de ter falado 'sério que vc gostava? eu postava, sei lá, 5 stories e pensava NOSSA ME EXPUS!!! FLODEI A TIMELINE DA RAPAZIADAH'. e ele respondeu que ele gostava porque, diferente de muita gente que ele seguia, eu era uma das únicas que ele de fato parava pra ouvir. e eu comecei a lembrar que muita gente (amigos e desconhecidos) já havia dito o mesmo pra mim: que gostava de me acompanhar na internet porque se identificava comigo ou porque gostava de ver eu recortar coisa bonita da rotina e transformar em story de filtro vintage e música do arcade fire. simples assim.
isso sempre causou conflito em mim porque morro de medo de ser uma personagem. mas ao mesmo tempo fico me perguntando se tem como fugir disso, mesmo fora da internet. enfim, ~~divagações~~. bom, eu sempre acreditei que fugia disso, mas ao mesmo tempo algo me diz que eu não fugia tanto assim, que no fundo eu gostava de ser a menina do coque frouxo tomando capuccino e lendo um livro da jane austen na cafeteria. e acho que, no fundo, ainda gosto.
parece que essas angústias existenciais que eu sinto sobre mim na internet não fazem sentido pras pessoas que constituem minha vida (vide esse diálogo com meu namorado). enquanto eu to preocupada em parecer 'mais uma menina que indica cafeterias legais em sp pra ir ler um livro' meus colegas e amigos (e desconhecidos rs) tão me mandando mensagem pedindo indicação de cafeteria legal em sp pra ir ler um livro, pq eles me enxergam como essa referência. e por mais que eu tente ignorar isso e me esforçar pra não me destacar de algum jeito, meu namorado me lembra que meus filmes favoritos são medianeras e frances ha.
tenho tentado abraçar mais essa pessoa que no fundo eu gosto de ser. acho que o choque maior é ver que, na minha micro-bolha da internet, as coisas que eu gosto (e que me inspiravam há tempos atrás) hoje estão sendo reproduzidas sem profundidade (me sinto tosca falando isso, mas enfim. acho que você entende).
só queria terminar esse comentário IMENSO dizendo que, mesmo na internet, você é uma pessoa que gosto de acompanhar. não te conheço fora daqui, mas conheço um pouco do que você divide com quem tá aqui e eu gosto disso que vejo, sabe? e ler seu texto me fez sentir menos sozinha.
É, Annoca. Me identifico com o seu mau-estar. Tem tanta coisa que me incomoda que eu não consigo nem começar a pontuar, como você fez aqui. A sociedade atual faz pouco sentido e muita coisa ficou gasta depois da pandemia, com o excesso de telas e presença online. Sinto como se eu tivesse perdido algo essencial que eu não sei realmente dizer o que é. E acho que não quero muito saber o que foi, porque evito escrever textos pessoais a todo custo pra não colocar isso pra fora e não ter que viver esse luto.
Foram anos muito difíceis e os que estão por vir não são exatamente fáceis. Aproveite suas férias do jeito que lhe parecer melhor, amiga. Acho que seguir a intuição e a voz interior é sempre válido e dificilmente dá errado. ;)
Me identifico tanto com tantas coisas que você escreveu... talvez não haja mesmo mais espaço pra nostalgia e voltar pro que era antes não seja opção, mas quem sabe conversando sobre isso a gente não acaba inventando um novo jeito de existir nesse mundo que parece não querer mais sair da superfície e nesse catálogo de vendas gigante que virou a internet. Eu ainda acredito rs. Agradeço pela reflexão <3
rindo de mim mesma que sou feminista vegetariana realmente bebendo café sem açúcar no presente momento. falei outro dia pro meu namorado como nada tem aura. moro no sul da california, onde os lugares são todos um le café com chocolá mas vibe surfista? mas o que arregaça mesmo é o app yelp -- faz até a comida perder a aura porque antes de fazer a escolha no cardápio, se olha as fotos de todos os pratos que outras pessoas tiraram e botam no perfil do restaurante. zuadasso. também uso batom vermelho e vou em festival de música fazer o quê às vezes somos clichês umas das outras (aparentemente, especialmente quando made in fflch rs).
que maravilhoso o seu texto, parabéns, fica aqui minha contribuição para sua micro dopamina
Cai nessa edição da news super por acaso. Aquela história de um link que leva a outro e a outro e de repente vc chegou na deepweb. Enfim, comecei despretensiosamente a ler seu texto e agora preciso lidar com a terrível sensação de COMO PODE NENHUMA EXPERIÊNCIA DO MUNDO SER INDIVIDUAL? Como pode todas as nossas referências serem EXATAMENTE as mesmas. TODOS os pensamentos que passaram na sua cabeça já terem passado exatamente iguais na minha? Aquela história de que pra entender um tweet da escriba do umbral precisa ser muito cronicamente online (e como sei que nenhuma experiência é individual e nossas mentes foram permanentemente danificadas de maneira muito semelhante, sei que você conhece a escriba do umbral), pra entender essa news precisa muito ter nascido no final dos anos 90 e lido capricho na infância e adolescência e seguido blogs de moda e ter sido obcecada por blogueiras e ter feito um curso superior de humanas e trabalhar com algo da economia criativa que envolva a internet. E no final de tudo ainda precisa ter lido Elena Ferrante e ter tido a vida mudada um pouquinho por isso.
Me traz algum alívio pensar no seu conforto em ler Walter Benjamin, porque todas as minhas tentativas de ler “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica” me fizeram questionar se eu realmente havia sido alfabetizada. Talvez exista sim uma ou outra experiência autêntica, afinal. Embora sei de muita gente que não consiga entender uma única linha de Benjamin também.
Enfim, obrigada por ter colocado em palavras todas as angústias que me afligem vez em sempre. E venho do outro lado do mundo (uma breve vida sem redes sociais) dizer que as coisas quase, apenas quase, parecem ter mais aura quando não somos bombardeados com fotos, tweets, filtros e tiktoks dos melhores lugares para conhecer na cidade X.
oi Anna, acabei de conhecer sua newsletter por indicação da Bárbara do queria ser grande e meu deus, que reflexão foi essa garota! bateu forte a identificação e me botou em um ciclo de reflexões profundas aqui... wow! e além disso, tanta dica boa, meu deus como é bom não se sentir sozinha no meio do caos.. esse role da aura, simm, eu sinto mto isso mas não tinha colocado em palavras, é tão pesado quando a nossa perspectiva muda, e também ainda estou no processo de ver se dá pra ressignificar numa realidade onde tudo parece tão corrompido... e já anotei a dica "leia teóricos anticapitalistas putos com o estado das coisas e durma em paz sabendo que tem alguém com raiva de tudo isso além de você.", tá sendo necessário. obg ❤
anna, acabei de ler seu texto porque apareceu um tweet seu e eu curti pensando 'nossa, é a anna, do blog!1!1'.
sim, te conheço desde a época do blog, mas acho que nunca cheguei a comentar em algum post. a verdade é que quase sempre acho difícil ler um texto seu porque eu simplesmente me identifico demais e nem sempre eu tô preparada para sentir identificação dessa proporção sobre assuntos que me tocam tanto. é mais fácil fingir que aquilo não existe.
dessa vez, entretanto, continuei lendo até o fim, atravessando a proximidade que senti com o que você descreveu (tão bem) e tudo o que eu queria nesse momento era tomar coca-cola contigo no recreio.
escrevo na internet desde os treze anos. hoje tenho 28. essa sensação que você escreveu me acompanha há muito tempo e eu nunca soube dar nome a ela. ficava me perguntando 'pq simplesmente eu não abandono meu eu-na-internet e viro, sei lá, aqueles amigos que só aparecem no instagram quando são marcados em fotos aleatórias?'.
embora eu acompanhe pessoas muito legais nas redes (que compartilham disso que você e eu sentimos), em geral acho muito solitário estar aqui. é estranho ter essa vontade de estar no mundo online, compartilhando as coisas que gosto, justamente porque também não consigo me adaptar (e nem sempre tentei) (ainda bem) ao que a internet virou. ano passado eu pirei e simplesmente excluí uns 500 seguidores do meu instagram porque eu não fazia ideia de quem eram aquelas pessoas e, em seguida, deixei o perfil privado. mas, conforme o tempo foi passando, fui me sentindo meio bloqueada das coisas porque vira e mexe eu queria marcar o perfil-da-moça-que-faz-tapete-artesanal-e-poxa-eu-comprei-e-queria-divulgar-o-trabalho-dela ou qualquer coisa parecida que o perfil privado impedia fazer. aos poucos fui sentindo falta de ver gente desconhecida falando que leu um texto meu na legenda de um post e se identificou.
uma chavinha virou (bem de leve) quando meu namorado disse que tava com saudades de me ver falando nos stories. fazia meses que eu não me gravava mais falando sobre coisas da vida (coisas que não consigo categorizar, outro ponto que sempre fez eu me sentir deslocada por aqui). e eu questionei ele (que é um cara superrrr offline, nunca posta nada - não porque se priva, mas pq simplesmente isso não passa pela cabeça dele). lembro de ter falado 'sério que vc gostava? eu postava, sei lá, 5 stories e pensava NOSSA ME EXPUS!!! FLODEI A TIMELINE DA RAPAZIADAH'. e ele respondeu que ele gostava porque, diferente de muita gente que ele seguia, eu era uma das únicas que ele de fato parava pra ouvir. e eu comecei a lembrar que muita gente (amigos e desconhecidos) já havia dito o mesmo pra mim: que gostava de me acompanhar na internet porque se identificava comigo ou porque gostava de ver eu recortar coisa bonita da rotina e transformar em story de filtro vintage e música do arcade fire. simples assim.
isso sempre causou conflito em mim porque morro de medo de ser uma personagem. mas ao mesmo tempo fico me perguntando se tem como fugir disso, mesmo fora da internet. enfim, ~~divagações~~. bom, eu sempre acreditei que fugia disso, mas ao mesmo tempo algo me diz que eu não fugia tanto assim, que no fundo eu gostava de ser a menina do coque frouxo tomando capuccino e lendo um livro da jane austen na cafeteria. e acho que, no fundo, ainda gosto.
parece que essas angústias existenciais que eu sinto sobre mim na internet não fazem sentido pras pessoas que constituem minha vida (vide esse diálogo com meu namorado). enquanto eu to preocupada em parecer 'mais uma menina que indica cafeterias legais em sp pra ir ler um livro' meus colegas e amigos (e desconhecidos rs) tão me mandando mensagem pedindo indicação de cafeteria legal em sp pra ir ler um livro, pq eles me enxergam como essa referência. e por mais que eu tente ignorar isso e me esforçar pra não me destacar de algum jeito, meu namorado me lembra que meus filmes favoritos são medianeras e frances ha.
tenho tentado abraçar mais essa pessoa que no fundo eu gosto de ser. acho que o choque maior é ver que, na minha micro-bolha da internet, as coisas que eu gosto (e que me inspiravam há tempos atrás) hoje estão sendo reproduzidas sem profundidade (me sinto tosca falando isso, mas enfim. acho que você entende).
só queria terminar esse comentário IMENSO dizendo que, mesmo na internet, você é uma pessoa que gosto de acompanhar. não te conheço fora daqui, mas conheço um pouco do que você divide com quem tá aqui e eu gosto disso que vejo, sabe? e ler seu texto me fez sentir menos sozinha.
obrigada por ter escrito ♥
É, Annoca. Me identifico com o seu mau-estar. Tem tanta coisa que me incomoda que eu não consigo nem começar a pontuar, como você fez aqui. A sociedade atual faz pouco sentido e muita coisa ficou gasta depois da pandemia, com o excesso de telas e presença online. Sinto como se eu tivesse perdido algo essencial que eu não sei realmente dizer o que é. E acho que não quero muito saber o que foi, porque evito escrever textos pessoais a todo custo pra não colocar isso pra fora e não ter que viver esse luto.
Foram anos muito difíceis e os que estão por vir não são exatamente fáceis. Aproveite suas férias do jeito que lhe parecer melhor, amiga. Acho que seguir a intuição e a voz interior é sempre válido e dificilmente dá errado. ;)
Me identifico tanto com tantas coisas que você escreveu... talvez não haja mesmo mais espaço pra nostalgia e voltar pro que era antes não seja opção, mas quem sabe conversando sobre isso a gente não acaba inventando um novo jeito de existir nesse mundo que parece não querer mais sair da superfície e nesse catálogo de vendas gigante que virou a internet. Eu ainda acredito rs. Agradeço pela reflexão <3
rindo de mim mesma que sou feminista vegetariana realmente bebendo café sem açúcar no presente momento. falei outro dia pro meu namorado como nada tem aura. moro no sul da california, onde os lugares são todos um le café com chocolá mas vibe surfista? mas o que arregaça mesmo é o app yelp -- faz até a comida perder a aura porque antes de fazer a escolha no cardápio, se olha as fotos de todos os pratos que outras pessoas tiraram e botam no perfil do restaurante. zuadasso. também uso batom vermelho e vou em festival de música fazer o quê às vezes somos clichês umas das outras (aparentemente, especialmente quando made in fflch rs).