16 Comentários
Avatar de User
Avatar de Caroline Mendes

Seu texto me tocou profundamente porque tenho cada vez mais certeza que nossas dores em procedimentos ginecológicos não são levadas a sério justamente porque somos mulheres. Da primeira vez, um ginecologista mais velho, que consultava parte das mulheres da minha família, me disse que teria de fazer uma cauterização e, sem me avisar, colocou o ácido para fazer o procedimento. Na mesma hora, meus olhos encheram de lágrimas com a dor totalmente inesperada. Ele viu e disse: "ah, vai chorar? nem dói assim". Da segunda vez, já com outra médica, precisei fazer uma biopsia do útero. Mais uma vez uma dor alucinante (estão retirando UM PEDAÇO DO ÚTERO!) e ela não conseguiu pinçar um tamanho suficiente. Quando foi tentar de novo ela me perguntou se eu queria uma anestesia. Como assim, essa possibilidade EXISTIA?? De verdade, a nossa dor não é levada a sério. Se qualquer um desses procedimentos fossem feitos em homens, os caras teriam direito à anestesia geral e duas semanas de atestado...

Expand full comment
Avatar de Thaís Ferraz

Me senti especialmente contemplada nesse texto (belissimamente escrito). Eu também fui uma criança que ~não teria sisos~, até que aos 20 e poucos anos, brotou uma dor horrorosa na minha mandíbula esquerda e lá estava ele, o filho único que não tinha sido prometido. Me senti traída pela minha anatomia, principalmente por ter resistência a anestesia em geral (5 cirurgias na vida e a gente descobre rapidinho que isso é possível), o que fez do procedimento uma experiência muito mais assustadora (depois do máximo possível de anestesia aplicada, eu ainda sentia dor e não tinha o que fazer, o dentista tirou o dente no “cru” mesmo e eu que lutasse com o inchaço e dor depois).

Expand full comment
Avatar de Ivy
Mar 21Editado

Eu AMO ouvir (e ler) pessoas falando sobre seus corpos, meu conversation starter favorito é perguntar sobre cicatrizes, sempre rende boas histórias. Isso pode ter relação com as inúmeras doenças crônicas que me afligem, e ter tido que fazer as pazes com o fato de que o médico deixou de ser a pessoa que resolve o problema com um remédio e se tornou um companheiro pra vida. É um tópico que brilha bastante na terapia.

Fiquei deveras triste em saber que a gineco do seu texto é de Uberlândia, mas aproveito para perguntar se você sabe de alguma médica da Oya dedicada a perimenopausa. Do alto dos meus quase 40 anos, me encontro meio apavorada com os relatos das GenXers sobre a dificuldade para achar alguém que leve a sério os sintomas e tratamentos para a perimenopausa. Parar de tomar anticoncepcional 10 anos atrás foi uma saga semelhante à sua com o DIU (porque eu ~teoricamente~ tinha SOP, história longa demais para uma seção de comentários), e meu instinto diz que a perimenopausa será uma jornada parecida, se não pior, então estou sofrendo por antecipação.

Expand full comment
Avatar de Larissa

Seu texto me lembrou muito o livro "Dentes" do Domenico Starnone, e bem, o nome já é autoexplicativo pra obsessão do personagem.

Sigo criando coragem pra colocar o DIU (exatamente pelo medo do procedimento). Me deu um pouco mais de coragem por aqui. :)

Um abraço!

Expand full comment
Avatar de Mayra Sousa Resende

Amei esse texto e fiquei refletindo como é incrível que você mantenha um léxico rebuscado mesmo fora da academia e continue a escrever tão gostoso que dá vontade de passar horas conversando (pq eu leio tudo com a sua voz, óbvio) sobre dentes e sendo feliz com isso. Sou sua fã d+ arrasou!!! (E por aqui rolou DIU com ultrassom + anestesia local e eu dormi no processo pq sou dorminhoca mesmo. Melhor decisão 10/10. Toda vez que penso em quem colocou sem anestesia tenho uma compaixão imediata rs AH e antes de eu ler que você tinha tirado 4 dentes permanentes quando era criança fiquei contando seus dentes e pensando "socorro tenho mais dentes que ela, será que tenho siso" e deu um leve desespero hehehe)

Expand full comment
Avatar de Mariana Gominho

tenho uma certa doidice/agonia por dentes porque meus pais têm vários faltando, em parte devido ao cigarro, e já tão quase em ponto de colocarem uma "chapa" (aquela velha dentadura)... desde nova cuido muito dos meus pq n quero ficar com vários buracos na gengiva quando crescer, rs. e o pesadelo que mais me dá aflição é justamente aquele em que perdemos dentes, vemos eles caírem de repente, isso sempre me acorda! felizmente faço o acompanhamento direitinho com uma antiga amiga minha (aliás, ex do meu ex-namorado rs).

quanto ao diu, coloquei a primeira vez em ambulatório e não senti tanto desconforto, mas de fato muita dor depois da implantação, dois dias de cólicas intensas... tirei, engravidei e, já na reta final, a um mês do parto aproximadamente, a obstetra me mostrou as opções que tinha quando passasse o temido "resguardo". ela mesma fez a colocação, com sedação geral, tudo coberto pelo plano, e eu tirei uma excelente soneca de 45 min (ouro em pleno puerpério). coloquei a versão hormonal, me dei super bem e só devo tirá-lo no meio do ano (3 anos, portanto) para encomendar meu segundo bebê. é um pouco constrangedor, tanto esse procedimento como aqueles exames ginecológicos, e geralmente fico indignada em como nos acostumamos a fazer estas coisas enquanto os homens raramente admitiriam tirar as roupas para que um médico examine seus "instrumentos de alegria" a cada seis meses.

(embora por isso mulheres vivam mais né?)

Expand full comment
Avatar de Tany Monteiro

amiga, eu fiquei com os meus dentes por um mês na minha mesa de cabeceira só pra lembrar de todo estresse e dor do meu pós operatório com direito a hemorragia e desmaio na sala do dentista de plantão. só joguei fora porque achei que nem tão cedo, ou nunca, iria lidar com os outros dois sisos. três anos se passaram e cá estou eu novamente precisando tirar dois últimos para ontem.

sempre maravilhoso te ler. obrigada por dividir esse dom conosco.

Expand full comment
Avatar de Thais Fabris

Obrigada por me ajudar a processar um monte de acontecimentos e violências ❤️

Expand full comment
Avatar de lett

adorei a edição! também tive que lidar com meus sisos na pandemia e fiz a loucura de arrancar os 4 de uma vez. realmente é muito rápido! mas depois, quando a anestesia passou, sentia tanta dor que não conseguia focar em mais nada, nem na televisão que eu tentava usar pra me distrair. foi sofrido. com o meu próprio diu de cobre, tive mais sorte. pude fazer num centro cirúrgico, anestesiada. o único problema foi que o anestesista em questão era o pai de uma amiga de escola minha. nunca mais fui na casa dela.

Expand full comment
Avatar de Alexandre Inagaki

Obrigado por ter compartilhado este relato que me fez ter uma conversa com minha namorada sobre climatério, reposição hormonal, DIU e outros assuntos que estão completamente ausentes da minha bolha masculina, e que me fizeram compreender um pouco mais os desafios de ser mulher nesta sociedade paternalista.

Expand full comment
Avatar de luisa pinheiro

nossa senhora, eu já tinha perdido a fé na humanidade durante a semana, mas acabei de recuperar toda a fé no mundo lendo este texto. pra começo de conversa eu AMO narrativas de siso. e fico aliviada de que foi tudo certo com a sua cirurgia. eu amei a expressão 'buxomaxilo rockstar' porque recentemente a conje tirou os quatro sisos de uma vez e ela depois contou que se sentiu num SPA DE DENTES (gostaria de poder dizer a mesma coisa da minha experiência rs)

feliz de ter contribuído com a cisma da minha mandíbula. também comecei a ver The Pitt e até já dei uma choradinha num dos episódios. agora vou ler esse texto da maybe baby!

Expand full comment
Avatar de Cecília Furtado

Anna, que texto incrível! Me identifiquei muuuito, também estou há algum tempo adiando a retirada dos meus sisos, pq esse procedimento dará início a uma série de outros procedimentos que não quero de jeito nenhum fazer Kkkkk

Também até já arranquei dois dentes permanentes (com 9 anos, e desses eu lembro da dor e do trauma até hoje). Resumindo, odeio dentes kkkkkkkkk

Expand full comment
Avatar de Larissa

Eu acho que retirar os sisos entre para o ranking de experiências que a gente NUNCA esquece na vida. Lembro como se fosse ontem daquela pressão que a gente sente da extração, que não configura exatamente como uma DOR e sim como um incômodo de SABER que algo está sendo feito na sua boca, seguida da queda da própria pressão, onde o consultório parece mais gélido do que realmente é. Lembro que eu tremi de frio. Lembro também que um dos meus sisos nasceu deitado, como se estivesse literalmente empurrando todos os outros dentes e precisou ser serrado rs. Foi caótico. Ainda me impressiona muito toda essa questão de ser uma cirurgia que você faz acordado, na sua boca, sendo uma EXTRAÇÃO e ainda assim não sentir nada. Viva a descoberta da anestesia.

Já a experiência do DIU, para mim, foi um desastre absoluto e na hora da pinçada eu senti uma dor aguda insuportável que não me permitiu continuar o procedimento: eu simplesmente expeli o dispositivo e fiquei traumatizada o resto da vida hehe Fico feliz que você foi adiante e fez questão de conversar com vários profissionais até achar uma alternativa.

Amei seu texto, Anna. Como sempre! Muito bom ter seus e-mails na caixa de entrada. Um respiro durante as semanas :)

Expand full comment
Avatar de Estela Rosa

Quando arranquei os dois sisos esquerdos, saí do consultório num luto esquisito, afinal eram só dois dentes. De lá pra cá enrolo pra tirar os outros dois. Seu texto me prendeu até o final e agora estou entre aliviada de entender melhor meu luto e envergonhada de não ter marcado a consulta pra arrancar os outros dois.

Expand full comment
Avatar de Luiza Leite Ferreira

Que texto! Muito bom como você conduz a sua narrativa pessoal e lá no meio traz essa grande questão do tratamento desigual das dores gerais e das dores exclusivamente femininas.Feliz que você pôde roubar seus dentes, o meu único siso saiu todo triturado, acabou ficando lá no consultório mesmo, mas ainda tenho (quase) todos os dentes de leite bem guardados.

Expand full comment
Avatar de LAIS

Adorei o texto, Anna. Compartilha o nome da gineco e do dentista, também sou de Udi

Expand full comment